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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A revolução tupiniquim

Uma onda revolucionária toma conta do mundo. Como se houvesse tocado um despertador na Tunísia e o som estivesse se propagando pela Terra. As mídias digitais propagam este som aos quatro cantos do Planeta. Caiu um ditador enquanto outro cambaleante, num acesso de loucura diz que só sai do poder morto.

A morte é resultado da vida. O solo há de consumir cada um de nós algum dia, entretanto enquanto resta uma golfada de ar nos pulmões estamos vivos. Ou quase vivos, pois em grande parte do globo ainda existem pessoas escravizadas, subjugadas por regimes autoritários e levianos. Como a morte é resultado da vida, em um ciclo perene, a democracia também é o resultado da ditadura, é a morte da ditadura, pois o ser humano nasceu para ser livre.

Hoje assistindo o telejornal me veio uma introspecção, ao ver a notícia sobre a jovem que morreu ao cair do trio-elétrico na orla carioca. Pensei, ora, é a onda revolucionária em sua forma tupiniquim. Enquanto o povo vai às ruas no oriente médio, ocupa as praças e parques, brada seu grito por liberdade, aqui fazemos o que é estabelecido em nossa cultura.

Desculpem-me usar de ironia, mas como bom brasileiro foi dela que saíram estas mal traçadas linhas... Vejo estudos ditos científicos argumentando que catástrofe como a ocorrida na região serrana do Rio de Janeiro só acontece de 500 em 500 anos. Assisto estupefato ao discurso de políticos e funcionários públicos que dizem que o papelzinho que jogamos pela janela do carro é responsável pelas inundações e alagamentos. E mais! Comentários nas notícias, que usam da mesma ironia, mesmo que de uma forma mais branda, alegando que a culpa é da própria população, do incauto cidadão desinformado.

Nossa presidente, ou devo dizer presidenta, pois no programa de rádio ‘A Hora do Brasil’ é assim que a chamam, já teve uma loja de artigos de 1 real e 99 centavos, as famosas lojas de 199 que pela inflação acabaram falindo em menos de 3 anos. O nome da lojinha da senhora presidente era ‘Panem et circenses’, a forma acusativa da expressão latina ‘panis et circenses’, que significa ‘pão e jogos circenses’, o popular pão e circo. Esta foi a política adotada pelos antigos imperadores, ou devo dizer ditadores, romanos, que se fundava no provimento de comida e diversão ao povo, com o objetivo de diminuir a insatisfação popular contra os governantes.

Analisando o exposto concluí que depois do Oriente Médio já começaram também por aqui as manifestações populares e, a nossa revolução tupiniquim, estes distúrbios, devem durar ao menos até o próximo dia 9 de março. As agencias de notícia já apontam ao menos uma morte relacionada a este levante popular, aconteceu em via pública, na orla de Copacabana. Não contabilizei aqui os desencarnados do ataque da natureza, no fatídico janeiro passado, no qual mais de 1000 brasileiros e brasileiras perderem a vida... e que deve voltar a acontecer dentro de 500 anos. Mas fiquemos tranqüilos, marchemos de cabeça erguida, pois na semana seguinte ao 9 de março o rei (Momo) finalmente será deposto...

Postagem publicada também pela coluna Opinião do Leitor, do Jornal O Globo, do Rio de Janeiro, (edição on-line), em 23/02/2011 as 17h18: http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2011/02/23/a-revolucao-arabe-a-revolucao-tupiniquim-923866590.asp

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