Nas rodas de discussão, o assunto é exaustivamente o mesmo: a corrupção generalizada, que está entranhada em todas as divisões dos poderes constituídos. No Rio, uma tragédia pessoal do governador desencadeou uma avalanche de bilionárias denúncias, que em parte são levantadas e divulgadas ironicamente por um expert no assunto, um ex-governador que notoriamente praticou atos similares e que, descaradamente, supõe que ninguém deve se lembrar mais disso. Eleitor tem memória curta, já dizia o alcaide.
No município escândalos para todos os gostos estão sendo abafados, porque senão todas as jogadas armadas podem ser abortadas sem reeleição. Mesmo com este cenário, os vereadores e deputados continuam desfilando com total indiferença para com os interesses da coletividade e entupindo a pauta com datas festivas e premiações a pessoas suspeitíssimas, por méritos estapafúrdios. Ética é uma palavra definitivamente fora de moda.
Já aquela mídia “sem noção” que enxerga um Rio em franca recuperação deve andar de helicóptero, já que andar 10 km/h de carro é uma coisa que hoje em dia definitivamente certas pessoas não fazem mais, pois só desta forma se pode explicar o total descolamento do que acontece nas ruas e a insistência em se manter projetos estapafúrdios. Esta semana essa mesma imprensa nos brindou com um editorial “fantástico” sobre uma oportunidade de se conter a favelização. Lá entre as habituais pérolas “chapa branca”, como acenar com a urbanização de todas as favelas até 2020, destaca haver “recursos para bancar programas de urbanização, bem como verbas para obra de infraestrutura em vias públicas, saneamento, habitação e transporte (embora nesta última rubrica, ainda permaneçam demandas estruturais, como as da metrolização da via férrea, ao passo que, no entanto, que a adoção do bilhete único nos sistemas municipais e estaduais tenham sido um significante passo à frente)”.
Um conceito comprovadamente equivocado
Entrementes, não são exatamente essas demandas estruturais que estimulam a favelização? Por que um trabalhador em sã consciência trocaria um espaço decente longe do trabalho para morar numa favela íngreme, em cubículos exíguos, sem ventilação e pagando mais caro? Lembrando que o bilhete único apresentou problemas, porque a viagem demora mais do que o permitido (2 horas) entenderemos por que o centro da cidade fica cheio de gente que prefere dormir na rua a ir para casa. Será que esses senhores conhecem esta realidade? Daí a expansão das favelas e seu espantoso incremento (1020), o que, de quebra, ainda garante votos que elegem políticos bastante suspeitos, sem falar nos programas Favela Bairro, em que, “supostamente”, era “vintinho para o poder público e vintinho para o empreiteiro”, segundo confissão orgulhosa do próprio. Isto é fato consumado e explica o enorme interesse nesse tipo de projeto. Quem fiscaliza? Pobre reclama? No Pavão-Pavãozinho entregaram uns apartamentos com o costumeiro alarde. Vieram as chuvas e, curiosamente, no morro todo só houve problema nessas novas construções, porque o acabamento não resistiu à primeira chuva.
O problema é que este tipo de comportamento está se entranhando até no meio universitário, onde os professores que são amados por seus alunos correm o risco de se desmoralizarem por participar ativamente de obscuros processos. Dois escritórios de arquitetura querem impugnar o resultado do concurso Porto Olímpico, que definiu o projeto das instalações a serem construídas na região portuária do Rio para as Olimpíadas de 2016. Eles acusam o vencedor da disputa de ter acesso a informações privilegiadas sobre o concurso. O processo seletivo é promovido pelo IAB-RJ (Instituto dos Arquitetos do Brasil, unidade Rio) em parceria com a Prefeitura do Rio. Um dos perdedores afirma que o ganhador “coordena um outro concurso do IAB-RJ e a família dele é dona da construtora que vai executar a obra. São muitas ligações irregulares” (Folha de S.Paulo). E a hora que estourar um escândalo de malversação de verbas neste favela-bairro? Aliás, um país que pretende ser a quinta economia mundial não tem vergonha de condenar seus cidadãos a morar nesse tipo de “habitação” e isto ainda tem de ser endossado pelo IAB? Alguém explica por que este instituto e, consequentemente, a categoria, têm que apoiar e ratificar por concurso público um Centro de Convenções Internacional em que todos os envolvidos sabem que o conceito está comprovadamente equivocado, sendo que sua execução travará a revitalização econômica do município?
Nenhum comentário:
Postar um comentário