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quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência





Você sabia que, em 21 de setembro, é comemorado e lembrado em todos os estados brasileiros o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência? Essa data foi instituída em 14 de julho de 2005, pela Lei Nº 11.133. Na verdade, ela começou a ser lembrada em 1982, por iniciativa de movimentos sociais. Acreditamos que divulgar e lutar pelas causas das pessoas com deficiência é um trabalho diário. No entanto, o 21 de setembro é muito importante como um marco, e pede a nossa reflexão e a busca por novas soluções. 

Este é o dia, também, em que as mais de 45,6 milhões de pessoas com deficiência, apontadas pelo Censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), devem colocar suas caras nas ruas ou mesmo nas redes sociais e reivindicar seus direitos.

Afinal, apesar das conquistas recentes, a desigualdade, a exclusão, o preconceito e a falta de acesso a serviços ainda continuam enormes.

Para evitar a exclusão, nada melhor que a informação. Conheça algumas das principais leis brasileiras que tratam sobre os direitos das pessoas com deficiência:

Lei Federal  nº 7.853, de 24/10/1989 – Estatuto da pessoa com deficiência – dispõe sobre a responsabilidades do poder público nas áreas da educação, saúde, formação profissional, trabalho, recursos humanos, acessibilidade aos espaços públicos, criminalização do preconceito.

Lei Federal  nº 8.213, 24/07/1991 – Lei de Cotas – dispõe que as empresas com 100 (cem) ou mais empregados devem empregar de 2% a 5% de pessoas com deficiência.

Lei Federal  nº 10.098, de 20/12/2000 – Direito à Acessibilidade – dispõe sobre acessibilidade nos edifícios públicos ou de uso coletivo, nos edifícios de uso privado, nos veículos de transporte coletivo, nos sistemas de comunicação e sinalização, e ajudas técnicas que contribuam para a autonomia das pessoas com deficiência.

Lei Federal nº 10.436, 24/04/2002, dispõe sobre  o reconhecimento da LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais para os Surdos.

Lei Federal 9.394/96 – Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – reconhece que a educação é um instrumento fundamental para a integração e participação de qualquer pessoa com deficiência no contexto em que vive. Está disposto nesta Lei que “haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial e que o atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. A legislação brasileira também prevê o acesso a livros em Braille, de uso exclusivo das pessoas com deficiência visual.

Lei Nº 4.169, de 4 de dezembro de 1962 – Oficializa as convenções Braille para uso na escrita e leitura dos cegos e o Código de Contrações e Abreviaturas Braille.

Direito ao passe livre – Os cidadãos com deficiência também possuem benefícios relacionados aos meios de transporte. A Lei 8.899/94, conhecida como Lei do Passe Livre, prevê que toda pessoa com deficiência tem direito ao transporte coletivo interestadual gratuito, e que cabe a cada estado ou município implantar programas similares ao Passe Livre para os transportes municipais e estaduais.

Lei Nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995 – Dispõe sobre a Isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como por pessoas com deficiência física, e dá outras providências. (Redação dada pela Lei Nº 10.754, de 31.10.2003)

Lei Nº 10.754, de 31 de outubro de 2003 – Altera a Lei Nº 8.989, de 24 de fevereiro de 1995 que “dispõe sobre a isenção do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI, na aquisição de automóveis para utilização no transporte autônomo de passageiros, bem como por pessoas com deficiência física e aos destinados ao transporte escolar, e dá outras providências”.

Lei Nº 11.126, de 27 de junho de 2005 – Dispõe sobre o direito da pessoa com deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia.

Lei Nº 12.319, de 1 de Setembro de 2010 – Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.

No Site externo, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PR, você ainda pode encontrar mais legislação relacionada às pessoas com deficiência.

Fonte: Guia “Pessoas com deficiência – direitos e deveres” Site externo, da Febraban

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

NASA disponibiliza pesquisas para download



Um dos grandes empecilhos da Ciência é que muito material produzido acaba nas mãos da máfia das revistas científicas, que cobram e caro pelo acesso. Não importa se você estiver por trás de uma Universidade, mas se for um pesquisador individual, se prepare. Vão cobrar US$ 30,00; às vezes US$ 50,00 pelo privilégio de ler um artigo.

Para piorar muitas dessas pesquisas são feitas com financiamento público. A Casa Branca baixou uma ordem para que essas pesquisas fossem disponibilizadas gratuitamente, e a NASA é uma das maiores fomentadoras.

Agora eles coletaram toneladas de papers e fizeram exatamente o que foi solicitado: é possível pesquisar e acessar o texto completo de trabalhos altamente esotéricos, alguns instigantes como um que achou evidência de antigos tsunamis… em Marte.

O repositório se chama PubSpace, é um subconjunto do PubMed. As pesquisas da NASA podem ser acessadas direto através deste filtro aqui.

Fonte: Science Alert.
http://meiobit.com/350051/nasa-disponibiliza-todas-as-suas-pesquisas-papers-para-download-gratis-pubspace-pubmed-sem-paywall/

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

52 MITOS POP - MENTIRAS E VERDADES



O homem pousou na Lua ou foi uma superprodução de Hollywood? Livro desvenda mitos pop


O jornalista Pablo Miyazawa se dedica a dissecar as mentiras e verdades do mundo da música e do cinema no livro “52 Mitos Pop - Mentiras e Verdades nos Boatos do Mundo do Entretenimento

A mágica começa quando o leão dos estúdios cinematográficos da Metro Goldwyn Mayer emite o terceiro rugido. É aí que se deve apertar o play, ou colocar a agulha, no início do disco “The Dark Side of The Moon” para se conhecer o mistério: o Pink Floyd compôs compasso por compasso de sua obra de 1973 para ser a trilha sonora do filme “O Mágico de Oz”, de 1939. Quando se vê o filme ouvindo o disco, um está milagrosamente casado com o outro. As batidas do coração do Homem de Lata são ouvidas no final da música Eclipse e a cena do furacão que leva a casa de Dorothy é envolvida pelo clima de “The Great Gig in the Sky”. Mito ou verdade?

Dia 2 de janeiro de 2008. O ator Heath Ledger é encontrado morto nu, entre remédios jogados na cama de seu apartamento em Nova York. O culpado: Coringa. Sim, o personagem interpretado por ele em “Batman - O Cavaleiro das Trevas” com uma das mais aterrorizantes entregas da história do cinema teria ficado em seu ser, perturbador, demoníaco. Os 30 dias em que Ledger passou trancado em um quarto testando vozes e expressões para chegar ao resultado perfeito quebraram os limites entre ator e personagem, fazendo com que o segundo devorasse o primeiro. O provável suicídio de Ledger seria a fuga de seu algoz. Fato ou imaginação?

Poltergeist, 1982. Cinco meses depois da estreia do filme dirigido por Tobe Hooper, a atriz Dominique Dunne, que interpretava a garota Dana, morreu estrangulada pelo ex-namorado. Até então, um crime isolado. Um tempo depois, três outras baixas, por doença: os atores Julian Beck, Will Sampson e a atriz Heather O’Rourke, que partiu aos 12 anos depois de estrelar o filme com seis. Em meio a outras mortes, uma chocou os sobreviventes: Lou Perryman, o Pugsley, foi assassinado a machadadas. Mas o mais improvável ocorreu com Richard Lawson, o personagem Ryan: um acidente de avião matou 27 pessoas e apenas uma sobreviveu. Quem? Richard Lawson. Onde os céticos veem coincidência, os mitólogos apontam a maldição. E levantam uma teoria sustentada há 34 anos. Os espíritos de Poltergeist não deixaram os atores em paz. Acredite se quiser.


Mitos flutuam no ar, mentiras têm pernas curtas. Histórias são alimentadas em cadeia, boatos são destroçados pelo vento. Mas mitos são mitos, nem sempre verdades. O jornalista Pablo Miyazawa entra em portais do tempo para dissecá-los e contextualizá-los sem cair nas tentações de confrontá-los no livro “52 Mitos Pop - Mentiras e Verdades nos Boatos do Mundo do Entretenimento”.

Homem na Lua

A cada episódio surge uma intriga do universo cultural, sobretudo de quem viveu sua adolescência nos anos 1980. Os atores Bruce Lee e seu filho, Brandon, teriam sido assassinados pela máfia chinesa depois de se negarem a fazerem “negócios” com os criminosos? Tom & Jerry teriam sido criados para espelharem os dois lados da Segunda Guerra Mundial: Tom representando os tommies (como se chamavam os soldados britânicos) e Jerry, os jerries, apelido dos alemães? Teria o diretor Quentin Tarantino planejado fazer todos os seus filmes interligando uns aos outros? E o diretor Stanley Kubrick? Seria ele o pai de todas as teorias conspiratórias ao filmar a fictícia chegada do homem à Lua, em 1969, fazendo com que o mundo acreditasse na conquista norte-americana?

Miyazawa não dá respostas definitivas, mas se posiciona e ajuda o curioso a fazer suas escolhas. “Seria pretensão demais querer responder a algumas questões históricas, como a que se faz sobre a chegada do homem à Lua. Meu trabalho foi expor todos os lados”, diz ele, próximo ao assunto desde que se tornou jornalista, em 1996, e começou a fazer curiosidade virar notícia. Sua teoria sem conspiração é sobre o fato de os grandes mitos terem surgido nos anos 1980, a década que inventou a adolescência. “As pessoas que viveram a juventude nos anos 1980 são mais nostálgicas. Seus pais, jovens nos 70, não se divertiam em um País que sofria com a ditadura militar. O entretenimento quase não existia.”


http://acesse.vc/s/dab2fd14

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Ejeção de Massa Coronal (EMC)



Ejeções de massa coronal (EMC) são grandes erupções de gás ionizado a alta temperatura, provenientes da coroa solar. 

O gás expelido constitui parte do vento solar e, quando atinge o campo magnético terrestre, pode causar tempestades geomagnéticas, prejudicando os meios de comunicações e estações elétricas.

Veja abaixo uma animação da formação da Aurora: 

Como uma EMC (Ejeção de Massa Coronal) cria as auroras ...



domingo, 4 de setembro de 2016

O black bloc e a violência


Embora tenham sido transformados pela imprensa numa espécie de Al Qaeda, os manifestantes que fazem uso da tática Black Bloc estão inseridos numa longa tradição de reflexão sobre a forma mais adequada e eficaz de se produzir mudança social por meio do protesto de rua.
Os primeiros Black Blocs eram grupos informais de autodefesa dos movimentos autônomos da Alemanha ocidental nos anos 1980, os Autonomen. As táticas do grupo consistiam na constituição de linhas de frente para enfrentar a repressão policial e na organização de cordões de isolamento para impedir a infiltração de agitadores nas passeatas. O nome Black Bloc, (“der schwazer Block”) era originalmente uma brincadeira que aludia ao fato das manifestações de rua na Alemanha se organizarem por meio de “blocos” como o verde (formado pelos ambientalistas) e o vermelho (por socialistas ligados aos sindicatos).
Nos Estados Unidos, no final dos anos 1990, os Black Blocs ganharam um novo contorno, isto é, foram ressignificados. Um pouco antes, na primeira metade dos anos 1990, pequenos Black Blocs no estilo alemão tinham ocasionalmente aparecido em protestos nos EUA devido à difusão da tática em artigos e livros, como o de George Katsiaficas, antigo aluno de Marcuse.
Mas o Black Bloc ganhou seu contorno atual durante os protestos contra a Organização Mundial do Comércio, em Seattle, em 1999, quando um grupo optou por romper com a tática de bloquear ruas e praticar resistência passiva, na tradição da desobediência civil não violenta de Gandhi e Martin Luther King Jr.
A desobediência civil não violenta tinha se estabelecido como paradigma dos movimentos sociais dos Estados Unidos depois da vitória do movimento pelos direitos civis nos anos 1960. A tática consistia em desobedecer uma lei injusta e não reagir à violência do Estado que tentava defendê-la. Assim, os ativistas do movimento pelos direitos civis desobedeciam as leis que determinavam lugares separados para negros e brancos ocupando com sit-ins restaurantes e outros ambientes segregados. Quando a polícia reprimia com violência esse ato de desobediência pacífica, as imagens divulgas pela imprensa de manifestantes de uma causa justa sofrendo a repressão violenta do Estado geravam indignação da opinião pública que pressionava pelo fim da segregação.
Mas nos anos 1990 havia um sentimento que aquela tática tinha se esgotado porque a desobediência civil não tinha como gerar efeitos políticos sem a cobertura da violência policial pela imprensa. O professor de Antropologia da London School of Economics, David Graeber, um dos ativistas que compuseram o Black Bloc de Seattle relata assim o debate que se deu:
Estratégias gandhianas não tem funcionado historicamente nos Estados Unidos. Na verdade, elas nunca funcionaram em escala massiva desde o movimento pelos direitos civis. Isso, porque os meios de comunicação nos EUA são constitutivamente incapazes de noticiar os atos de repressão policial como "violência" (o movimento pelos direitos civis foi uma exceção porque muitos americanos não viam o sul como parte do mesmo país). Muitos dos jovens que formaram o famoso Black Bloc de Seattle eram na verdade ativistas ambientais que estiveram envolvidos em táticas de subir e se prender em árvores para impedir que fossem derrubadas e que operavam em princípios puramente gandhianos -- apenas para descobrirem em seguida que nos Estados Unidos dos anos 1990, manifestantes não-violentos podiam ser brutalizados, torturados e mesmo mortos sem qualquer objeção relevante da imprensa nacional. Assim, eles mudaram de tática. Nós sabíamos de tudo isso. E decidimos que valia a pena correr o risco.
A crítica que os ativistas do Black Bloc de Seattle fizeram às táticas clássicas de Gandhi não é, no entanto, nova. Ela retoma um debate que já havia ocorrido nos anos 1940 entre o socialista dissidente George Orwell e o próprio Gandhi. Num artigo célebre, Orwell argumenta que o método de resistência passiva gandhiano não podia ser generalizado para circunstâncias nas quais não havia uma imprensa livre e atuante que alimentasse uma opinião pública liberal. Ele ironizava, assim, a recomendação de Gandhi de que os judeus perseguidos pelo nazismo deveriam ter cometido suicídio coletivo para despertar a consciência alemã:
A posição do Gandhi era que os judeus alemães deveriam cometer suicídio coletivo, o que “despertaria o mundo e o povo da Alemanha para a violência de Hilter”. Após a guerra, ele se justificou: os judeus teriam sido mortos de qualquer maneira, então pelo menos eles poderiam ter morrido de maneira significativa. (…) Há motivo para pensar que Gandhi, que nasceu em 1869, não entendeu a natureza do totalitarismo e via tudo mais nos termos de sua própria luta contra o governo britânico. A questão importante não é tanto que os britânicos o tenham tratado com tolerância mas o quanto ele sempre pode atuar publicamente. Como se pode ver na sentença citada acima, ele acreditava num “despertar do mundo” que só é possível se o mundo tem a oportunidade de conhecer o que você está fazendo. É difícil imaginar como os métodos de Gandhi podiam ser aplicados em um país no qual os oponentes do regime desaparecem no meio da noite para nunca mais serem encontrados. Sem uma imprensa livre e o direito à reunião é impossível não apenas apelar para a opinião externa, mas criar um movimento de massas ou mesmo fazer suas intenções serem conhecidas pelo adversário.
Tanto Orwell como os ativistas do Black Bloc de Seattle entendiam que a ausência de uma imprensa livre e atuante impedia que as ações de desobediência não violenta tivessem impacto na opinião pública gerando efeitos políticos. Para enfrentar esse dilema, os ativistas americanos propuseram ressignificar as táticas do Black Bloc alemão concentrando sua ação numa modalidade de desobediência que era a destruição seletiva de propriedade privada. O objetivo era duplo: por um lado, resgatar a atenção dos meios de comunicação de massa; por outro, transmitir por meio dessa ação de destruição de propriedade uma mensagem de oposição à liberalização econômica e aos acordos de livre comércio.
Ao contrário do que normalmente se pensa, essa ação não apenas não é violenta como é predominantemente simbólica. Ela deve ser entendida mais na interface da política com a arte do que da política com o crime. Isso, porque a destruição de propriedade a que se dedica não busca causar dano econômico significativo mas apenas demonstrar simbolicamente a insatisfação com o sistema econômico. Há obviamente uma ilegalidade no procedimento de destruir a vitrine de uma grande empresa, mas é justamente a conjugação de uma arriscada desobediência civil e a ineficácia em causar prejuízo econômico à empresa ou ao governo que confere a essa ação seu sentido expressivo ou estético, num entendimento ampliado. A destruição de propriedade sem outro propósito que o de demonstrar descontentamento simbolizava e apenas simbolizava a ojeriza aos efeitos sociais da liberalização econômica.
Também é preciso salientar que essa tática se inscreve na longa tradição de não violência do movimento social norte-americano. A destruição seletiva de propriedade privada não é feita de maneira arbitrária, mas segue regras pactuadas pelos ativistas: não podem ser alvo pequenos comércios e as ações não podem resultar na agressão a pessoas ou a animais.
Embora não esteja claro em que medida as ações Black Bloc foram capazes de transmitir a mensagem política desejada, elas foram sem dúvida eficazes em capturar a atenção dos meios de comunicação de massa – afinal, tinha se mostrada acertada a intuição dos ativistas de que nada despertaria mais a atenção da grande mídia do que uma desobediência do coração do sistema jurídico que é a proteção da propriedade privada.
O impacto midiático das ações do Black Bloc em Seattle foi tão grande que terminou ofuscando, em parte, a grande construção coletiva que levou tanto às passeatas de massa organizadas pela central sindical AFL-CIO, como aos bloqueios de rua organizados pelos ativistas da Direct Action Network. Esse sucesso em capturar a atenção dos meios de comunicação foi logo percebido por ativistas em todo o mundo e a tática Black Bloc, na sua roupagem americana, logo entrou no repertório dos movimentos sociais, disseminando-se por todo o planeta nos primeiros anos do século XXI.
O rompimento do consenso no movimento social americano em torno das táticas gandhianas suscitou muitos debates e desde o princípio o Black Bloc foi acusado de oportunista, de diversionista, de promotor da violência e de isca da repressão policial. Os calorosos debates do início dos anos 2000 foram resolvidos por meio da ideia da "diversidade de táticas", isto é, da ideia de que as diferentes táticas tinham que conviver, respeitando umas as outras – mais ou menos como o “mundo onde caibam muitos mundos” preconizado pelos zapatistas.
Para esse consenso ser atingido foi necessário que aqueles que advogavam a tática exclusiva de bloqueios e ocupações (sit-ins) não violentos entendessem que os que aderiam à tática Black Bloc também participavam da tradição da não-violência, pois não atacavam pessoas, mas coisas. A partir desse consenso, os protestos de rua passaram a ser divididos em grupos que ocupavam cada um uma parte da cidade, de maneira que pudessem coexistir. Esse mesmo consenso existiu no Brasil no início dos anos 2000 durante os protestos contra a ALCA.
No entanto, na onda de mobilizações globais que começou em 2011, parece que esse aprendizado foi esquecido e os duros ataques aos Black Blocs reapareceram no Occupy Wall Street, na insurreição no Egito, nos protestos na Grécia e também no Brasil. Os ativistas que compunham os Black Blocs foram tratados como arruaceiros inconsequentes, luditas irracionais e bandidos oportunistas. O fato de que os grupos no Brasil em geral tem respeitado os princípios da tática, que inclui não agredir pessoas, nem atacar pequenos comércios não é levado em conta nas acusações de "violentos" e, assim, um ato de desobediência civil (a destruição de propriedade) se torna equivalente à agressão a pessoas.
Enquanto a destruição da vidraça de bancos ganha enorme visibilidade, a repressão da polícia a manifestantes pacíficos segue invisível para a maior parte da grande imprensa. E não é só a agressão a manifestantes que é invisível. Toda a ação abusiva e violenta da polícia nas periferias das grandes cidades não recebe cobertura ou recebe uma cobertura discreta, sem destaque editorial.
A imprensa gasta páginas e mais páginas de jornal e dezenas de minutos de jornalismo televiso para discutir a “violência” contra vidraças enquanto a verdadeira violência contra a vida ganha apenas menções pontuais. Ao chamar a atenção para os bancos, para as grandes marcas e para o estado brasileiro, os manifestantes que fazem uso da tática Black Bloc no Brasil resgatam a atenção dos meios de comunicação e tentam redirecioná-la para o sistema econômico e político que está na gênese da verdadeira violência da nossa sociedade.
São pertinentes as dúvidas se sua mensagem está sendo adequadamente recebida pelo público e se a tática facilita a infiltração de provocadores e afasta simpatizantes da causa. Mas, seja como for, não resta dúvidas de que sua ação não é nem arbitrária, nem irracional.
Os jovens que estão nas ruas merecem o respeito de serem tratados como atores políticos consequentes – e nossa indignação precisa estar orientada para a verdadeira violência, aquela que agride manifestantes pacíficos e faz desaparecer Amarildos. Afinal, vidas devem valer muito mais do que vidraças.
Referências:
Dupuis-Déri, F. Les Black Blocs: la liberté et l'égalité se manifest. Québec: Lux, 2007 [em português: Black Blocs. São Paulo: Veneta, 2014]
Graeber, D. Concerning the Violent Peace-Police: An Open Letter to Chris Hedges. Disponível em: <http://nplusonemag.com/concerning-t...>
Katsiaficas, G. The subversion of politics: european autonomous social movements and the decolonization of everyday life. Nova Jersey: Humanities Press, 1997.
Orwell, G. Reflections on Gandhi. In: A collection of essays. Wiimington: Mariner books, 1970. [em português: Reflexões sobre Gandhi. Dentro da baleia e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2005].