Cientistas desenham novas conexões entre as mudanças climáticas e o aquecimento dos oceanos - Toxicidade decorrente do aumento da temperatura pode colocar a pesca em risco - via Science News*
Os cientistas da Terra, que exploram como a química dos oceanos evoluiu, encontraram semelhanças entre um evento de 55 milhões de anos atrás e as atuais trajetórias preditas de temperaturas do planeta, com relação a despejo de gás carbônico (CO2) na atmosfera e níveis de oxigênio nos oceanos. À medida que os oceanos aquecem, o oxigênio diminui enquanto o sulfeto de hidrogênio aumenta, tornando os oceanos tóxicos e colocando as espécies marinhas em risco.
Isso já aconteceu uma vez antes e pode acontecer novamente
Esse é o alerta dos cientistas oceânicos da Universidade de Toronto e da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, num estudo publicado recentemente na Science que mostra como um aumento de CO2 na atmosfera da Terra, há mais de 50 milhões de anos, mudou dramaticamente a química dos oceanos do planeta.
Os pesquisadores sugerem que, se as emissões globais de carbono continuam a aumentar, o futuro de muitas espécies de peixes em nossos oceanos pode estar em risco.
"Nosso estudo mostra que o aquecimento global não é apenas a respeito de eventos climáticos extremos, ou verões mais quentes, mas tem o potencial de alterar a estrutura oceânica com consequências desconhecidas para a pesca", disse o professor Uli Wortmann, do Departamento de Ciências da Terra, da Faculdade de Ciências da Terra, co-autor do estudo.
Essa não é a primeira vez que isso acontece
"Nós mostramos que na última vez grandes quantidades de CO2 foram despejadas na atmosfera, não só o planeta ficou quente - no que é conhecido como o Máximo Termal do Paleoceno -, cerca de 55 milhões de anos atrás - mas também a química do oceano mudou de maneira bastante marcante", disse Wortmann. Ele foi acompanhado na pesquisa por Weiqi Yao, estudante de PhD da Universidade da Terra, principal autor do estudo, e Adina Paytan, do Instituto de Ciências Marinhas da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.
É amplamente aceito que um aumento no CO2 leva ao aquecimento, o que resulta em menos oxigênio em nossos oceanos.
Menos oxigênio permite que as bactérias que se alimentam de sulfato prosperem, o que produz sulfeto de hidrogênio - uma toxina de amplo espectro que é letal mesmo em pequenas concentrações.
"Isso afetará as espécies de peixes que vivem ou mergulham nas profundezas do oceano", disse Wortmann. "O mais notável seria o impacto em predadores de alto nível, como atuns e baleias, que por sua vez teriam um efeito cascata nas espécies de peixes que vivem nas águas rasas, comercialmente mais relevantes - até 200 metros abaixo do nível do mar -, e aqueles que vivem na profundidade média de aproximadamente 1.000 metros abaixo da superfície do oceano.
"O oceano médio e profundo é a maior e menos explorada parte do nosso planeta, lar de lulas gigantes e estranhos peixes do fundo do mar e também de alguns peixes comercialmente importantes como o Toothfish Patagônico, também conhecido como Robalo Chileno."
O Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (PETM) recebe o nome da fronteira entre dois períodos no passado da Terra. A quantidade de CO2 introduzida na atmosfera durante o período foi similar às trajetórias previstas de CO2 na atmosfera para o ano de 2100, adotado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática das Nações Unidas, se as emissões continuarem a aumentar ao longo do século XXI. Ele é visto como um bom modelo para a atividade de queima de combustíveis fósseis que está ocorrendo atualmente e é intensamente estudado por cientistas no contexto da mudança climática.
No curso de explorar como a química do oceano evoluiu nos últimos 60 milhões de anos, Yao se deparou com alguns dados incomuns - sugeridos em trabalhos anteriores de baixa resolução - os quais Wortmann sugere que a sabedoria convencional poderia considerar defeituosos. Ao perceber que os dados coincidiam com o intervalo PETM, os pesquisadores cavaram mais fundo para obter mais dados e conseguir mostrar que não era apenas um fato, mas um sinal real.
"O aumento das concentrações atmosféricas de CO2 anda de mãos dadas com a perda de oxigênio do oceano, e esta é a primeira demonstração de que a liberação de CO2 da atividade humana pode ser grande o suficiente para transformar partes do oceano em uma bebida tóxica", disse Wortmann.
Embora os pesquisadores não possam dizer quanto tempo levaria para que o aumento do nível de CO2 se torne evidente, eles dizem que a transição será rápida.
"Nosso estudo é outra peça do quebra-cabeças", disse Yao. "Isso destaca um aspecto frequentemente negligenciado no debate sobre as mudanças climáticas globais: o que acontecerá com a pesca marinha num mundo em aquecimento?"
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Fonte: *artigo publicado em Science News, com materiais fornecidos pela Universidade de Toronto (tradução livre) - Imagem: Uli Wortmann/Universidade de Toronto
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