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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O êxodo dos confederados para o Brasil após a Guerra Civil



Descendentes de Norte Americanos, durante a Festa Confederada em Santa Bárbara d'Oeste, São Paulo
(Felipe Attilio CC BY-SA 3.0)

Não fique surpreso se você ouvir alguém assobiando Dixie no sul do Brasil. Embora as chances de tal encontro hoje sejam muito pequenas, Dixie já esteve vivo no sul do Brasil quando confederados nostálgicos e com saudades de casa costumavam se lembrar de sua terra natal, sentados em suas novas fazendas brasileiras.

Tudo começou depois de 1865 com o término da Guerra Civil nos Estados Unidos. A economia do sul estava esgotada e a União abolira a escravidão. De repente, o sul se transformou em um ambiente hostil para os confederados que não queriam viver sob o domínio federal. Então, muitos deles decidiram deixar os Estados, o que resultou no maior êxodo da história do país.

Na época, o Império do Brasil ocupava o território do Brasil e do Uruguai de hoje, e o Imperador Dom Pedro II estava interessado em criar sua própria indústria de algodão e cana-de-açúcar. Ele tinha as terras, mas não tinha agricultores qualificados.

Alguns deles reconheceram o apelo nas áreas urbanas em desenvolvimento de São Paulo e do Rio de Janeiro, enquanto outros tentaram a sorte nas regiões habitadas do norte e do sul da Amazônia.

Imigrantes Joseph Whitaker e Isabel Norris
Havia cerca de 20.000 imigrantes dos EUA - segundo algumas fontes o número foi de cerca de 10.000 - que se mudaram para o Brasil entre 1865 e 1885, época em que a escravidão ainda era legal no país. As primeiras gerações de recém-chegados permaneceram como comunidades de clausura casando-se exclusivamente entre si e recusando-se a aprender a língua portuguesa.

Eles construíram igrejas e escolas separadas, com professores dos EUA, e também investiram na construção da Primeira Igreja Batista do Brasil, bem como no Cemitério Campo dos Protestantes. Em uma entrevista de 1995 para o Seattle Times, uma descendente de terceira geração dos colonos originais, Alison Jones, descreveu sua experiência crescendo em tal ambiente:
“Eu me lembro de quando eu tinha 4 anos, eu estava perdido em uma fábrica têxtil enão podia perguntar nada para as pessoas porque só falava inglês. Eu não aprendi português até começar a escola.”
Os colonos investiram seu conhecimento moderno no país, implementando técnicas agrícolas modernas e novas culturas, como noz-pecãs e melancias, que foram alegremente aceitas pelos agricultores brasileiros. Algumas comidas típicas do sul dos Estados Unidos, como frango frito, torta de queijo e torta de vinagre, hoje fazem parte da cultura geral brasileira.

Com o objetivo de preservar sua própria herança cultural, os colonos do Sul dos Estados Unidos organizaram sua vida cotidiana como antes, em territórios que se transformaram em cidades como Santa Bárbara d'Oeste e Americana.

Embora muitos historiadores tenham interpretado a migração como motivada pelo fato de a escravidão ainda ser legal no Brasil, não há, na verdade, muitas evidências para sustentar essa afirmação. 

Há muitos descendentes dos confederados originais que se lembram de seus ancestrais falando sobre alguma casa que deixaram há muito tempo atrás, mas tudo o que eles recordam são memórias gentis, tradições e um modo de vida. Ninguém falava muito sobre escravidão e sua abolição.
 
O Paraná foi um dos estados do sul do Brasil que recebeu imigrantes americanos. (Samir Nosteb CC BY-SA 3.O)

Outra descendente dos colonos originais, Judith McKnight, tentou explicar ao Seattle Times por que sua família deixou o Texas: 
“Eles vieram para cá porque sentiam que seu 'país' havia sido invadido e suas terras confiscadas. Para eles, não havia mais nada ali. Então, eles vieram aqui para tentar recriar o que tinham antes da guerra. Eu cresci ouvindo as histórias. Eles estavam com raiva e amargurados. Quando eles conversaram sobre isso, se mudaram para cá, a guerra, deixando suas casas, sempre foi um assunto muito doloroso para eles.”
Há alguns casos registrados quando os escravos libertos acompanharam seus antigos mestres ao Brasil. Um exemplo é Steve Watson, que seguiu seu ex-proprietário, o Juiz Dyer, do Texas, e foi designado como administrador de uma serraria.

Em algum momento, Dyer decidiu retornar aos Estados Unidos devido a dificuldades financeiras e saudades de casa enquanto Watson permaneceu no Brasil administrando a propriedade.

As recém-formadas colônias de imigrantes americanos foram chamadas pelos brasileiros de "Confederadas". Hoje, seus descendentes promovem anualmente a Festa Confederada, um festival que apresenta uniformes e bandeiras confederadas, bem como danças, música e culinária típicas da região sul dos Estados Unidos. As festividades são dedicadas a preservar a memória de seus ancestrais.
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Fonte: por Katie Vernon/Vintage News: "The Mass Exodus of Confederates to Brazil after the Civil War" (tradução livre) - Imagens: Wikimedia Commons (reprodução)

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