Até quando?

Em 64 a C. um inimigo da República reuniu em torno de si os descontentes e os miseráveis e tornou-se chefe de um partido revolucionário cujo programa era a redução das dividas e a partilha das fortunas. Mas cujos objetivos reais era uma ditadura e eternizar-se no poder.

"Lúcio Catilina, era de um grande vigor de alma e de corpo, porém de natureza má e depravada. Desde a juventude, as guerras civis, os assassínios, as rapinas tiveram encantos para ele... Robusto de corpo, suportava a fome, as vigílias, o frio com incrível facilidade; quanto ao moral, era audacioso, astucioso, cheio de maciez, hábil em tudo fingir como a tudo dissimular, ávido dos bens alheios, pródigo dos seus, ardente nas suas paixões... Nada de excessivo, nada de inacessível havia que não atraísse constantemente essa alma insaciável. Depois da ditadura de Sila, ficara possuído do mais .violento desejo do poder supremo; e não tinha ele escrúpulos quanto aos meios de alcançá lo... No seio de uma cidade populosa e corrompida, Catilina, como era fácil, agrupara em torno de si, como satélites, todos os homens perdidos de devassidão e de crimes."

Contra ele, os moderados e os amantes da liberdade Republicana o maior orador e o mais fecundo escritor da literatura latina. Cícero escreveu contra Catilina quatro discursos chamados Catilinárias. Eis aqui o começo da primeira Catilinária que pronunciou em pleno Senado:

"Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?... Aonde irão parar os arrebatamentos dessa audácia desenfreada? Nem a guarda que vela a noite no monte Palatino, nem os postos de soldados espalhados na cidade, nem o terror do povo, nem o concurso dos bons cidadãos, nem a escolha, para a reunião do Senado, deste lugar, o mais seguro de todos, nem os olhares, nem o rosto dos que te cercam, nada te desconcerta... ó tempos! ó costumes! o Senado conhece todas essas maquinações, o, cônsul as vê; e Catilina vive ainda. Ele vive? que digo eu? ele vem ao Senado... o seu olhar escolhe todos aqueles dentre nós que ele deseja imolar!" ~Marcus Tullius Cicero

Desconcertado, Catilina deixou Roma na mesma tarde.

Pena que em nossa Nova República, não se destacam homens honestos como Cícero, que lutou contra Catilina, César e Marco Antonio (sendo morto por ordem deste), pela manutenção da República. Pena que em nosso país a honestidade está em baixa nos homens públicos, no centrão dos acordos parlamentares obscuros, e o nosso povo mantido na ignorância pela mídia de massa, acreditando que a corrupção é natural na nossa República e em nada adiantará lutar contra a desonestidade. Ao mesmo passo cresce a perseguição policial e jurídica, usando-se as instituições que deveriam servir e proteger o povo brasileiro para tentar manchar a reputação de homens públicos valorosos ao nosso país.

Na falta de um Cícero, só nos resta parafrasear a ele, assumindo a crença de que as palavras são eternas e guiada pelos deuses. Na falta de um homem que desperte nossa República, clamamos pelas palavras imortais na esperança de que com elas, nos livremos do tirano desonesto e manipulador, a cadela protofascista que vive no cio, que pode nos levar a um período de trevas e para a ditadura chapa branca da ignorância e da desonestidade.

Até quando, políticos corruptos e instituições públicas e privadas golpistas, abusarão da nossa paciência?...

Aonde irão parar seus desatinos desenfreados, até quando os chefes dos três poderes irão repetir que não sabem de nada e que todos brasileiros são desonestos como a matilha que barganha votos nas casas parlamentares por todo o nosso país? Parlamentares que tiveram a confiança do voto popular mas em troca sangram o erário público, prejudicando aqueles a quem deviam proteger. Até quando vão tentar nos impingir que a democracia não é uma coisa limpa!

Até quando veremos escândalos sucedendo escândalos e você repetindo que não sabe de nada? Será que está sendo bem assessorado? Mesmo ainda que saiba quem são os agentes que chafurdam na lama da corrupção e negociam votos na Câmara e no Senado, não faz nada para impedir essas negociatas sórdidas?

Até quando o veremos os corruptos, e inimigos dos amigos dos mais necessitados, se aliarem ao que de mais podre há em nosso mundo político? Basta de favorecer o capital vadio que vive de renda apenas trocando papel por papel às custas da pobreza de milhões. Hoje a fome está erradicada no Brasil, mas até quando?

Até quando veremos trabalho escravo no Brasil? Crianças esmolando nos semáforos, homens puxando carroças catando lixo nas ruas, enquanto vemos políticos inescrupulosos e inimigos da população brasileira mentindo na TV; afirmando que trabalham pelo povo que os elegeu, pelos pobres, enquanto os bancos, especuladores e rentistas lucram à custa do sofrimento do povo brasileiro? Não bastasse a informalidade, continuando assim, não demorará o dia em que veremos trabalhadores assalariados sem direito trabalhista algum.

Até quando o senhor vai permitir isso, meu caro e nobre Presidente Lula? Por favor, tome uma atitude. Está mais do que na hora da esquerda ter a maioria nos parlamentos federal e estaduais, para que se acabem as negociatas e a governabilidade de um homem justo, como é o senhor, seja garantida por nós do próprio povo.

Até quando teremos paciência Povo Brasileiro? Se um Lúcio Catilina quase levou a república da Roma antiga à total corrupção, hoje temos centenas deles eleitos enganando o povo, usando currais eleitorais, comprado votos com bonés, camisetas, chinelos, showmícios e uma cesta básica. Da Roma antiga até hoje evoluímos bastante em tecnologia, mas parece que jurídica, administrativa e politicamente, pouco mudou.

Precisamos resgatar a esperança e a fé do povo brasileiro antes que haja um golpe, e, que as forças das trevas se aproveitem para tomar os vácuos de poder, deixados por homens públicos corretos, que hoje verdadeiramente lutam por justiça social, melhor distribuição de renda. O povo acredita em pessoas como o senhor, Presidente. Gente que quer fazer verdadeiramente do Brasil um país desenvolvido, de primeiro mundo. Não podemos voltar à era medieval, das trevas, aonde se plantavam em torno dos burgos apenas para alimentar os senhores dos castelos. "A gente não quer só comida, a gente também quer diversão e arte, a gente quer saída para qualquer parte."

Se você concorda com o texto que acabou de ler, e ainda acredita que nosso país tem jeito. Que somos governados por um presidente honesto. Que temos um ministério competente, mas percebe que o cerco dos políticos do 'toma lá dá cá' está crescendo, que a velha forma viciada de fazer política tem que acabar e que a democracia - hoje ameaçada por parlamentares e magistrados malfeitores - deve ser limpa e transparente, junte-se a mim na defesa da República Federativa do Brasil e repasse esse Grito Ancestral, que ainda ecoa dentro de nós. Ó tempos! Ó costumes! Até quando?

Fonte: Blog - Labirinto: postado em 24 de setembro de 2006, por Gwydyon Drake.

Imagem: Image by John Leech, from: The Comic History of Rome by Gilbert Abbott A Beckett - Bradbury, Evans & Co, London, 1850s - Cicero denouncing Cataline

Qualquer semelhança na imagem é mera coincidência, a imagem é de 1850, ano no qual a gravura que ilustra o texto foi feita (Bradbury, Evans & Co, London, 1850s - Cicero denouncing Cataline).