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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

O que é entropia?




Crédito: Charge do caricaturista Pancho

A entropia é uma grandeza termodinâmica que mensura o grau de irreversibilidade de um sistema, encontrando-se geralmente associada ao que se denomina por "desordem" de um sistema termodinâmico. Resumindo a entropia é uma medida do grau de desordem de um sistema, ou bagunça, como dizem os físicos, por piada, afirmando, ainda que a bagunça só tende a aumentar. Agora vejamos o que o mestre Isaac Asimov* tem a nos dizer a respeito dela:

O que é entropia?

"A energia pode ser convertida em trabalho somente se houver um desnível de concentração de energia no particular sistema que está sendo usado. A energia, então, tende a fluir do ponto de maior concentração para o de menor, até ficar uniformemente distribuída. É através do aproveitamento deste fluxo que é possível obter trabalho a partir de energia.

A água no nascente de um rio está a uma altura maior, e portanto tem maior energia gravitacional, do que a água na foz do rio. É por isso que a água corre dos rios para o oceano (Não fosse a queda das chuvas, toda a água dos continentes correria encostas abaixo em direção ao oceano, cujo nível elevar-se-ia ligeiramente. A energia gravitacional total permaneceria a mesma mas estaria mais uniformemente distribuída).

A água pode efetuar trabalho ao fluir encosta abaixo, fazendo girar uma roda d’água. Num mesmo nível, a água não poderia realizar trabalho, ainda que estivesse num plano bastante elevado e possuindo uma energia gravitacional extraordinariamente alta. Os pontos cruciais são a diferença de concentração de energia e o fluxo em direção ao equilíbrio.

Isso é válido para qualquer forma de energia. Nas máquinas a vapor há um reservatório quente, onde a água é transformada em vapor, e um reservatório frio, onde o vapor se condensa em água novamente. É a diferença de temperatura que importa. Se tudo estivesse à mesma temperatura, por maior que esta fosse, nenhum trabalho poderia ser realizado.

O termo “entropia” foi introduzido em 1850 pelo físico alemão Rudolf J. E. Clausius, para caracterizar o grau de uniformidade com que a energia, sob qualquer, forma, está distribuída. Quanto mais uniformemente distribuída estiver, maior a entropia. Quando a energia estiver distribuída de maneira completamente uniforme, a entropia atinge o valor máximo para o sistema em questão.

No entender de Clausius, quando um sistema é entregue a si próprio, as diferenças de energia sempre tendem a desaparecer. Pondo-se um objeto quente em contato com outro frio, o calor flui de tal maneira que o objeto quente se esfria e o objeto frio fica mais quente, até que ambos atinjam a mesma temperatura. Se dois reservatórios de água forem conectados, um possuindo um nível de água mais elevado que o outro, a atração gravitacional fará com que um dos níveis baixe e o outro se eleve, até que os dois níveis se igualem e a energia gravitacional fique nivelada.

Dessa maneira, Clausius afirmou que havia uma regra geral na natureza, segundo a qual as diferenças de concentrações de energia tendem a nivelar-se. Em outras palavras, “a entropia aumenta com o decorrer do tempo”.

O estudo do fluxo de energia de pontos de concentração mais elevada para outros de concentração mais baixa foi realizado mais a fundo com relação à energia sob a forma de calor. Por isso o estudo do fluxo de energia e das interconversões entre energia e trabalho veio a ser conhecido como “termodinâmica”, do grego “movimento de calor”.

Já havia sido estabelecido que a energia não poderia ser nem criada nem destruída. Essa é uma regra tão fundamental que é chamada de “primeira lei da termodinâmica”.

A sugestão de Clausius de que a entropia aumenta com o tempo parecia enunciar algo igualmente fundamental, e por isso é chamada de “segunda lei da termodinâmica”."

*Isaac Asimov foi escritor e bioquímico nascido na Russia.  Foi um dos maiores autores de Ficção Científica da História e um dos grandes nomes da divulgação científica de todos os tempos.
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Fonte: ASIMOV, Isaac. Asimov Explica. Trad. Edna Feldman. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1986. - Imagem: Pancho/Oredr4u/Reprodução

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O que é o Princípio da Incerteza de Heisenberg?





“Princípio da Incerteza”- o termo é utilizado para designar o estado de um elétron. 

O nome é adequado, uma vez que é impossível saber a posição exata que um elétron ocupa na eletrosfera de um átomo. Este princípio foi criado por Werner Heisenberg em 1927 e transformou-se num enunciado da mecânica quântica.

No texto abaixo, de autoria do Isaac Asimov, é explicado o Princípio da Incerteza de Heisenberg. O texto é curto e simples, escrito por um grande divulgador da ciência. 

O que é o Princípio da Incerteza de Heisenberg?
- por Isaac Asimov*

"Para explicar o conceito de incerteza, consideremos, inicialmente, o conceito de certeza. Quando se conhece alguma coisa a respeito de determinado objeto, com segurança e exatidão, tem-se certeza acerca de um conjunto de dados, seja lá quais forem.

Mas será que os táquions existem realmente? É possível admitirmos a existência de um universo de táquions que não viola a teoria de Einstein, mas possibilidade de existência não significa necessariamente existência.

E como se chega a conhecer algo? De uma maneira ou de outra, deve-se interagir com o objeto. Deve-se pesá-lo na determinação de seu peso, deve-se golpeá-lo para verificar sua dureza, ou talvez apenas olhar para ele, a fim de ver onde se encontra. Mas alguma interação deve haver, ainda que seja mínima.

Pode-se sustentar que esta interação sempre introduz alguma perturbação na propriedade que se deseja determinar. Em outra palavras, o próprio ato de aprender interfere no objeto em estudo, de forma que no final este não fica conhecido de maneira exata.

A título de exemplo, suponhamos que o leitor queira medir a temperatura da água de sua banheira. Para isso, introduz nela um termômetro. Mas o termômetro está frio e a sua presença na água torna-a um pouco mais fria. Pode-se obter uma boa aproximação da temperatura, mas não com a precisão de trilionésimo de grau. O termômetro alterou a temperatura que estava sendo medida, mas a perturbação por ele introduzida foi quase imensurável.

Como outro exemplo, suponhamos que agora você queira medir a pressão do ar num pneu. Para tanto, utiliza-se de um instrumento munido de pequeno êmbolo, o qual é empurrado por uma pequena quantidade de ar que escapa do pneu. Mas o fato de que o ar escapa significa que a pressão de ar baixou um pouquinho no ato de medi-la.

É possível construir construir instrumentos de medição tão pequenos e sensíveis, e que se utilizem de métodos indiretos, de forma a não introduzir a menor modificação na propriedade que se deseja medir?

Em 1927, o físico alemão Werner Heisenberg concluiu que não. Um instrumento de medição pode ser muito pequeno, de dimensões tão reduzidas quanto uma partícula subatômica mas não menor. Ele deve utilizar-se de, no mínimo, um quantum de energia, mas não menos. Uma única partícula e um único quantum de energia já são suficientes para introduzir algumas alterações. Se você simplesmente olhar para algo, a fim de vê-lo, isso é possível em virtude do fato de que fótons de luz ricocheteiam no objeto, o que introduz alguma mudança.

Essas mudanças são extremamente pequenas e, na vida quotidiana, podem ser ignoradas, e realmente o são – mas de qualquer maneira as mudanças ainda estão lá. E se estivermos lidando com objetos tão pequenos, para os quais mesmo as menores mudanças assumem grandes proporções?

Se você quisesse saber a posição de um elétron, por exemplo, teria de fazer incidir sobre ele um quantum de luz, ou, mais provavelmente, um fóton de raio gama, a fim de “vê-lo”. O fóton incidente empurraria o elétron, tirando-o de sua posição original.

Heisenberg conseguiu demonstrar, em particular, a impossibilidade de se elaborar qualquer método para se determinar exatamente e ao mesmo tempo a posição e o momento de qualquer objeto. Quanto mais acurada for a determinação da posição, mais imprecisa será a determinação do momento, e vice-versa. Calculou também qual seria o valor da falta de precisão ou “incerteza” em tais grandezas, sendo esse o seu “princípio da incerteza”.

O princípio da incerteza implica em uma certa “granulosidade” no universo. Ao se ampliar uma foto de jornal, chega-se, por fim, ao ponto em que apenas pequenos grãos ou pontos são percebidos, perdendo-se todos os detalhes. O mesmo acontece ao se olhar muito de perto para o universo.

Algumas pessoas ficaram desapontadas com esse princípio, pois julgavam-no uma confissão de eterna ignorância. Mas não é nada disso. Estamos interessados em aprender como o universo comporta-se, e o princípio da incerteza é um fator chave de se comportamento. A “granulosidade” está aí, e isso é tudo. Heisenberg mostrou-nos isso, e os físicos lhe são gratos."
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Fonte: *Isaac Asimov foi escritor e bioquímico nascido na Russia. Foi um dos maiores autores de Ficção Científica da História e um dos grandes nomes da divulgação científica de todos os tempos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O que é método científico?




por Isaac Asimov*, do livro "Asimov Explica"

Método científico é, obviamente, o método usado pelos cientistas ao fazerem descobertas científicas. 

Esta definição, porém, parece não ajudar muito. É possível entrar em maiores detalhes?

Poderíamos dar uma versão idealizada do método:


  1. Reconhecer que existe um problema – pode-se perguntar, por exemplo, por que o movimento dos corpos é acelerado em certas condições e retardado em outras.
  2. Selecionar e desprezar aspectos não essenciais do problema. Por exemplo, o cheiro de um objeto é irrelevante ao seu movimento.
  3. Coletar todos os dados disponíveis referentes ao problema. Na Antiguidade e na Idade Média, essa atitude equivalia a apenas uma observação perspicaz da natureza, tal qual era. Com o advento dos Tempos Modernos, surgiu a noção de que o homem poderia intervir no curso da natureza, podendo planejar uma situação na qual os objetos fossem levados a se comportar de forma que os dados obtidos estivessem relacionados com o problema em questão. Esferas poderiam ser postas a rolar sobre planos inclinados, variando-se ora o ângulo de inclinação do plano, ora a sua superfície, ora o tamanho das esferas etc. Tais situações deliberadamente planejadas constituem os experimentos em devido ao papel central que desempenham na Ciência Moderna, esta é, por vezes, denominada “Ciência Experimental”, a fim de distingui-la da ciência dos gregos antigos.
  4. De posse desses dados, formular uma generalização provisória que os descreva do modo mais simples possível – algum enunciado breve ou alguma relação matemática. Eis uma hipótese.
  5. A hipótese permite prever resultados de experimentos que sem ela nem mesmo se teria pensado em realizá-los. Realizá-los e verificar a validade da hipótese.
  6. Caso os experimentos correspondam ao esperado, a hipótese é fortalecida e talvez passe a ser considerada uma teoria ou mesmo uma “lei natural”.

Claro está que nenhuma teoria ou lei natural é estabelecida de maneira conclusiva. O processo acima descrito repete-se continuamente. Mediante novos dados, novas observações e novos experimentos, as leis naturais mais antigas vão sendo constantemente suplantadas por leis mais gerais, que não só explicam tudo o que as anteriores explicavam, porém vão mais além.

Como já foi mencionado, essa é uma versão idealizada do método científico. Na prática, os cientistas não necessitam segui-la como a um conjunto de “receitas” científicas e, geralmente, não o fazem.

Fatores tais como intuição, rápidos vislumbres mentais (insights) ou mera sorte tem, mais do que quaisquer outros, um papel a desempenhar. A história da ciência é pródiga em exemplos de cientistas que tiveram repentinas e inspiradas ideias a partir de dados bastante inadequados e de pouca ou nenhuma base experimental, chegando a verdades úteis que talvez levassem anos para serem atingidas, seguindo-se passo a passo a versão idealizada do método científico.

A estrutura do benzeno ocorreu a F. A. Kekulé enquanto ele dormitava em um ônibus. Otto Loewi despertou no meio da noite com a solução para o problema da condução sináptica. Donald Glaser estava a olhar distraidamente para o copo de cerveja quando teve a ideia para a câmara de bolhas.

Quer isso dizer, afinal, que tudo o que se requer é apenas sorte e nenhum esforço intelectual? Não, mil vezes não! Esse tipo de “sorte” o ocorre apenas aos melhores cérebros; apenas àqueles indivíduos cuja “intuição” é fruto de grande experiência, profunda compreensão e árdua reflexão.

*Isaac Asimov foi escritor e bioquímico nascido na Russia.  Foi um dos maiores autores de Ficção Científica da História e um dos grandes nomes da divulgação científica de todos os tempos.
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Fonte: ASIMOV, Isaac. Asimov Explica. Trad. Edna Feldman. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1986. - Imagem: Isaac Asimov/telly gacitua/Flickr (CC BY-ND 2.0)

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Qual a velocidade do pensamento?




por Isaac Asimov*

Qual a velocidade do pensamento? Depende do que se entenda por “pensamento”.

Poder-se-ia ter em mente a imaginação. Posso imaginar-me estando nesse exato m omento aqui na Terra e um segundo mais tarde imaginar que estou em Marte ou em Alfa Centauro ou perto de algum distante quasar. Se é isso o que se entende por “pensamento” então pode-se sustentar que o pensamento pode assumir qualquer velocidade, inclusive a infinita.

Sim, mas realmente não fui transportado a tais distâncias, não é? Posso imaginar-me estando presente no momento da formação da Terra, mas isso não significa que participei de alguma viagem no tempo. Posso imaginar-me no centro do Sol, m,as isso não quer dizer que eu consiga realmente sobreviver em tais condições.

Para que a questão  tenha significado num sentido científico, deve-se definir o “pensamento” de tal forma que ele tenha uma velocidade que possa efetivamente ser medida por métodos físicos.

Exemplificando, podemos pensar unicamente devido à existência de impulsos que se propagam de célula nervosa para célula nervosa. Qualquer ação que envolva o sistema nervoso depende desses impulsos. Quando você toca num objeto quente, rapidamente retira a mão, mas isso não pode se dar até que a sensação de calor se transmita de sua mão para o seu sistema nervoso central. e que outro impulso nervoso se transmita do seu sistema nervoso central para seus músculos.

O “pensamento” inconsciente envolvido na situação – “sinto algo me queimando, é melhor retirar a mão antes que ela fique gravemente ferida” – não pode exceder o tempo gasto pelo impulso para percorrer  a distância necessária de ida e volta. Assim, devemos entender por “velocidade do pensamento” a “velocidade do impulso nervoso” ou nenhuma resposta será possível.


Em 1846, o grande fisiologista alemão Johannes Müller, num acesso de pessimismo, afirmou que a velocidade de um impulso nervoso jamais poderia ser medida. Seis anos depois, em 1852, um de seus antigos discípulos, Hermann von Helmholtz, conseguiu medi-la, fazendo uso de um músculo ao qual o nervo ainda estava ligado. 

Helmholtz estimulava o nervo em diferentes pontos e media o tempo decorrido até que o músculo se contraísse. Ao estimular o nervo num ponto mais distante do músculo, a contração demorava mais para ocorrer. A partir do intervalo da demora, ele calculou o tempo que o impulso nervoso levava para percorrer a distância adicional.

A velocidade do impulso nervoso depende da espessura do nervo; quanto mais espesso, mais rápida a propagação. Ele depende também da presença ou ausência de uma camada de material gorduroso isolando o nervo. Um nervo isolado conduz o impulso nervoso mais depressa que um não-isolado.

Os nervos dos mamíferos são os mais finos do reino animal e, nos melhores nervos dos mamíferos, a velocidade do impulso nervoso pode chegar a cerca de 100 metros por segundo, ou se preferirem 360 quilômetros por hora.

Isso pode parecer demasiado pouco. A velocidade do pensamento não é maior do que a de um avião a hélice de modelo antigo. Mas pense que um impulso nervoso pode ir e voltar de um ponto qualquer a outro do corpo humano em menos que 1/25 de segundo (isso representa o tempo gasto de processamento no sistema nervoso central). 

A maior extensão de nervo de um mamífero é a que existe na baleia azul de trinta metros de comprimento e , mesmo assim, o impulso nervoso percorre essa distância, ida e volta, em pouco mais que meio segundo, o que é razoavelmente rápido.
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Fonte: *Isaac Asimov foi escritor e bioquímico nascido na Russia.  Foi um dos maiores autores de Ficção Científica da História e um dos grandes nomes da divulgação científica de todos os tempos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Entenda o fascismo e saiba como ele consegue "tomar o poder"

"Fascismo é uma forma de radicalismo político autoritário nacionalista que ganhou destaque no início do século XX na Europa e teve origem na Itália. Os fascistas procuravam unificar sua nação através de um Estado totalitário que promove a vigilância, um estado forte, a mobilização em massa da comunidade nacional, confiando em um partido de vanguarda para iniciar uma revolução e organizar a nação em princípios fascistas, hostis a todas as vertentes humanistas. 


Os movimentos fascistas compartilham certas características comuns, incluindo a veneração ao Estado, a devoção a um líder forte e uma ênfase em ultranacionalismo, etnocentrismo e militarismo. O fascismo vê a violência política, a guerra, e o imperialismo como meios para alcançar o rejuvenescimento nacional e afirma que as nações e raças consideradas superiores devem obter espaço deslocando ou eliminando aquelas consideradas fracas ou inferiores, como no caso da prática fascista modelada pelo nazismo.

Uma definição comum de fascismo se concentra em três grupos de ideias:
  • As negações fascistas de anti-liberalismo, anti-comunismo e anti-conservadorismo.
  • Objetivos nacionalistas e autoritários para a criação de uma estrutura econômica regulada para transformar as relações sociais dentro de uma cultura moderna, auto-determinada.
  • Uma estética política usando simbolismo romântico, mobilização em massa, visão positiva da violência, promoção da masculinidade e da juventude e liderança carismática.

O fascismo é uma forma de comportamento político e social que surge quando a classe média, tendo suas esperanças frustradas pela instabilidade econômica juntamente com a polarização e impasse políticos, abandona ideologias e mudanças tradicionais, com a aprovação de forças policiais e militares, por uma soteriologia de unidade nacional mal definida mas com apelo emocional, resolução imediata e direta de problemas e intolerância com os dissidentes.” (Chuck Anesi, 2008)

As melhores definições do fascismo vem dos mais recentes escritos de estudiosos que dedicaram anos à pesquisa dos movimentos fascistas e identificaram os principais atributos que distinguem o fascismo do simples autoritarismo. Dentre eles vale ressaltar os estudos de Michael Mann, Robert O. Paxton e R.J.B. Bosworth:

Classe Média

Nos Estados Unidos, o termo “classe média”, como usado aqui, inclui as classes alta proletária, a média baixa, a média e parte da alta classe média. Os americanos geralmente pensam que sua própria classe é mais alta do que realmente é. 

Parafraseando Anatomy of Revolution, de Crane Brinton, as classes mais baixas tem suas revoltas camponesas, as classes altas tem seus golpes palacianos, mas a classe média faz revoluções.

Instabilidade econômica

A instabilidade econômica desempenhou um papel proeminente na ascensão do fascismo onde ela teve sucesso e foi mais perigosa para as classes médias do que para as classes baixas - que tinham pouco a perder - ou para as classes altas - que foram isoladas de seus efeitos. 

Análises demográficas dos membros dos partidos fascistas (Mann, op. cit.) demonstram claramente que seus membros eram mais jovens e melhor educados que a média da população – precisamente quem tinha mais probabilidade de ter suas oportunidades bloqueadas pela instabilidade econômica.


Polarização e impasse

Em todos os casos em que os fascistas  tiveram sucesso, sua ascensão foi precedida por um período de polarização política e impasse parlamentar. 

Na Itália, formar uma maioria parlamentar estável se provou impossível desde 1919 e fazer Mussolini Primeiro Ministro em outubro de 1922 ofereceu um caminho conveniente para parar o impasse. O celebrado “Março em Roma” poderia ter sido facilmente frustrado pelo governo (e de fato a maioria dos fascistas em seu caminho para Roma foram impedidos de continuar pelas forças policiais), mas ofereceu uma desculpa conveniente para Victor Emmanuel II convidar Mussolini para o governo. 

Na Alemanha, foi impossível formar uma maioria parlamentar a partir de março de 1930 até a indicação de Hitler para chanceler; Hindenburg governou com poderes emergenciais do artigo 48 da Constituição da Alemanha até a nomeação de Hitler como chanceler em janeiro de 1933 permitisse a formação de uma maioria conservadora governista. 

Ironicamente, a falha da esquerda em se comprometer e trabalhar com os centristas foi o maior motivador da ascensão do fascismo tanto na Itália como na Alemanha.

Abandono das ideologias tradicionais

Parafraseando Thomas (não Michael) Mann, a Primeira Guerra Mundial explodiu a mina por baixo da Montanha Mágica da Europa Pré-Guerra enquanto a herança do Iluminismo de direitos individuais, progresso e igualdade desabaram em uma carnificina sem precedentes. A guerra deixou os vencedores exaustos e desmoralizados, os perdedores com raiva e ressentimento e todos se perguntando o que deu errado.

Os vitoriosos aplicaram uma política de autodeterminação para reduzir o nível de lutas étnicas pela racionalização das fronteiras  e criação de pátrias para as várias “raças” (grupos culturais e linguísticos) da Europa. O esquema falhou em reduzir a tensão por quatro razões:

  1. Heterogeneidade regional tornou impossível criar estados puros etnicamente;
  2. O desejo de enfraquecer as antigas Potências Centrais levou à violações da diplomacia — colocação de grandes populações alemãs nas novas nações da Checoslováquia e da Polônia, e grandes populações húngaras na Romênia e na Checoslováquia;
  3. A diplomacia estava em desacordo com o desejo natural dos vitoriosos por pilhagem territorial e falhou ao recompensar a Itália com qualquer ganho territorial significativo (o Tirol, ao sul, não foi significativo na visão italiana);
  4. A diplomacia promoveu um nacionalismo agressivo.

A guerra também foi seguida por curtas e agudas recessões econômicas e, em alguns países, por hiperinflação.

Com tudo isso, não é difícil ver porque tantos autores vêem a Primeira Guerra Mundial como a “causa” primária do fascismo. O liberalismo iluminista falhou ao prevenir um enorme banho de sangue, criou uma paz com a qual ninguém estava feliz e destruiu a economia. Novas ideias, muitos pensavam, eram necessárias.

Aprovação das forças policiais e militares

As forças policiais e militares são responsáveis por exercer o monopólio da violência do Estado para manter a ordem e defender o Estado. Eles são altamente organizados e habilidosos no que fazem e respeitam a competência e eficiência. Eles não vão respeitar por muito tempo um governo que seja incompetente e ineficiente.

Os fascistas não “tomaram o poder” através de qualquer ameaça crível de violência. Uma vez no governo, eles procederam para consolidar e expandir seu poder através de meios tecnicamente legais.

Mal definidos

A ideologia fascista é vaga e volátil. É uma fonte infindável de frustração para quem espera encontrar uma definição coerente do fascismo nos escritos dos “filósofos” do partido. Mas isso reflete nada mais do que a abordagem pragmática do fascismo para alcançar seus objetivos e seu desejo de se vincular - como seus antecessores - a dogmas falhos. 

Como todo movimento popular, o fascismo tentou encapsular ideologia em pequenos slogans — “Acredite, obedeça, lute”, “Força através da alegria”, “O trabalho torna você livre”...


Apelo emocional

É geralmente observado que o fascismo foi mais uma questão de intestino do que de cabeça. Claramente, aqueles que se juntaram aos partidos fascistas geralmente o fizeram por um astuto interesse próprio, mas o mesmo pode ser dito dos que se juntam a qualquer partido. 

É o apelo emocional do fascismo – a noção de que através de pura esperança e força de vontade, problemas difíceis e de longa data podem ser facilmente resolvidos — que o diferencia. 

O Triunfo da Vontade

Essa ideia, claro, não é nova e permanece popular. A doutrina da Nova Era de “Destino Manifesto” sustenta que as ideias mantidas com firmeza se tornarão realidade. 

Essa doutrina aparece em várias formas — por exemplo, “O Poder do Pensamento Positivo”, “A Lei da Atração”, “A Mudança em que Você Pode Acreditar”. Em sua forma mais fraca, sustenta apenas que o pensamento positivo torna mais provável um resultado do que o pensamento negativo. Geralmente essa forma é  inofensiva e frequentemente produtiva. Em sua forma mais forte, sustenta que o pensamento positivo vai de fato produzir o resultado pretendido. Nesta forma é indistinguível da magia.

Soteriologia de unidade nacional, a resolução imediata e direta dos problemas, e intolerância para com os dissidentes
  1. Unidade Nacional: Este é um núcleo fixo do objetivo do fascismo. Sustenta que o conflito social pode ser transcendido através do serviço à Nação-Estado como a personificação da vontade do povo. Com todos servindo ao mesmo mestre, os conflitos internos vão desaparecer e o povo (com certos grupos externos excluídos, claro) irá alcançar seu destino.
  2. Resolução direta e imediata dos problemas. Isto é frequentemente confundido com violência. No entanto, praticamente tem mais a ver com ignorar procedimentos e tomar atalhos. Às vezes isso envolve violência das milícias e outras vezes não. É importante perceber que a burocratização excessiva e um sistema de justiça ineficiente desempenharam um papel na ascensão do fascismo. 
Um exemplo será útil:
(a) Lojista vende vinho a criança. Bate-paus fascistas espancam o lojista; 
(b) Lojista vende vinho a criança. Ele subornou a polícia e nada acontece; 
(c) Lojista vende vinho a criança. Ele subornou o juiz e seu caso é encerrado; 
(d) Lojista vende vinho a criança. A polícia o prende e ele é prontamente multado e preso; 
(e) Lojista vende vinho a criança. Ele é citado e o caso se arrasta por um ano e, por fim, é descartado com um apelo por uma pena menor ou com o deferimento de um acordo com a promotoria.
Uma pessoa interessada em que aconteça uma justiça substancial com as salvaguardas apropriadas para os direitos individuais escolheria o cenário (d) como o mais desejável. Mas se o cenário (d) não funciona, é o cenário (a) pior que as escolhas que restam? Pelo menos no cenário (a) a justiça substancial é feita. Esse foi o tipo de escolha que os fascistas fizeram. A ação direta alcançou resultados imediatos e contribuiu grandemente par a popularidade do fascismo em seus estágio ascendentes.

Intolerância com os dissidentes

Seria trivial observar que, já que o modelo fascista requer indivíduos que sirvam a Nação-Estado como a personificação da vontade popular e subordinando seus interesses a isso, dissidência seria impensável para qualquer verdadeiro fiel. 

Uma razão forte para suprimir a dissidência pode ser encontrada nas características emocionais do fascismo. Aceitando que as ideias mantidas firmemente se tornam realidade, um dissidente coloca em perigo o encantamento coletivo e pode ser visto como uma espécie de  feitiçaria maléfica."

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Fonte: Com informações de "Fascism: The Ultimate Definition", Chuck Anesi (2008) - tradução: Maurício Moura/Livre Pensamento - Imagem: Fascistas (domínio público) e Organograma por Chuck Anesi (reprodução para divulgação)

sábado, 13 de outubro de 2018

O Fascismo nas óticas de Robert O. Paxton e R.J.B. Bosworth

Robert O. Paxton
Robert O. Paxton


Robert Owen Paxton nasceu em 1932, na cidade de Lexington, Virgínia, EUA. Formado pelas universidades de Washington else, Oxford e Harvard, ele é um cientista político e historiador americano especializado em Vichy France, fascismo e Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Paxton também é vencedor do prêmio National Jewish Book Award for Holocaust e foi indicado para o National Book Award, na categoria: História.

Em seu livro "A Anatomia do Fascismo" (Alfred A. Knopf, 2004), ele desenvolve a seguinte definição:

“Fascismo pode ser definido como uma forma de comportamento político marcado pela preocupação obsessiva com o declínio, humilhação ou vitimização da comunidade e por cultos compensatórios de unidade, energia e pureza, em que um partido fortemente baseado em militantes nacionalistas comprometidos, trabalhando em colaboração desconfortável mas eficaz com as elites tradicionais, abandona liberdades democráticas e persegue com violência redentora e sem restrições éticas ou legais objetivos de limpeza interna e expansão externa” (Paxton, op. cit., p. 218)

Professor Richard Bosworth
R.J.B. Bosworth


Richard James Boon Bosworth é professor de História na Universidade da Austrália Ocidental e foi professor visitante nas Universidades de Columbia, Cambridge, Oxford e Trento. Em seu livro "Itália de Mussolini: Vida Sob a Ditadura Fascista, 1915 – 1945(Penguin Press, 2006) ele analisa as definições de Mann e Paxton, com alguma concordâncias e algumas críticas. 

Em relação a Paxton, ele aponta, por exemplo, que o regime fascista italiano, uma vez que tenha chegado ao poder, deixou o sistema legal praticamente intacto, fornecendo em boa medida o processo devido, nunca estabeleceu nada perto de um gulag e acomodou a igreja – coisas que dificilmente indicam que era “sem restrições legais ou éticas”. 

Sobre Mann, ele disputa a noção de que o fascismo italiano “assassinou a democracia” pela observação - correta - de que a Itália pré-fascista não era uma democracia, de qualquer maneira e questiona a importância da “transcendência” ideológica. 

Bosworth evita uma definição sucinta do Fascismo pelas razões que ele sumariza a seguir:

“…pode-se argumentar que a busca da definição do fascismo tornou-se absurdamente difícil. Por que optar por uma longa lista de fatores ou parágrafos de ornamentos rococó quando Mussolini, em várias ocasiões, informou pessoas que considerava convertidas à sua causa que o Fascismo  foi uma questão simples? 
Tudo o que foi necessário foi um partido único, dopolavoro [“depois do trabalho”, uma organização recreativa], e não é preciso dizer, um Duce (com um Bocchini para reprimir a dissidência) e uma vontade de excluir o inimigo (definido de alguma forma). 
Para ser ainda mais sucinto, como Mussolini disse a Franco em outubro de 1936, o que o espanhol precisava ter como objetivo era um regime que fosse simultaneamente ‘autoritário’, ‘social’ e ‘popular’. Essa amálgama, o Duce Aconselhado, foi a base do fascismo universal.” (Bosworth, op. cit., p. 564.)


quinta-feira, 11 de outubro de 2018

O fascismo na ótica Michael Mann



Michael Mann é um sociólogo histórico e professor de Sociologia na Universidade da Califórnia (UCLA). 

Ele obteve o seu B.A. em História Moderna na Universidade de Oxford em 1963 e o grau de Doutor (D. Phil) em sociologia na mesma instituição em 1971. Mann também é professor visitante na Universidade de Cambridge.

Mann é professor de Sociologia na UCLA desde 1987, foi leitor de Sociologia na London School of Economics e Political Science de 1977 a 1987. Mann também foi membro do Conselho de Diretores da revista Social Evolution & History.

Em seu livro "Fascistas" (Cambridge University Press, 2004), ele fornece a seguinte definição:

“Fascismo é a busca de um estatismo nacionalista transcendente e limpo através do paramilitarismo” (Mann, op. cit., p. 13)

Definição dos termos:

  • Transcendência: crença de que o Estado pode transcender os conflitos sociais e unir todas as classes em um todo harmonioso. Crença no poder da ideologia política de transcender a natureza humana e produzir um mundo melhor.
  • Limpeza (étnica): favorecimento um ou mais grupos étnicos ou raciais acima dos outros, tanto garantindo privilégios especiais quanto impondo dificuldades; deportação de minorias étnicas ou pior.
  • Limpeza (política): silenciamento da oposição política para que os objetivos transcendentes do fascismo possam ser realizados. Restrição à liberdade de expressão, colocando os partidos de oposição na ilegalidade, aprisionando oponentes políticos (ou pior) e doutrinando os jovens nos princípios fascistas.
  • Estatismo: promoção de um alto grau de intervenção estatal nos assuntos pessoais, sociais ou econômicos. Crença de que o Estado pode realizar tudo.
  • Nacionalismo: crença na unidade inerente de uma população com características linguísticas, físicas ou culturais distintas e sua identificação com um Estado-Nação. Crença de que a nação possui atributos especiais que fazem-na superior às outras nações em várias ou todas as formas.
  • Paramilitarismo: o nível mais básico da organização, esquadrões populistas que visam coagir oponentes e obter aprovação popular agindo como uma força policial complementar.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Osho, sobre Adolf Hitler


Adolf Hitler, em sua autobiografia, tem muitos insights; e ele é um homem que vale a pena entender porque ele é o mais puro político - quero dizer, o mais sujo.

Ele diz que a guerra é uma necessidade absoluta se você quiser permanecer no poder. Se você não pode criar uma guerra, as pessoas começam a pensar em você como um ninguém.

Somente em tempos de guerra que os heróis são nascidos.

Hitler diz que, se você não puder criar uma guerra, ao menos continue a propagar a ideia de que a guerra está chegando.

Nunca deixe as pessoas em paz, porque quando elas estão em paz, você não é ninguém.

Elas não precisam de você; seu propósito não está lá.

Elas precisam de você quando há perigo. Crie o perigo.

Se não houver perigo real, pelo menos crie o clima de um falso perigo.”

~ Osho

☞ DIREITA OU ESQUERDA?

NOME DO PARTIDO DE HITLER: 

Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista ou Nazi, foi um partido político de extrema-direita na Alemanha que esteve ativo entre 1920 e 1945. Seu antecessor, o Partido dos Trabalhadores Alemães, existiu no período entre 1919 e 1920 ver Wikipédia.
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Fonte (texto e imagem): *OSHO Brasil no Facebook (reprodução)

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Carros voadores autônomos estarão operacionais em 5 anos




CEO da Boeing: primeiros carros voadores autônomos estarão operacionais em menos de 5 anos - via GeekWire*


Os carros voadores autônomos sempre pareceram uma inovação futurística que pertence mais à tela dos cinemas do que à vida real, mas a Boeing está avançando rapidamente no conceito, e seu principal executivo diz que podemos ver os primeiros veículos aéreos autônomos operarem nos céus em menos de cinco anos.

Falando no GeekWire Summit, nos Estados Unidos, o CEO da Boeing, Dennis Muilenburg, expôs a visão da empresa para carros voadores, bem como a importância de medidas de segurança para o conceito. Muilenburg disse que a empresa já está construindo protótipos e espera que eles voem durante o ano.

"Imagine a cidade futura que tem rodovias tridimensionais, com táxis voadores, carros voadores", disse Muilenburg. "Esse futuro não está longe. Na verdade, estamos construindo os protótipos dos veículos hoje. Também estamos investindo no ecossistema que nos permitirá operar com segurança e confiabilidade como deve ser."

O cenário completo, de carros voadores autônomos - os self-flying cars - transportando pessoas através de áreas urbanas ocupadas, levará mais de cinco anos para se concretizar; disse Muilenburg, mas veículos que vão começar com funções mais simples, como cargas, não estão longe.

O CEO da Boeing, Dennis Muilenburg,
no GeekWire Summit. (Foto de Dan DeLong para GeekWire)
O ecossistema para gerenciar esse novo método de viagem inclui controle de tráfego aéreo aprimorado. 

No início deste ano, a Boeing se uniu à SparkCognition, sediada em Austin, Texas, para desenvolver inteligência artificial e tecnologias blockchain para rastrear e dirigir carros voadores através de corredores de tráfego aéreo.

Muilenburg não quis dizer onde essas naves futuristas seriam testadas, embora tenha dito que o ambiente seria semelhante ao do "Airbus Vahana", que está voando em Pendleton, Oregon. Testar carros voadores autônomos requer espaço aéreo dedicado e uma lista de aprovações de a Administração Federal da Aviação  dos EUA (F.A.A.).

No mês passado, a Boeing anunciou que o desenvolvimento de veículos aéreos autônomos seria o foco de um novo centro de pesquisa a ser inaugurado em Cambridge, Massachusetts, com a participação de engenheiros de sua subsidiária Aurora Flight Sciences e outras equipes da Boeing. Mesmo antes de sua aquisição, a Aurora estava desenvolvendo uma aeronave elétrica, com decolagem e aterrissagem vertical, para o serviço de táxi aéreo planejado pelo Uber.

Quer sejam necessários três, cinco, dez anos ou mais para que os carros autônomos estejam acima das ruas e rodovias da cidade, fica claro que a Boeing e muitas outras empresas aeroespaciais estão integradas no conceito.

"Esse trabalho está em andamento; essa é uma transformação que acontecerá mais rápido do que muitos de nós pensamos há alguns anos e, estamos na vanguarda", disse Muilenburg.
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Fonte: *GeekWire, por Nat Levy, editor de tecnologia (tradução livre) - Imagem: UBER flying car/Divulgação - O CEO da Boeing Dennis Muilenburg, foto de Dan DeLong, para GeekWire. (reprod.)