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quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O espaço pode fritar seu telefone



O espaço pode fritar seu telefone: como os turistas espaciais podem proteger seus equipamentos eletrônicos (e seus dados) - por Michael D. Shaw, via Space.com*

O astronauta da NASA Don Pettit teve um ThinkPad na Estação Espacial Internacional durante
a Expedição 30. Antes de enviar dispositivos eletrônicos pessoais ao espaço, a NASA os testa
para garantir que eles possam suportar os altos níveis de radiação existentes.
(Crédito: NASA)

Michael D. Shaw é bioquímico e escritor freelancer. Formado pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e era protegido do falecido cientista Willard Libby, vencedor do Nobel de química em 1960, Shaw também fez pós-graduação no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Baseado na Virgínia, ele cobre tecnologia, saúde e empreendedorismo, entre outros tópicos.

Antes que a indústria do turismo espacial alce vôo e os passageiros comecem a colocar seus dispositivos eletrônicos em órbita, é melhor que haja uma maneira de os viajantes protegerem seus dados digitais do ambiente hostil do espaço.

Entre a radiação e os efeitos da microgravidade, o típico smartphone, tablet ou laptop pode funcionar mal antes de você ter a chance de twittar suas incríveis fotos da Terra. Acrescente as preocupações da NASA sobre hackers interceptarem as comunicações e até comandarem o controle de satélites no espaço, e nossos dispositivos eletrônicos e os dados que eles contêm se tornam ainda mais vulneráveis. [Fotos: Os primeiros turistas do espaço]

Se e quando seus dispositivos eletrônicos pessoais sucumbirem a essas vulnerabilidades no espaço, seja durante um voo suborbital na SpaceShipTwo ou uma estadia prolongada em um luxuoso hotel espacial, provavelmente não haverá nenhum especialista em TI residente a bordo de sua espaçonave. E sem um dispositivo móvel funcional, você terá dificuldade em ligar para o suporte técnico na Terra.

Como, então, os astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) enviam e salvaguardam seus dados? Em uma palavra: com cuidado. De acordo com a Backup4all, que atende os laptops da estação espacial, a proteção de dados é essencial não apenas para os experimentos de pesquisa e ciência que os astronautas realizam no laboratório orbital, mas também para as informações que veem e compartilham nas redes sociais.

Enquanto a ISS orbita a Terra 16 vezes por dia (ou cerca de uma vez a cada 90 minutos), os tripulantes fazem o backup de seus dados em 13 destinos, incluindo discos rígidos externos e os mesmos provedores de armazenamento em nuvem que muitos de nós usam na Terra. Esses incluem o Google Drive, o Dropbox e o Microsoft OneDrive. Esses dados envolvem experimentos relacionados à pesquisa do câncer, à "extinção da chama fria" e ao uso de um robonauta em condições de alto estresse, entre outras coisas.

Se as políticas de backup não existissem, a NASA e seus parceiros internacionais na estação espacial se arriscariam a perder "dados sensíveis ao tempo e essenciais, como informações sobre a saúde da tripulação, o status dos sistemas da estação, resultados de experimentos científicos a bordo, bem como todos os posts e entrevistas nas redes sociais", disseram funcionários da NASA em um comunicado. Seria difícil para o alcance público da NASA ter sucesso sem as fotos de tirar o fôlego do espaço, que a agência compartilha com seus seguidores nas mídias sociais. Imagine também o feed do Twitter da estação espacial sem seus 2,3 milhões de seguidores.

Agora, imagine-se sem acesso aos seus próprios dados e fotos. Um smartphone com defeito pode ser frustrante o suficiente na Terra. Mas como você se sentiria se seu smartphone parasse de funcionar enquanto você estivesse a centenas de quilômetros de distância do planeta, tornando impossível para você, como turista espacial, transmitir imagens e mensagens para a Terra? Você poderá evitar esses futuros "problemas do primeiro mundo", mantendo as ferramentas de backup de dados prontas.

Aqui na Terra, 140.000 discos rígidos caem toda semana apenas nos Estados Unidos, de acordo com o site de notícias de cibersegurança CSO.com. A recuperação de um computador danificado pode custar mais de US $ 7.500, sem garantia de sucesso. Ainda pior, a cada ano, cerca de 70 milhões de smartphones são vítimas de roubo, sejam fisicamente roubados ou hackeados digitalmente, de acordo com um estudo do Kensington Computer Products Group. O estudo descobriu que o custo de perder um laptop ou outro dispositivo eletrônico móvel pode exceder em muito o custo do próprio dispositivo "graças à perda de produtividade, perda de propriedade intelectual, violações de dados e taxas legais".

A boa notícia é que a ISS pode ser o símbolo máximo da proteção de dados. Já é um símbolo do triunfo da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM).

Traduzir esse símbolo em uma chamada à ação deve ser uma prioridade nacional. Criar um call to action "é um desafio de design, com certeza", disse Janil Jean, diretora de operações no exterior da LogoDesign.net. "Não é, no entanto, intransponível. Não quando é mais fácil - no momento - encontrar um sinal de 'não fumar' do que encontrar um sinal que avisa contra não deixar dados vulneráveis ​​a perda ou roubo."

Concordo com essa afirmação, assim como acredito no valor da missão da ISS. Esse valor tem muitas denominações, desde o trabalho real que os tripulantes fazem todos os dias até os dados que servem como um registro digital da pesquisa que esses homens e mulheres realizam em nome da humanidade.

Devemos imitar seu exemplo fazendo a coisa prática, que também é a coisa inteligente: tratar os dados como uma mercadoria pessoal e um bem público que é precioso demais para desperdiçar, poderoso demais para sacrificar e muito potente para se render - e isso é igualmente tão vulnerável no espaço quanto no solo, se não mais vulnerável.

☞ Siga a Space.com no Twitter @Spacedotcom e no Facebook. Artigo original em Space.com.
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Fonte: *Space.com: |Space Could Fry Your Phone: How Space Tourists Can Protect Their Electronics (and Data)" (tradução livre) - Imagem: o astronauta Don Pettit, com seu ThikPad, a bordo da ISS/NASA (divulgação/reprodução)

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O êxodo dos confederados para o Brasil após a Guerra Civil



Descendentes de Norte Americanos, durante a Festa Confederada em Santa Bárbara d'Oeste, São Paulo
(Felipe Attilio CC BY-SA 3.0)

Não fique surpreso se você ouvir alguém assobiando Dixie no sul do Brasil. Embora as chances de tal encontro hoje sejam muito pequenas, Dixie já esteve vivo no sul do Brasil quando confederados nostálgicos e com saudades de casa costumavam se lembrar de sua terra natal, sentados em suas novas fazendas brasileiras.

Tudo começou depois de 1865 com o término da Guerra Civil nos Estados Unidos. A economia do sul estava esgotada e a União abolira a escravidão. De repente, o sul se transformou em um ambiente hostil para os confederados que não queriam viver sob o domínio federal. Então, muitos deles decidiram deixar os Estados, o que resultou no maior êxodo da história do país.

Na época, o Império do Brasil ocupava o território do Brasil e do Uruguai de hoje, e o Imperador Dom Pedro II estava interessado em criar sua própria indústria de algodão e cana-de-açúcar. Ele tinha as terras, mas não tinha agricultores qualificados.

Alguns deles reconheceram o apelo nas áreas urbanas em desenvolvimento de São Paulo e do Rio de Janeiro, enquanto outros tentaram a sorte nas regiões habitadas do norte e do sul da Amazônia.

Imigrantes Joseph Whitaker e Isabel Norris
Havia cerca de 20.000 imigrantes dos EUA - segundo algumas fontes o número foi de cerca de 10.000 - que se mudaram para o Brasil entre 1865 e 1885, época em que a escravidão ainda era legal no país. As primeiras gerações de recém-chegados permaneceram como comunidades de clausura casando-se exclusivamente entre si e recusando-se a aprender a língua portuguesa.

Eles construíram igrejas e escolas separadas, com professores dos EUA, e também investiram na construção da Primeira Igreja Batista do Brasil, bem como no Cemitério Campo dos Protestantes. Em uma entrevista de 1995 para o Seattle Times, uma descendente de terceira geração dos colonos originais, Alison Jones, descreveu sua experiência crescendo em tal ambiente:
“Eu me lembro de quando eu tinha 4 anos, eu estava perdido em uma fábrica têxtil enão podia perguntar nada para as pessoas porque só falava inglês. Eu não aprendi português até começar a escola.”
Os colonos investiram seu conhecimento moderno no país, implementando técnicas agrícolas modernas e novas culturas, como noz-pecãs e melancias, que foram alegremente aceitas pelos agricultores brasileiros. Algumas comidas típicas do sul dos Estados Unidos, como frango frito, torta de queijo e torta de vinagre, hoje fazem parte da cultura geral brasileira.

Com o objetivo de preservar sua própria herança cultural, os colonos do Sul dos Estados Unidos organizaram sua vida cotidiana como antes, em territórios que se transformaram em cidades como Santa Bárbara d'Oeste e Americana.

Embora muitos historiadores tenham interpretado a migração como motivada pelo fato de a escravidão ainda ser legal no Brasil, não há, na verdade, muitas evidências para sustentar essa afirmação. 

Há muitos descendentes dos confederados originais que se lembram de seus ancestrais falando sobre alguma casa que deixaram há muito tempo atrás, mas tudo o que eles recordam são memórias gentis, tradições e um modo de vida. Ninguém falava muito sobre escravidão e sua abolição.
 
O Paraná foi um dos estados do sul do Brasil que recebeu imigrantes americanos. (Samir Nosteb CC BY-SA 3.O)

Outra descendente dos colonos originais, Judith McKnight, tentou explicar ao Seattle Times por que sua família deixou o Texas: 
“Eles vieram para cá porque sentiam que seu 'país' havia sido invadido e suas terras confiscadas. Para eles, não havia mais nada ali. Então, eles vieram aqui para tentar recriar o que tinham antes da guerra. Eu cresci ouvindo as histórias. Eles estavam com raiva e amargurados. Quando eles conversaram sobre isso, se mudaram para cá, a guerra, deixando suas casas, sempre foi um assunto muito doloroso para eles.”
Há alguns casos registrados quando os escravos libertos acompanharam seus antigos mestres ao Brasil. Um exemplo é Steve Watson, que seguiu seu ex-proprietário, o Juiz Dyer, do Texas, e foi designado como administrador de uma serraria.

Em algum momento, Dyer decidiu retornar aos Estados Unidos devido a dificuldades financeiras e saudades de casa enquanto Watson permaneceu no Brasil administrando a propriedade.

As recém-formadas colônias de imigrantes americanos foram chamadas pelos brasileiros de "Confederadas". Hoje, seus descendentes promovem anualmente a Festa Confederada, um festival que apresenta uniformes e bandeiras confederadas, bem como danças, música e culinária típicas da região sul dos Estados Unidos. As festividades são dedicadas a preservar a memória de seus ancestrais.
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Fonte: por Katie Vernon/Vintage News: "The Mass Exodus of Confederates to Brazil after the Civil War" (tradução livre) - Imagens: Wikimedia Commons (reprodução)

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

O cérebro crente: porque a ciência é o único caminho para fora do realismo dependente da crença



por Michael Shermer *

O presidente Barack Obama nasceu no Havaí? Eu achei a questão tão absurda, sem mencionar a possibilidade de racismo em sua motivação, que quando eu foi confrontado com “birthers”¹ que acreditam em outra coisa, eu achei difícil até mesmo me concentrar em seus argumentos sobre a diferença entre uma certidão de nascimento e um certificado de nascido vivo. 

A razão é porque uma vez que eu formei uma opinião sobre o assunto, tornou-se uma crença, sujeita a uma série de vieses cognitivos para garantir a sua verosimilhança. 

Eu fiquei irracional? Possivelmente. De fato, é assim que a maioria dos sistema de crença funcionam para a maioria de nós na maioria do tempo.

Nós formamos nossas crenças a partir de uma variedade de razões subjetivas, emocionais e psicológicas no contexto do ambiente criado pela família, amigos, colegas, cultura e sociedade em geral. Depois de formar nossas crenças, nós as defendemos, justificando e racionalizando-as com uma série de razões intelectuais, argumentos convincentes e explicações racionais. 

Crenças vem primeiro; explicações para as crenças vem em seguida. No meu livro "Cérebro e Crença"², eu chamo esse processo, em que as nossas percepções sobre a realidade são dependentes das crenças que temos sobre ela, de “realismo dependente de crença”. A realidade existe independente das mentes humanas, mas nossa compreensão disso depende das crenças que temos em um determinado momento.

Eu moldei o realismo dependente de crença após o realismo dependente de modelo, apresentado pelos físicos Stephen Hawking e Leonard Mlodinow em seu livro "O Grande Projeto"³. Ali eles argumentam que, já que nenhum modelo é adequado para explicar a realidade, “um não pode ser dito mais real que o outro”. Quando esses modelos são unidos a teorias, eles formam visões de mundo completas.

Uma vez que tenhamos formado crenças e feito compromissos com elas, nós mantemos e reforçamo-as com uma variedade de tendências cognitivas que distorcem nossas percepções para caber nos conceitos da crença. Entre eles temos:

Viés de Ancoragem. Baseando muito fortemente em uma âncora de referência ou peça de informação quando tomamos decisões.

Viés de Autoridade. Valorizando a opinião de uma autoridade, especialmente na avaliação de alguma coisa que concemos pouco.


Viés da Crença. Avaliando a força de um argumento baseado na credibilidade de sua conclusão.

Viés de Confirmação. Procurando e encontrando evidências que confirmem as crenças já existentes e ignorando ou reinterpretando as evidências em contrário.

No topo de todas essas tendências, está o Viés Endogrupal, onde nós valorizamos mais as crenças dos que são membros de nosso grupo e menos nas crenças de quem é de diferentes grupos. Isso é resultado de nossos cérebros tribais nos levando não apenas para fazer tais juízos de valor sobre as crenças mas também de demonizar e descartá-las como sem sentido ou más, ou ambos.

O realismo dependente da crença é impulsionado ainda mais profundamente por um meta-viés chamado de Viés de Ponto Cego, ou a tendência para reconhecer o poder de tendências cognitivas em outras pessoas, mas ser cego para a sua influência em suas próprias crenças. 

Mesmos cientistas não estão imunes, sujeitos ao viés experimentador-expectativa, ou a tendência de observadores perceberem, selecionarem e publicaram dados que corroboram suas expectativas para o resultado de um experimento e ignorar, descartar ou não acreditar em dados que não.

Essa dependência na crença e sua série de tendências psicológicas é porque, na ciência, nós temos mecanismos internos de auto-correção. Controles duplo-cegos rigorosos são necessários, nos qual nem os sujeitos nem os pesquisadores sabem as condições durante a coleta de dados. 

Colaboração com os colegas é vital. Resultados são examinados em conferências e publicações revistas por pares. Pesquisa é replicada em outros laboratórios. Evidências de desconformidade e interpretações contraditórias de dados são incluídas na análise. Se você não buscar dados e argumentos contra sua teoria, alguém o fará, geralmente com grande alegria e em fórum público. Isto é o motivo de o ceticismo ser sine qua non da ciência, a única escapatória que nós temos das armadilhas do realismo dependente da crença criadas por nossos próprios cérebros crentes.

Michael Shermer
*Michael Brant Shermer nasceu em Los Angeles, nos Estados Unidos, em 8 de setembro de 1954, ele é um psicólogo, escritor e historiador da ciência dos EUA, fundador da revista Skeptic Magazine e diretor da Skeptics Society. Shermer também é colunista da Scientific American (SciAm), revista de divulgação científica dos EUA. É notável por sua longa história ao apresentar informação científica a nível mensal para o público educado geral. Muitos cientistas famosos, incluindo Albert Einstein, tem contribuído com artigos nos últimos 168 anos. É a revista mensal continuamente publicada mais antiga dos Estados Unidos.

Notas:
1- Birthers é como são chamadas as pessoas que duvidam da legitimidade da presidência de Barack Obama por conta de uma teoria da conspiração que afirma que Obama não é nascido nos EUA (NdT)
2- The Believing Brain (Holt, 2011). Publicado em português com o título de Cérebro e Crença. São Paulo: JSN Editora, 2012.
3- The Grand Design (Nova Iorque: Bantam Books, 2010). Publicado em português com o título O grande projeto. São Paulo: Nova Fronteira, 2011
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Fonte: Scientific American - Tradução: Maurício Moura (reprodução) - Imagem: Pixabay (CC0)

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

O Universo Impossível



O universo como nós atualmente o entendemos pode não ser permitido existir - pelo menos de acordo com o modelo cosmológico dos teóricos das cordas.


Para entender o comportamento e a evolução do universo, os modelos cosmológicos fornecem uma descrição matemática capaz de fazer previsões validadas. Os modelos atuais são baseados na relatividade geral de Einstein e assumem um universo "plano" - isto é, um universo que aparece plano em grandes escalas. Nesse contexto, a geometria do universo pode ser descrita como um universo fechado ‘de Sitter’ ou um universo aberto ‘anti-de Sitter’.

As observações mostram que o universo está se expandindo a uma taxa cada vez mais rápida e que, à medida que se expande, a energia do vácuo permanece constante. O melhor modelo cosmológico para descrever tal universo é um modelo de inflação que ocorre em um universo 'quasi-de Sitter' - que é um universo quase de Sitter - já que a presença de matéria e estrutura não permite um universo puramente simétrico.

A teoria das cordas oferece 100 cenquinsexagintilhões (10^500) de paisagens (landscapes) do universo para trabalharmos com elas¹. No entanto, mesmo com essa riqueza de possibilidades, ela não conseguiu encontrar nosso universo quase-estável de Sitter

Em um recente artigo publicado por Georges Obied, e seus colegas, uma possível explicação para isso foi apresentada, na qual eles propõem um critério para quais tipos de universos podem existir e aqueles que não podem. O universo "permitido" resultante aponta para um universo em expansão no qual a energia do vácuo diminui a uma taxa acima de um limite inferior específico. Assim, de acordo com a teoria das cordas, o muito amado universo quase-de Sitter não é permitido.

Isto é, a menos que a densidade da energia escura em nosso universo tome uma forma chamada “quintessência” - será uma fonte de energia que gradualmente diminuirá ao longo de dezenas de bilhões de anos.

~artigo escrito por Amira Val Baker / via  Resonance Science Foundation (tradução livre)

NOTA: 1- A ordem de grandeza do números de vácuos que a teoria de cordas permite é da ordem de 10^10 a 10^500 e cada um destes vácuos corresponderá a um diferente tipo  de universo (a maioria completamente diferente do Modelo Padrão). O conjunto dos diferentes falsos-vácuos da teoria (das cordas) são denominados de paisagens cósmicas (landscapes). (CREF/UFRGS)
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Fonte: Artigo:https://www.theatlantic.com/science/archive/2018/08/dark-energy-string-theory/567221/

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Visão em 360º de Bennu, um asteróide em forma de diamante




Veja um asteróide em forma de diamante de todos os lados, cortesia da missão OSIRIS-REx - via GeekWire*

A OSIRIS-REx escaneando a superfície do asteróide Bennu - Credito: NASA/Goddard/University of Arizona

Dois anos após seu lançamento, a nave espacial OSIRIS-REx, da NASA, está se aproximando de um asteroide próximo à Terra chamado Bennu e enviando de volta fotos que fornecem uma visão de 360 ​​graus.

Na sexta-feira passada, a OSIRIS-REx capturou imagens ao longo de um período de quatro horas e 11 minutos para obter uma rotação completa da rocha espacial em forma de diamante a uma distância de cerca de 197 km.

A visão está aguçando o apetite dos astrônomos por olhares ainda mais próximos em direção à Bennu, que atualmente está a cerca de 80 milhões de quilômetros da Terra. Nas próximas semanas, a OSIRIS-REx examinará cuidadosamente o terreno do asteróide de 400 metros de largura à medida que se aproxima. Durante o mês de dezembro, ela executará três vôos rasantes, chegando a apenas alguns quilômetros da superfície. E no início do próximo ano, ela se instalará em uma órbita próxima para realizar uma pesquisa de meses.

Tudo isso é apenas uma escalada para o evento principal: a descida da sonda na superfície do asteróide em meados de 2020, para a coleta de amostras que serão enviadas de volta à Terra em 2023.

O principal pesquisador da missão OSIRIS-REx, Dante Lauretta, do Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona, ficou impressionado com as variações de Bennu na refletância de superfície, que sugere uma composição diversificada: “Essas áreas escuras causaram entusiasmo na equipe! Tuitou Lauretta.


Há também uma rocha no hemisfério sul de Bennu que parece estar "pendurada" devido à fraca atração gravitacional do asteroide, disse Lauretta em outro tweet.

Esses fatores aumentam a intriga em torno da missão OSIRIS-REx, que deve fornecer informações sobre como o sistema solar foi formado, como os asteróides potencialmente ameaçadores podem ser desviados e como os futuros exploradores espaciais podem tirar proveito do que os asteróides têm a oferecer...

O OSIRIS-REx não é o único jogo na cidade quando se trata de exploração de asteróides: a sonda Hayabusa 2 do Japão está no meio do seu próprio levantamento de outro asteróide em forma de diamante, que se parece muito com Bennu, apenas duas vezes mais largo. 

A Hayabusa 2 deve coletar pedaços do asteróide Ryugu no próximo ano e trazê-los de volta à Terra em 2020, bem antes da entrega da OSIRIS-REx.

Veja as imagens do Asteróide Bennu em vídeo de rotação em lapso de tempo:

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Fonte: *por Alan Boyle/GeekWire (tradução livre) - Imagem: NASA/Goddard/University of Arizona

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Teorias da Conspiração: por que as pessoas acreditam nelas?




Crédito: Brian Taylor
Por quê as pessoas que acreditam em uma conspiração estão inclinadas a acreditar em outras

por Michael Shermer*

Em 16 de maio de 2012 eu gastei várias horas em um ônibus quente em um deserto de neon chamado Las Vegas com um alegre bando de conspiracionistas britânicos durante sua jornada pelo sudeste em busca de OVNIs, Aliens, Área 51 e encobrimentos governamentais, todos de um documentário da BBC. Uma mulher deliciou-me com um conto sobre bolas laranjas de energia flutuando à volta do seu carro na Interestadual 405 na Califórnia, que foram expulsos em seguida por helicópteros de operações secretas. Um homem me desafiou a explicar a fonte de um feixe de laser verde que o seguiu pelo interior inglês uma noite. Conspirações são um constante favorito para produtores de televisão porque tem sempre uma audiência receptiva. Um recente documentário da Canadian Broadcasting Corporation (CBC) que eu participei no chamado Conspiracy Rising, por exemplo, destacou teorias por trás das mortes de JFK e Princesa Diana, OVNIs, Área 51 e 11 de setembro, como se houvesse um traço comum ligando todos. 

De acordo com o apresentador de rádio e traficante de conspirações Alex Jones, que também aparece no filme, “Um complexo industrial-militar assassinou John F. Kennedy” e “Eu posso provar que existe um cartel bancário privado criando um governo global porque eles admitem que são” e “Não importa como você olha para o 11 de setembro, não há conexões terroristas islâmicas – os sequestradores são claramente agentes do governo dos EUA que foram criados como bodes expiatórios como Lee Harvey Oswald”.

Tais exemplos, juntamente com outros em meus anos de patrulha de conspirações, são emblemáticos de uma tendência que eu tenho detectado nessas pessoas que acreditam em uma tal teoria, tendem a acreditar em várias outras intrigas igualmente improváveis e geralmente contraditórias. 

Essa observação foi recentemente confirmada empiricamente pelos psicólogos da Universidade de Kent, Michael J. Wood, Karen M. Douglas e Robbie M. Sutton em um paper intitulado “Vivo e Morto: Crenças em Teorias de Conspiração Contraditórias”¹, publicado na revista Social Psychological and Personality Science em janeiro de 2012. 

Os autores começam definindo uma teoria das conspiração como “uma trama planejada por pessoas poderosas ou organizações que trabalham juntas em segredo para realizar algum objetivo (geralmente sinistro)” isto é “notoriamente resistente à falsificação… com novas camadas de conspiração sendo adicionadas para racionalizar cada nova peça de evidência de refutação”. 

Uma vez que você acredite que “uma massiva, sinistra conspiração pode ser executada com sucesso em um segredo quase perfeito, [isso] sugere que muitas outras tramas são possíveis”. 

Com este paradigma cabalístico no lugar, conspirações podem começar “a explicação padrão para qualquer evento determinado – uma unitária, fechada visão do mundo em que cada crença vem junto com uma rede de apoio mútuo conhecida como um sistema monológico de crença”.

Esse sistema monológico de crença explica as relações significativas entre diferentes teorias de conspiração no estudo. Por exemplo, “uma crença de que uma célula desonesta do MI6 foi responsável pela morte da [Princesa] Diana está correlacionada com a crença em teorias de que o HIV foi criado em laboratório… de que o pouso na lua foi um embuste… e que esses governos tem acobertado a existência de Aliens”. 

O efeito continua mesmo quando as conspirações se contradizem uma à outra: quanto mais participantes acreditarem que Diana forjou a própria morte, mais eles acreditarão que ela foi assassinada.

Os autores sugerem que há um processo de ordem superior no trabalho que eles chamam de coerência global que se sobrepõe contradições locais: “Alguém que acredita em um número significativo de teorias da conspiração vai naturalmente começar a ver autoridades como fundamentalmente enganadoras e novas teorias da conspiração vão se tornar mais plausíveis à luz de tal crença”. 

Além disso, “defensores da conspiração desconfiam que narrativas oficiais possam ser tão fortes quanto quaisquer teorias alternativas que possa ser confirmadas apesar de qualquer contradição entre elas”. Assim, eles afirmam, “quanto mais esses participantes acreditam que uma pessoa no centro de uma teoria da conspiração relacionada com a morte, como a Princesa Diana ou Osama [bin] Laden, está viva, mais eles também tendem a acreditar que a mesma pessoa foi assassinada, quando a suposta causa da morte envolver uma fraude oficial.

Como Alex Jones proclamou no Conspiracy Rising: “ninguém está a salvo, você entende isso? Pura maldade está correndo selvagemente nos níveis mais elevados”.

No seu site Infowars.com, Jones titula sua página com “Porque Existe uma Guerra pela Sua Mente”. É verdade e esse é o porquê de a ciência e a razão precisarem sempre prevalecer sobre o medo e a irracionalidade. Os fanáticos de conspirações se apoiam nos últimos à custa dos primeiros.

1. Dead and Alive:Beliefs in Contradictory Conspiracy Theories (NdT)
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Fonte: Scientific American - Publicado originalmente com o título Why People Believe Conspiracy Theories (Tradução: Maurício Sauerbronn de Moura/Livre Pensamento) - Imagem: Brian Taylor/SciAm

sábado, 10 de novembro de 2018

Desmistificando 20 mitos médicos e científicos




*por David Robert Grimes

Assumindo que você não é um eremita sociopata com a capacidade social de um hamster lobotomizado, há uma boa chance de você ter tido alguma forma de envolvimento social em sua vida. 

Uma coisa ótima coisa sobre um bom encontro é uma boa conversa – às vezes, porém, você ouve algo que aciona um alarme distante. Isso é verdade? Eu preciso chegar isso. 

Claro que metade das vezes nós esquecemos e então talvez escutemos aquilo novamente, e de novo. Depois de um tempo nós assumimos tacitamente que aquilo é verdadeiro e o repetimos. Mas e se estiver errado, nós apenas perpetuamos as falsidades? 

O que se segue é uma lista sem nenhuma ordem particular de coisas que eu escutei em festas ou em algum estágio, de alguma forma, assumi implicitamente que tinha algum mérito. Cada uma delas é um suculento petisco de ciência, tecnologia ou medicina que se repete tanto que se integrou à nossa consciência coletiva. 

Eles tem uma coisa em comum – são todos, sem exceção, falsidades. Aqui está uma lista de 20 reivindicações que eu ouvi pelo menos uma vez no ano. Assim, em nenhuma ordem particular e sem rima ou razão real….

1. Você nunca deve acordar um sonâmbulo

Claro, acordar um sonâmbulo pode resultar em ele ficar desorientado e confuso. Mas acordar qualquer pessoa pode gerar um pouco de confusão tanto se estiver dormindo indolentemente em um final de semana ou andando por aí em um coma ambulante. 

Sonambulismo é uma desordem do sono REM e como uma parassonia é extremamente interessante. Há casos de sonâmbulos escrevendo e-mails semi-coerentes, tendo sexo com estranhos e até matando pessoas (não tudo ao mesmo tempo… ainda). 

Então, se pesarmos, a desorientação que ele talvez sinta é um pouco menos perigosa que outras façanhas sonolentas que eles possam cometer. Mesmo que observá-los possa ser muito mais hilariante como um esporte de espectador, acordá-los gentilmente é provavelmente mais humano.

2. Você só usa 10% do seu cérebro

Agora mesmo, em algum lugar, há um neurologista escutando isso e chorando. Este pequeno fragmento de conhecimento é repetido tão frequentemente que é quase aceito como um fato, mas faz um desserviço massivo ao nosso cérebro acusá-lo de ser tão preguiçoso. 

Nós usamos praticamente todo o nosso cérebro, mas geralmente não ao mesmo tempo. Isso pode ser observado em uma tomografia computadorizada ou uma ressonância magnética. Então por que esse mito é tolerado por tanto tempo? 

Uma das grandes razões é que é constantemente repetida por médiuns e aqueles com interesse manifesto em obscurecer o pensamento racional. “Os 90% de lixo escondido” servem como um conveniente Deus ex machina para aqueles que tentam vender tolices e eles conseguiram admiravelmente. Apesar disso, não se pode condenar quem suspeita que as pessoas que dão seu dinheiro suado a "médiuns" devem usar menos do que a totalidade da sua capacidade mental.

3. A água desce pelo ralo girando em sentidos diferentes em cada hemisfério

A alegação aqui é de que, devido ao efeito Coriolis, a água desce por ralos em direções diferentes de rotação dependendo do hemisfério da Terra em que a medida é feita. Esse é quase plausível: o efeito Coriolis descreve um desvio aparente de um objeto em rotação mas na realidade esse efeito é minúsculo, a não ser em enormes massas de água. 

A forma da cuba é essencialmente o que decide a direção em que a água vai escorrer. Você pode testar isso em hotéis muito sofisticados  usando a descarga repetidamente e observando os resultados. Eu tentei isso com um amigo. O resultado mais comum é pedirem para eu deixar o hotel no dia seguinte.

4. Açúcar deixa as crianças hiperativas

Esse é um exemplo clássico de estar errado. Em todos os testes duplo cego, o açúcar não teve qualquer efeito sobre a hiperatividade das crianças. 

Curiosamente, estudos demonstraram que pais e professores classificaram crianças as quais eles deram açúcar como mais ativas, apesar do fato de que as crianças de controle não terem recebido nenhum açúcar – uma linda demonstração tanto do efeito observado quanto do testemunho de porque os testes de duplo cego superam a observação anedótica: as pessoas tendem a ver apenas as evidências que confirmam suas hipóteses, o que é um manual de má ciência. 

Um bom cientista, pelo contrário, procura por dados que invalidem suas hipóteses. Um pai cansado, parece, procura por um bode expiatório conveniente ao invés de acolher a possibilidade de terem parido um diabinho.

5. Moedas de um centavo caindo de aranha-céus podem matar ou quebrar a calçada

À primeira vista, isso parece ser verdade. A aceleração da gravidade por uma longa distância pode produzir velocidades bastante assustadores no impacto. A energia cinética no impacto é metade da velocidade elevado à massa. A massa pode ser pequena, mas as velocidades são enormes, então o produto final é número assustadoramente grande, certo? 

Bom, não exatamente – isso pode acontecer no vácuo, mas os objetos caindo estão caindo através de um fluído (ar) e é limitado pela velocidade terminal, o que acontece quando a força da gravidade é exercida sobre o objeto é igualada pelo arrasto de ar que o objeto cria, o que significa que um centavo, por exemplo não pode atingir o chão mais rápido que 55-60 mph, que não é o suficiente para fazer estrago. O veredito? Um método de assassinato muito barato, mas absolutamente ineficaz.


6. Nadar depois de comer provocar cólicas e afogamento

Não, não é verdade. Em qualquer caso, mesmo com câimbra, um nadador não se afogaria. Por outro lado, os estudos demonstram um aumento de mortalidade na água quando grandes quantidades de álcool são ingeridas. Isso é o que você esperaria realmente, já que bêbados não fazem os movimentos mais graciosos na maioria das vezes.

7. As Torres Gêmeas caíram em uma explosão controlada

Não é exatamente uma conversa de festas de escola enquanto alguém não vomitar essa, mas provar que as torres do WTC não caíram em uma explosão controlada é bem simples. Para começar, demolições controladas começam em baixo, não em cima, de uma grande estrutura. Do contrário faria pouca economia ao espalhar detritos em todos os lugares. 

Além disso, vários grupos, desde organizações de engenharia estrutural até mecânicos populares, obtiveram, após rigorosa investigação, as mesmas conclusões de engenharia : as torres do WTC caíram por causa de um incêndio que induziu um colapso dirigido pela gravidade. 

Mas os teóricos da conspiração gritam, se explosivos controlados não derrubaram o WTC, o que poderia ter acontecido?! Oh, eu não sei… talvez alguém tenha voado com a porra de um avião dentro dele? Especule o quanto quiser sobre os motivos dos que voaram com os aviões, mas a engenharia é bastante sólida.

8. HIV não causa AIDS

Esta pequena joia é muitas vezes repetida por negacionistas da AIDS, alegando (geralmente) que o HIV é um vírus passageiro inofensivo e que a AIDS é causada pelo uso de drogas e, especificamente, o uso de drogas anti-retrovirais – o tipo de medicamento usado para tratar a AIDS. Essa visão já foi muito bem e verdadeiramente desacreditada, mas em certos lugares ela ainda tem impacto. 

Na África do Sul essa afirmação incorreta foi a responsável pela morte de mais de 330 mil pessoas quando o governo de Thabo Mbeki convidou vários negacionistas do HIV/AIDS para se juntarem ao Painel Consultivo Presidencial sobre AIDS, afirmando que o AZT causava AIDS. 

Médicos e cientistas responderam com a Declaração de Durban, que estabeleceu categoricamente que o HIV leva à AIDS. Finalmente, anos depois, essa parece estar morrendo, mas curiosamente…

9. AIDS foi criada pelo homem para ser uma arma biológica

Senhoras e senhores, apresentando a arma biológica mais sem sentido de todos os tempos. Leva muito tempo para matar, pode ou não matar ou ser desabilitado, é relativamente difícil de transmitir e impossível de controlas. Se a AIDS foi feita pelo homem,  essa seria uma tentativa de usar seus testículos como munição em um estilingue com a arma mais estúpida de todos os tempos. 

Há uma grande fartura de informações científicas sobre o nascimento do HIV/AIDS e ela está na população humana dede o começo da década de 1930, então a teoria iatrogênica estar correta está fora de questão. Nota para potenciais desenvolvedores de armas biológicas – Ebola é uma forma mais eficaz. Só dizendo.

10. Uma moeda na linha do trem vai descarrilhar o trem

Não é uma esperança. Objetos maiores pode causar sérios problemas. Um trem de passageiros da costa sul em Indiana pulou dos trilhos em 1999 depois que três jovens deixaram tijolos na linha. Felizmente, ninguém se feriu. Mas pequenas moedas não conseguem descarrilhar um trem, ainda que muita gente tenha morrido tentando fazer isso por calcular errado quando o trem realmente passaria. 

Moral da história: se você pretende amassar centavos usando um trem de carga, invista em um calendário. Embora isso possa ter um uso limitado na Irlanda. Outra palavra de aviso: trens em alta velocidade podem atirar as moedas para fora do trilho como projéteis de alta velocidade. Então investir em uma roupa blindada pode ser uma boa medida. Se isso pode não salvar sua vida, mas vai parecer maravilhoso.

11. Leva 7 anos pra digerir uma goma de mascar

Pobres gomas de mascar, tem má reputação em praticamente todo lugar. Mesmo as gomas de mascar sendo indigestas, elas passam pelo sistemas digestivo na mesma velocidade que todas as outras coisas e são expelidas da mesma forma. Se o resíduo expelido tem um resultado mais consistente é uma área de pesquisa que atualmente é deficiente. Obrigado.

12. Se eu manipular um bebê pássaro, sua mãe vai rejeitá-lo

Não é verdade. De fato, a maioria dos pássaros tem um péssimo olfato e não se importam, de qualquer forma. Quando se trata de vida selvagem, geralmente se aconselha retornar o passarinho aos pais ou ninho o mais rápido possível ou deixá-lo em um lugar que possa ser facilmente encontrado pelos pais. Isso é útil para determinar se o pássaro é filhote ou inexperiente – se for o primeiro caso, retornar ao ninho é vital. Se for o último, será bom deixá-lo. E se for uma gaivota, dar-lhe um tapinha é uma boa medida.

13. Homeopatia é um tratamento médico genuíno

A homeopatia falhou em todos os testes importantes a que foi submetida. Primeiramente, o mecanismo de ação é risível – dizer que concentrações altamente diluídas de um agente podem ser curativos não tem nenhum mérito quando as diluições são tão maciças que nenhuma substância original resta. Homeopatas argumentam - e é muito engraçado vê-los fazendo isso - que a água tem memória, argumento que eles não apresentam nenhuma evidência e que violaria a física conhecida de qualquer forma. 

Finalmente, há o pequeno fato de que em cada grande estudo, a homeopatia falhou por não fazer melhor do que o placebo. Miseravelmente. Crentes persistentes vão citar estudos individuais que poderiam mostrar algum fraco efeito para uma doença menor mas invariavelmente esses relatórios tem poucos participantes e alta desistência com relatórios subjetivos, o que dana as estatísticas – uma técnica chamada de “apanhar cerejas” nos dados. 

A ferramenta mais poderosa para meta-análise (que basicamente coloca todos os estudos e os pondera) conclusivamente demonstrou que a homeopatia não funciona. Isso não faz os homeopatas pararem de defendê-la e jogar a ciência no lixo, mas por que eles iriam querer fazê-lo se eles estão tentando proteger um estilo de vida que os permite vender frascos de água ou pílulas de açúcar a preços exorbitantes para compradores crédulos?

14. O uso de drogas de estupro é comum e está aumentando

Aparentemente não, a não ser que você conte o álcool como droga, o que tecnicamente ele é. Isso foi abordado no meu blog com alguma profundidade aqui (em inglês).


15. Você pode ver a Grande Muralha da China do espaço

Essa poderia potencialmente ser verdade se você levar alguma forma de telescópio para o espaço com você. Mas mesmo de uma órbita terrestre baixa (LEO) você precisaria de uma acuidade visual de 20/3, grosseiramente 7,7 vezes o normal. Então isso é um “não” retumbante. De órbita baixa, mesmo tão perto quanto a lua é impossível de ver. 

Na verdade, a muralha aparentaria ter a mesma largura de um cabelo humano visto de 3,2 km de distância. Alguns astronautas afirmaram ver a Grande Muralha quando na verdade eles estavam observando o Grande Canal da China, perto de Pequim. 

A gênese dessa lenda precede a exploração espacial por algum tempo, sendo registrado pela primeira vez em 1754. Estranhamente, certas câmeras em LEO podem apenas pegá-la, como as lentes das câmeras operam de uma forma muito diferente da ótica humana. 

Se você realmente precisar ver a Muralha do espaço, ao invés de entrar em órbita e montar uma câmera, nós recomendamos que você apenas use o Google Earth como todo mundo.

16. A Teoria da Evolução afirma que nós evoluímos de macacos

É verdadeiramente triste que em nossos dias e nossa era, ainda haja os que negam teorias científicas abundantemente observáveis como a Teoria da Evolução e, para piorar, tem um monte de mal-entendidos sobre a evolução.  

Grande parte desses mal-entendidos são deliberadamente fomentados por aqueles com uma agenda religiosa, pois ofende seu texto sagrado particular – me permita parar ali e rebater esse ponto pra casa – ciência, a qual se baseia em evidências observáveis e testáveis, discorda que algum texto arbitrário, auto-contraditório e não-verificável escrito a eras atrás, e de alguma forma isso significa que a ciência está errada. 

Bom, aí está um argumento forte, sem dúvida. De qualquer forma, antes de começar a digitar em uma fúria incoerente, vamos ao mito – de que a Teoria da Evolução afirma que nós evoluímos dos macacos. 

Na verdade, a Teoria da Evolução não afirma tal coisa nem nunca afirmou. Ao contrário, a evolução afirma que nós compartilhamos um ancestral comum com outros primatas que são nossos primos distantes, mas nunca que descendemos deles. Apesar que, olhando para certos proponentes do design inteligente, qualquer um seria perdoado por cometer esse erro…

17. A Vacina Tríplice causa autismo

É desse material que os pesadelos são feitos. Realmente vale a pena ler um pouco sobre como todo o desastre surgiu. É coberto muito bem no artigo da Wikipedia. Na verdade, eu mencionei isso de passagem em um artigo anterior. Mas em poucas palavras, um médico com ética zero chamado Andrew Wakefield (quem, afinal, recebeu dinheiro para fazer alegações falsas) decidiu, sem nenhuma evidência, alegar a existência de uma ligação entre a Vacina Tríplice e o autismo. 

Os meios de comunicação afinal descobriram isso e fizeram a festa, a taxa de vacinação despencou (60% em Londres de uma vez, abaixa do nível de imunidade do grupo) porque pais ansiosos não querem arriscar autismo — então seus filhos recebem sarampo, caxumba ou rubéola e morrem em vez disso. Boa jogada. Wakefield afinal teve seu registro cancelado, já que a pesquisa demonstrou ser fraudulenta, e as tachas de vacinação tem crescido de maneira constante, mas as vezes isso ainda é repetido. Isso é pura sordidez e deve sempre ser desafiado. 

Aperte educadamente, se alguém mencionar isso, corrija-o – não recue. Esse é precisamente o tipo de absurdo que resulta na morte de crianças. E falando em vacinas…

18. Vacina do HPV tem matado mulheres

Não, não tem. E nem poderia, de qualquer forma. Esse total disparate foi primeiro promovida  no grande bastião da pesquisa médica que é o show da Oprah Winfrey. Eu já dissertei sobre isso antes então vou poupar a você a repetição e a mim a hérnia. Mas eu fico com raiva – geralmente esses mitos são divertidos, inofensivos, mas esses tipos são malignos e prejudiciais a todos os envolvidos e realmente, eles devem ser contestados com mais frequência. 

Um pedaço de idiotice repetido o suficiente, eventualmente se torna aceito como fato e embora possa ser só engraçadinho em algumas coisas, é completamente perigoso em outras. Ainda assim, parafraseando um antigo ditado, você pode levar um defensor da medicina alternativa à razão mas não pode obrigá-lo a pensar.

19. Celulares podem causar câncer no cérebro

Não há qualquer evidências para isso e um monte de evidências contra. Quando você coloca o telefone na orelha, há um efeito térmico – observe que sua orelha fica quente, assim como o aparelho. Isso é inofensivo, então as investigações tendem a se concentrar em efeitos não térmicos. 

Especificamente, pode o uso de um telefone móvel/celular causar câncer e o Wi-Fi é prejudicial à saúde? 

A resposta é claramente não – as energias envolvidas (microonda/ondas de rádio) simplesmente não tem energia alta o suficiente para ionizar e, consequentemente, não causam câncer. Estudos aprofundados tem confirmado isso e fazem crer que, em níveis abaixo dos ionizantes, nós simplesmente não somos tão sensíveis às ondas eletromagnéticas – o que é uma coisa danada de boa, já que osso próprio Sol e a Terra emitem uma quantidade infernal delas.

Radiação eletromagnética visível (ou luz) tem muito mais energia do que ondas de rádio (coisa de milhões de vezes mais), para colocar as coisas em perspectiva. Então, se você se preocupa um pouco com seu Wi-Fie celular, se preocupe cerca de um bilhão de vezes mais sobre ligar as luzes da sua casa.

20. Células tronco provém de bebês não nascidos

Cruzes! Essa sempre gera controvérsia e antipatia pró-vida/pró-escolha. Não precisa. Há, em essência, dois tipos de células-tronco: embriônicas e adultas. Células-tronco embriônicas podem se transformar em todas as formas de células humanas enquanto células-tronco adultas agem mais como mecanismos de reparo, reabastecendo células especializadas existentes. 

Como você pode imaginar, o potencial dessas células para tratar doenças é praticamente ilimitado mas essa é a controvérsia, devida em grande parte à confusão entre as células-tronco adultas e embrionárias e como essas células são coletadas. 

Células-tronco adultas são pesquisadas mais amplamente e vem, como você deve adivinhar, de adultos. Em uma nota lateral, a maioria das células-tronco embrionárias são obtidas do excesso de embriões criados para tratamentos para fertilização in vitro, que seriam destruídos de qualquer forma, é por isso que a controvérsia parece mal colocada – ela parece mais pró-desperdício do que pró-vida. Mas eu divago como a brigada militante pró-vida pode se ofender, já que eles parecem valorizar a santidade da vida só quando está embrionária.

E assim termina minha lista. Tem um monte que eu esqueci e algumas são mais selvagens do que as outras, mas é interessante dar uma olhada nelas. Eu acho que, em caso de dúvida, o site de referência de lendas urbanas Snopes.com é meticulosamente pesquisado e sempre vale a pena uma lida.

Agora, senhoras e senhores: SUAS indicações para os factoides mais conhecidos mas totalmente errados?! Vamos ouvi-los!!!

*Dr. David Robert Grimes é um físico irlandês, pesquisador de câncer na Universidade de Oxford e escritor de ciências, que contribui para vários meios de comunicação sobre questões da ciência e da sociedade. Ele tem uma gama diversificada de interesses de pesquisa e é um defensor do aumento da compreensão pública da ciência. É um colunista regular no Irish Times e bloga no www.davidrobertgrimes.com e foi um dos ganhadores do Prêmio John Maddox para a Defesa da Ciência de 2014.
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Fonte: Three men make a tiger - Tradução: Maurício Moura/Livre Pensamento - Imagem: "?"/PEXELS

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Após os 40 pessoas deveriam trabalhar menos, mostra estudo




Semana de trabalho com apenas três dias aumenta produtividade das pessoas que têm acima de 40 anos de idade.

Resultados de estudo mostram que capacidade cognitiva dessas pessoas aumenta com menos horas de trabalho.

No Brasil, a jornada semanal de trabalho está instituída em cinco dias, ou 40 horas de trabalho por semana. Para a maioria das pessoas começa segunda-feira e termina na sexta, entretanto há pessoas que trabalham ainda mais, tendo expediente também no final de semana, seja por contrato ou fazendo jornadas extras.

Um novo estudo mostra agora que esta carga horária de trabalho não é eficaz para quem tem mais de 40 anos de idade. O trabalho científico, publicano na série Melbourne Institute Worker Paper, da Austrália, afirma que a semana ideal para pessoas com mais de 40 anos deve ter apenas três dias.

Para o estudo, em que foram analisados os hábitos de trabalho de 6.500 pessoas (3.500 mulheres e 3.000 homens), a equipe do Melbourne Institute of Applied Economics and Social Research, da Universidade de Melbourne sujeitou os voluntários a três testes.

O primeiro teste passava pela leitura de determinadas palavras em voz alta. O segundo em recitar uma ordem numérica de forma decrescente. O terceiro continuai-se em ligar palavras e números. Para chegar às conclusões finais também foi levada em conta a qualidade de vida das pessoas analisadas, o seu bem-estar econômico, estrutura familiar e emprego.

Depois de considerados todos estes fatores, chegou-se à conclusão de que quem trabalhava, em média, 25 horas por semana alcançava melhores resultados. Os resultados cognitivos aumentavam para quem trabalhava por volta de 25 horas – quando comparado a valores mais baixos – e a partir daí começavam a decrescer devido ao estresse e fadiga.

Colin McKenzie, um  dos investigadores e professor de economia na Universidade de Keio afirmou que trabalhar "pode estimular a atividade cerebral mas, ao mesmo tempo, trabalhar muitas horas e  com determinados tipos de tarefas podem causar fadiga e estresse que a longo prazo podem danificar funções cognitivas".

Recentemente, na Nova Zelândia, uma empresa decidiu adotar a semana de quatro dias de forma a melhorar a produtividade dos seus empregados.
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Fonte: Melbourne Institute of Applied Economics and Social Research/Keio University/ABC News/UOL - Imagem: PxHere (CC0 - Domínio público)

sábado, 3 de novembro de 2018

Bilionários da tecnologia patrocinam pesquisa de Fusão Nuclear




Bilionários da tecnologia estão despejando rios de dinheiro em pesquisa de Fusão - via futurism.com

Damien Jemison / LLNL

Novo tiro-na-Lua

A SpaceX, de Elon Musk, mudou o jogo espacial quando lançou e conseguiu o primeiro foguete reutilizável. Com isso uma conquista, ele nos definiu um curso para viagens espaciais mais acessíveis.

Agora uma série de companheiros bilionários tecnologia de Musk estão perseguindo um ponto de virada semelhante na indústria de energia, de acordo com a Bloomberg: a criação do primeiro reator de fusão nuclear comercialmente viável.

Tocando o Sol

Geradores de energia de fusão nuclear funcionam através da fusão de átomos em conjunto. É o mesmo tipo de reação que alimenta estrelas como o Sol - e ao passo de que já podemos fazer isso aqui na Terra, ainda não conseguimos fazê-lo sem gastar mais energia do que geramos.

Agora, bilionários da tecnologia, tais como Jeff Bezos, Bill Gates e Richard Branson estão investindo pesadamente em pesquisa para desenvolver reatores de fusão nuclear que compensem na relação custo-benefício, desde a General Fusion Inc. até a TAE Technologies.

Privatização

Embora o objetivo da criação de foguetes reutilizáveis seja democratizar o acesso ao espaço, as ambições daqueles que perseguem a fusão nuclear que funciona são movidos pelo que está acontecendo aqui na Terra.

"Se você se preocupa com a mudança climática, você tem que se preocupar com a escala de tempo e não apenas com a solução definitiva", disse Mowry. "Os governos não estão trabalhando com a urgência necessária."

Isto levou uma empresa espacial privada a finalmente construir um foguete reutilizável. Talvez também vá levar uma empresa privada a fazer da fusão nuclear utilizável uma realidade, também.
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Fonte: *Kristin Houser/Futurism "Tech Bilionaires Are Pouring Money Into Fusion Research" (tradução livre) - Imagem: Damien Jemison/LLNL