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sábado, 25 de agosto de 2018

Campo magnético da Terra pode reverter-se muito rapidamente




O campo magnético da Terra pode reverter seus polos de forma ridiculamente mais rápida do que se pensava anteriormente, sugere estudo - via LiveScience*

A radiação solar bombardeia constantemente a Terra e o campo magnético da Terra a repele.
De acordo com um novo estudo, o escudo protetor do nosso planeta pode enfraquecer muito mais
rápido e imprevisível do que os cientistas pensavam anteriormente.
   (Crédito: NASA¹)

Como o escudo de força invisível ao redor da Estrela da Morte, o campo magnético da Terra envolve e protege nosso planeta das partículas mais quentes e mais estáveis ​​que o sol pode lançar sobre nosso caminho. Este escudo - produto natural do ferro fundido que gira em torno do núcleo do nosso planeta - esteve em nossas costas  (protegendo) por bilhões de anos e impediu que a Terra se transformasse num terreno irradiado e eletrificado. Entretanto, de vez em quando, este escudo baixa sua guarda.

Raras vezes, a cada milhão de anos, o campo magnético da Terra inverte sua polaridade. Imagine que um enorme ímã, em formato de barra, dentro do nosso planeta, tenha sido virado de cabeça para baixo; moléculas de ferro no núcleo externo da Terra mudariam de direção, o pólo norte magnético se tornaria o pólo sul magnético e as correntes invisíveis de energia que compõem a armadura magnética do planeta se entrelaçariam e se quebrariam, reduzindo potencialmente a força protetora do escudo em até 90%, segundo  sugerem estudos prévios.

Felizmente, reversões completas são incomuns e se desdobram lentamente ao longo de milhares de anos. (A última reversão completa ocorreu há cerca de 780 mil anos.) Porém, de acordo com um novo estudo publicado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências (EUA), mudanças parciais ou temporárias nos pólos magnéticos da Terra podem ocorrer muito mais rapidamente do que anteriormente se pensava possível - potencialmente, dentro do período de uma única vida humana.

No novo estudo, uma equipe internacional de cientistas analisou 16 mil anos de história geomagnética, codificada nos átomos de uma antiga estalagmite na China. Esta história escrita em pedra disse-lhes que uma vez, há cerca de 98 mil anos atrás, o campo magnético do planeta,  em apenas 100 anos, repentinamente inverteu a polaridade - aproximadamente 30 vezes mais rápido do que a taxa geralmente esperada, e 10 vezes mais rápido do que se pensava ser taxa mais rápida possível.

"O registro fornece informações importantes sobre o antigo comportamento do campo magnético, que acabou por variar muito mais rápido do que se pensava anteriormente", disse Andrew Roberts, professor de Ciências da Terra na Universidade Nacional Australiana, em um comunicado.


Uma história caótica

Em seu novo estudo, Roberts e uma grande equipe de colegas da China e Tailândia examinaram cerca de 16 mil anos, anteriormente não documentados, da história magnética da Terra. Como seu professor de história eles escolheram uma antiga estalagmite amarela, que cresceu em uma caverna no sudoeste da China, entre aproximadamente 91 e 107 mil anos atrás. Datando e analisando os minerais portadores de ferro dentro da estalagmite, a equipe foi capaz de detectar variações periódicas na direção em que o campo magnético da Terra estava fluindo no momento em que esses minerais se formaram (minerais magnéticos se orientam em direções diferentes dependendo de onde os pólos magnéticos da Terra estão no momento.)

A equipe descobriu que a polaridade magnética da Terra mudou várias vezes durante esse período de 16 mil anos, o que não foi uma surpresa para eles. O choque surgiu há cerca de 98 mil anos, quando uma enorme mudança na polaridade ocorreu em um período de menos de 200 anos - possivelmente em 100 anos.

"Uma mudança de polaridade extremamente rápida não havia sido demonstrada antes", escreveram os pesquisadores em seu novo estudo.

Saber que nosso planeta é capaz de tais surtos magnéticos espontâneos é importante, principalmente porque nosso escudo magnético pode diminuir para cerca de 10% de sua eficácia quando está no meio de uma reversão. Felizmente, esse enfraquecimento não é suficiente para ameaçar a vida na Terra; por fim, Roberts apontou que o campo magnético do planeta está se revertendo periodicamente há bilhões de anos, e a vida ainda persiste. A tecnologia humana, por outro lado, pode passar por tempos mais difíceis de se lidar.

Trilhões de dólares em danos

Eventos climáticos solares, como erupções solares e tempestades de vento solares, ocorrem quando partículas de energia superaquecidas e supercarregadas sopram da superfície do sol e percorrem o espaço em rota de colisão com a Terra. Mesmo quando o campo magnético do nosso planeta está mais forte, uma tempestade solar poderosa o suficiente pode passar por essas defesas e causar estragos em qualquer coisa elétrica.

Essa onda de partículas carregadas pode interferir com sinais de rádio, fritar os instrumentos das espaçonaves e dos satélites, e ainda sobrecarregar disjuntores, derrubando redes elétricas inteiras. Foi exatamente isso o que aconteceu em 13 de março de 1989, quando uma enorme tempestade solar estalou na atmosfera e derrubou a energia por 9 horas, em Quebec, no Canadá. Uma tempestade solar anterior ainda maior, em 1859, conhecida como o evento de Carrington, causou um curto-circuito nos fios telegráficos em todos os Estados Unidos, desencadeando fagulhas que provocaram incêndios e eletrocutaram trabalhadores de escritório.

Tempestades muito menos poderosas do que estas poderiam causar muito mais danos se acertassem, enquanto o campo magnético da Terra estava no meio de uma reversão, disse Roberts. O resultado provavelmente seria trilhões de dólares em danos à nossa infra-estrutura elétrica, e no momento, não há planos para lidar com um evento dessa magnitude.

"Espero que tal evento seja num longo caminho no futuro e possamos desenvolver tecnologias futuras para evitar danos enormes", concluiu Roberts. Mantenha os dedos cruzados - mas não suas linhas de campo magnético cruzadas. 
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Fonte: *publicado originalmente em Live Science, por Brandon Specktor, redator sênior (tradução livre) - Imagem: 1- NASA/Marshall Space Flight Center

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