Crédito: Brian Taylor |
por Michael Shermer*
Em 16 de maio de 2012 eu gastei várias horas em um ônibus quente em um deserto de neon chamado Las Vegas com um alegre bando de conspiracionistas britânicos durante sua jornada pelo sudeste em busca de OVNIs, Aliens, Área 51 e encobrimentos governamentais, todos de um documentário da BBC. Uma mulher deliciou-me com um conto sobre bolas laranjas de energia flutuando à volta do seu carro na Interestadual 405 na Califórnia, que foram expulsos em seguida por helicópteros de operações secretas. Um homem me desafiou a explicar a fonte de um feixe de laser verde que o seguiu pelo interior inglês uma noite. Conspirações são um constante favorito para produtores de televisão porque tem sempre uma audiência receptiva. Um recente documentário da Canadian Broadcasting Corporation (CBC) que eu participei no chamado Conspiracy Rising, por exemplo, destacou teorias por trás das mortes de JFK e Princesa Diana, OVNIs, Área 51 e 11 de setembro, como se houvesse um traço comum ligando todos.
De acordo com o apresentador de rádio e traficante de conspirações Alex Jones, que também aparece no filme, “Um complexo industrial-militar assassinou John F. Kennedy” e “Eu posso provar que existe um cartel bancário privado criando um governo global porque eles admitem que são” e “Não importa como você olha para o 11 de setembro, não há conexões terroristas islâmicas – os sequestradores são claramente agentes do governo dos EUA que foram criados como bodes expiatórios como Lee Harvey Oswald”.
Tais exemplos, juntamente com outros em meus anos de patrulha de conspirações, são emblemáticos de uma tendência que eu tenho detectado nessas pessoas que acreditam em uma tal teoria, tendem a acreditar em várias outras intrigas igualmente improváveis e geralmente contraditórias.
Essa observação foi recentemente confirmada empiricamente pelos psicólogos da Universidade de Kent, Michael J. Wood, Karen M. Douglas e Robbie M. Sutton em um paper intitulado “Vivo e Morto: Crenças em Teorias de Conspiração Contraditórias”¹, publicado na revista Social Psychological and Personality Science em janeiro de 2012.
Os autores começam definindo uma teoria das conspiração como “uma trama planejada por pessoas poderosas ou organizações que trabalham juntas em segredo para realizar algum objetivo (geralmente sinistro)” isto é “notoriamente resistente à falsificação… com novas camadas de conspiração sendo adicionadas para racionalizar cada nova peça de evidência de refutação”.
Uma vez que você acredite que “uma massiva, sinistra conspiração pode ser executada com sucesso em um segredo quase perfeito, [isso] sugere que muitas outras tramas são possíveis”.
Com este paradigma cabalístico no lugar, conspirações podem começar “a explicação padrão para qualquer evento determinado – uma unitária, fechada visão do mundo em que cada crença vem junto com uma rede de apoio mútuo conhecida como um sistema monológico de crença”.
Esse sistema monológico de crença explica as relações significativas entre diferentes teorias de conspiração no estudo. Por exemplo, “uma crença de que uma célula desonesta do MI6 foi responsável pela morte da [Princesa] Diana está correlacionada com a crença em teorias de que o HIV foi criado em laboratório… de que o pouso na lua foi um embuste… e que esses governos tem acobertado a existência de Aliens”.
O efeito continua mesmo quando as conspirações se contradizem uma à outra: quanto mais participantes acreditarem que Diana forjou a própria morte, mais eles acreditarão que ela foi assassinada.
Os autores sugerem que há um processo de ordem superior no trabalho que eles chamam de coerência global que se sobrepõe contradições locais: “Alguém que acredita em um número significativo de teorias da conspiração vai naturalmente começar a ver autoridades como fundamentalmente enganadoras e novas teorias da conspiração vão se tornar mais plausíveis à luz de tal crença”.
Além disso, “defensores da conspiração desconfiam que narrativas oficiais possam ser tão fortes quanto quaisquer teorias alternativas que possa ser confirmadas apesar de qualquer contradição entre elas”. Assim, eles afirmam, “quanto mais esses participantes acreditam que uma pessoa no centro de uma teoria da conspiração relacionada com a morte, como a Princesa Diana ou Osama [bin] Laden, está viva, mais eles também tendem a acreditar que a mesma pessoa foi assassinada, quando a suposta causa da morte envolver uma fraude oficial.
Como Alex Jones proclamou no Conspiracy Rising: “ninguém está a salvo, você entende isso? Pura maldade está correndo selvagemente nos níveis mais elevados”.
No seu site Infowars.com, Jones titula sua página com “Porque Existe uma Guerra pela Sua Mente”. É verdade e esse é o porquê de a ciência e a razão precisarem sempre prevalecer sobre o medo e a irracionalidade. Os fanáticos de conspirações se apoiam nos últimos à custa dos primeiros.
1. Dead and Alive:Beliefs in Contradictory Conspiracy Theories (NdT)
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Fonte: Scientific American - Publicado originalmente com o título Why People Believe Conspiracy Theories (Tradução: Maurício Sauerbronn de Moura/Livre Pensamento) - Imagem: Brian Taylor/SciAm
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