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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Qual a velocidade do pensamento?




por Isaac Asimov*

Qual a velocidade do pensamento? Depende do que se entenda por “pensamento”.

Poder-se-ia ter em mente a imaginação. Posso imaginar-me estando nesse exato m omento aqui na Terra e um segundo mais tarde imaginar que estou em Marte ou em Alfa Centauro ou perto de algum distante quasar. Se é isso o que se entende por “pensamento” então pode-se sustentar que o pensamento pode assumir qualquer velocidade, inclusive a infinita.

Sim, mas realmente não fui transportado a tais distâncias, não é? Posso imaginar-me estando presente no momento da formação da Terra, mas isso não significa que participei de alguma viagem no tempo. Posso imaginar-me no centro do Sol, m,as isso não quer dizer que eu consiga realmente sobreviver em tais condições.

Para que a questão  tenha significado num sentido científico, deve-se definir o “pensamento” de tal forma que ele tenha uma velocidade que possa efetivamente ser medida por métodos físicos.

Exemplificando, podemos pensar unicamente devido à existência de impulsos que se propagam de célula nervosa para célula nervosa. Qualquer ação que envolva o sistema nervoso depende desses impulsos. Quando você toca num objeto quente, rapidamente retira a mão, mas isso não pode se dar até que a sensação de calor se transmita de sua mão para o seu sistema nervoso central. e que outro impulso nervoso se transmita do seu sistema nervoso central para seus músculos.

O “pensamento” inconsciente envolvido na situação – “sinto algo me queimando, é melhor retirar a mão antes que ela fique gravemente ferida” – não pode exceder o tempo gasto pelo impulso para percorrer  a distância necessária de ida e volta. Assim, devemos entender por “velocidade do pensamento” a “velocidade do impulso nervoso” ou nenhuma resposta será possível.


Em 1846, o grande fisiologista alemão Johannes Müller, num acesso de pessimismo, afirmou que a velocidade de um impulso nervoso jamais poderia ser medida. Seis anos depois, em 1852, um de seus antigos discípulos, Hermann von Helmholtz, conseguiu medi-la, fazendo uso de um músculo ao qual o nervo ainda estava ligado. 

Helmholtz estimulava o nervo em diferentes pontos e media o tempo decorrido até que o músculo se contraísse. Ao estimular o nervo num ponto mais distante do músculo, a contração demorava mais para ocorrer. A partir do intervalo da demora, ele calculou o tempo que o impulso nervoso levava para percorrer a distância adicional.

A velocidade do impulso nervoso depende da espessura do nervo; quanto mais espesso, mais rápida a propagação. Ele depende também da presença ou ausência de uma camada de material gorduroso isolando o nervo. Um nervo isolado conduz o impulso nervoso mais depressa que um não-isolado.

Os nervos dos mamíferos são os mais finos do reino animal e, nos melhores nervos dos mamíferos, a velocidade do impulso nervoso pode chegar a cerca de 100 metros por segundo, ou se preferirem 360 quilômetros por hora.

Isso pode parecer demasiado pouco. A velocidade do pensamento não é maior do que a de um avião a hélice de modelo antigo. Mas pense que um impulso nervoso pode ir e voltar de um ponto qualquer a outro do corpo humano em menos que 1/25 de segundo (isso representa o tempo gasto de processamento no sistema nervoso central). 

A maior extensão de nervo de um mamífero é a que existe na baleia azul de trinta metros de comprimento e , mesmo assim, o impulso nervoso percorre essa distância, ida e volta, em pouco mais que meio segundo, o que é razoavelmente rápido.
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Fonte: *Isaac Asimov foi escritor e bioquímico nascido na Russia.  Foi um dos maiores autores de Ficção Científica da História e um dos grandes nomes da divulgação científica de todos os tempos.

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