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sábado, 11 de maio de 2013

O "Canto do Cisne" do Capitalismo




via Causa Operária e Diário Liberdade (¢opyleft)


Os meandros do por que o estado burguês é obrigado a repassar trilhões para os capitalistas? Qual é o sentido das taxas de juros super baixas para os capitalistas e das medidas de estímulo nos EUA, na Europa e no Japão?

As principais potências imperialistas têm repassado trilhões aos capitalistas com o objetivo de evitar a bancarrota e garantir-lhes os lucros a qualquer custo.

Nos Estados Unidos, a Reserva Federal repassa mensalmente US$ 85 bilhões por meio da compra de títulos podres no valor cheio. No Japão, o BdJ (Banco do Japão) começou a repassar US$ 750 bilhões por ano com o mesmo objetivo. Na Europa, após o fracasso do LTRO (long term refinancing operation), que repassou € 1 trilhão no início do ano passado, e após o BCE (Banco Central Europeu) ter assumido o controle direto de 80% dos bancos europeus, o BCE anunciou a redução da taxa de juros (dos empréstimo para os capitalistas) de 0,75% para 0,5%.

O fracasso da contenção da crise capitalista mostra a senilidade do sistema. As grandes empresas somente conseguem continuar funcionando sob a base do crescente parasitismo nos recursos públicos. A concentração da crise capitalista no estado burguês é um claro sinal da contradição entre a apropriação privada dos lucros e a socialização do processo produtivo. Essa contradição é a raiz da crise que somente pode ser resolvida expropriando o punhado de especuladores financeiros que domina o mundo.

Por que o estado burguês é obrigado a repassar trilhões para os capitalistas?

Um recente relatório da TBAC (Treasury Borrowing Advisory Committee ou Comitê de Coordenação dos Empréstimos do Tesouro) dos Estados Unidos mostrou que a demanda total por HQCs (High Quality Collaterals ou colaterais de alta qualidade) é de nada menos que US$ 11,2 trilhões, em condições de estresse, nos EUA. Em condições de "normalidade" a demanda seria de "apenas" US$ 5,7 trilhões.

Os números mostram a falsidade do chamado acordo Basileia III, que teria como objetivo reduzir a exposição ao risco do sistema financeiro. Uma das medidas principais seria aumentar o volume de ativos próprios de 3% (nível de 2007) para 11%. A imprensa imperialista tem propagandeado um cenário otimista onde os bancos teriam ultrapassado esse patamar e que o valor adicional teria ficado entre US$ 1 trilhão e US$ 2 trilhões, muito longe dos números apresentados pelo TBAC. O Basileia III não passa de uma mentira deslavada para ocultar uma realidade catastrófica.

Os chamados "ativos" são papéis, títulos financeiros, que teriam notas melhores das agências qualificadoras de riscos. Para chegar nesses percentuais são atribuídos risco de 0% aos títulos do governo norte-americano e de 20% aos títulos dos outros bancos. Ou seja, a própria contabilidade é tão podre que, no caso da bancarrota de uma peça do sistema, ele todo vem abaixo. Uma nova bancarrota em cascata, como a detonada a partir da bancarrota do Lehman Brothers em 2008, mas em proporções muito maiores, é somente uma questão de tempo.

Os trilhões repassados para os capitalistas (que hoje se identificam com os especuladores financeiros), por meio dos chamados programas QE (quantitative easing ou alívio quantitativo) tem um calcanhar de Aquiles gigantesco e imediato. Para esses recursos serem aplicados na especulação financeira se fazem necessários enormes volumes de recursos destinados a funcionarem como colaterais (espécie de fiança), que hoje estão dimensionados, pelo TBAC em US$ 11,2 trilhões nos Estados Unidos. Isso que dizer que conforme o capital fictício aumentar, mais capital fictício será necessário, numa adição parecida com a de um dependente de crack que antes tenha sido usuário de cocaína.

O calcanhar de Aquiles da especulação financeira

O coração da economia capitalista é a especulação financeira. A crise capitalista mundial de 1974 colocou uma lápide nas atividades produtivas. A queda da taxa de lucro se acelerou. As leis analisadas por Karl Marx, no livro O Capital, passaram a atuar com intensidade máxima – a busca pelo lucro a qualquer custo, a super exploração dos trabalhadores, a tendência à queda das taxas de lucro, esta última apesar dos mecanismos ultra-depredadores para contê-la. 

O chamado neoliberalismo teve como base a entrada no mercado de centenas de milhões de operários asiáticos, submetidos a condições de trabalho de semi-escravidão, e a entrega aos capitalistas das empresas públicas e do grosso dos recursos da sociedade. Desta maneira, a especulação financeira alcançou níveis nunca imaginados antes, com os nefastos derivativos financeiros somando 15 vezes o PIB mundial, convertendo o mundo num verdadeiro casino de apostas e contra-apostas.

O neoliberalismo entrou em colapso definitivo com a bancarrota capitalista de 2007-2008. Devido à impossibilidade de elaborar uma nova política por causa do tremendo parasitismo, a economia continua funcionando basicamente em cima da especulação, que acarreta operações de apostas e contra-apostas para garantir os lucros dos capitalistas. 

As próprias regras contábeis, a chamada SFAS-140, considera ofull book netting (vínculos contábeis cheios), que significa que os riscos de uma empresa são descontados pela outra, numa operação parecida com o desconto do ICMS em operações interestaduais na contabilidade brasileira. Na realidade, é uma operação suicida, kamikaze, que somente se sustenta sob a premissa de que não acontecerá uma bancarrota em massa como a que começou em 2007. O problema é que os mesmos mecanismos que levaram a esse colapso se encontram em pleno funcionamento agora, mas em intensidade muito maior, devido à paralisia da economia e ao enorme endividamento do estado burguês.


Por que os capitalistas precisam de trilhões em colaterais?

A especulação financeira requer não somente dinheiro para especular com a compra e venda de títulos, mas também montantes enormes para apostar em cima dessas transações, tal é a essência do sistema financeiro.

Os gigantescos volumes de recursos repassados pelos governos, eles próprios criados a partir do ar, por meio da impressão de títulos públicos e/ou moeda sem lastro produtivo, elevou o requerimento de colaterais hoje, para US$ 11,2 trilhões segundo o TBAC.

A criação de colaterais não tem condições de ser viabilizada pelos monopólios, pelo setor privado, devido à economia estar em recessão e os investimentos privados terem sumido do mapa. Por esse motivo, a "saída" tem sido os obscenos programas de transferência de recursos públicos denominados QEs. Os QEs viabilizam os colaterais enquanto os empréstimos ilimitados a taxas próximas a 0% (os chamados ZIRP – zero interest rate program) viabilizam a geração praticamente ilimitada de derivativos financeiros.

A esmagadora maioria das grandes empresas estão direcionadas para a especulação financeira, com o foco de favorecer os grandes acionistas – repasse de dividendos, recompra de ações e outras transações especulativas a curto prazo. Os títulos financeiros gerados são de baixa qualidade e, por isso, não podem ser usados como colaterais HQC (de alta qualidade). O "estelionato", que é próprio do estágio atual do capitalismo, é que esses títulos semipodres são comprados pelos bancos centrais pelo valor cheio, que os adicionam à falida corrente fractional reserve repo, que não passa do acúmulo de títulos podres, transformando colaterais depreciados em dinheiro vivo para as grandes empresas. Um excelente negócio para os monopólios imperialistas.

Para manter esses mecanismos funcionando, além das emissões de moeda podre, em cujas operações os chamados primary dealers (compradores no atacado) abocanham grandes lucros, tem proliferado as operações "ilegais", como as lavagens do dinheiro do tráfico de drogas e outros (tem acontecido inúmeros escândalos nos últimos anos), a manipulação de índices, os paraísos fiscais, a aterradora depredação ambiental (gás e petróleo a partir do xisto pela fratura hidráulica, exploração no Ártico etc) e a superexploração dos trabalhadores (queda acentuada da qualidade de vida em todos os países desenvolvidos, arrocho salarial, trabalho escravo etc).

Qual é o impacto do "déficit" de colaterais para o sistema financeiro?

Em 2008, a quantidade de dinheiro podre (shadow money) foi estimada em US$ 21 trilhões no sistema bancário norte-americano. Hoje em dia, a quantidade está estimada em US$ 30 trilhões, dos quais a metade não está suportada por colaterais. O déficit de mais de US$ 11 trilhões em colaterais levará à queima de um volume de capitais fictícios muito maior que o de 2008, simplesmente considerando uma situação similar. O buraco teria que ser coberto pelo estado. Mas como fazê-lo com os volumes de endividamento atuais?

A Reserva Federal, assim como os demais bancos centrais, não podem inundar o mercado com a velocidade "necessária" sob o risco de provocar a disparada da inflação. O coração do sistema capitalista se direciona aceleradamente a engripar, da mesma maneira que aconteceu no início da década de 1930, quando ainda existia o padrão ouro, mas em condições mil vezes mais explosivas.

Os "aceleradores" dos lucros capitalistas

As principais praças financeiras onde são emitidos os nefastos derivativos financeiros são Wall Street e a Citi de Londres. Por cada transação, os grandes bancos recebem um percentual que oscila em torno aos 2,5%. Isso explica os enormes volumes movimentados. Mas para o capitalismo parasitário os lucros nunca são suficientes.

A manipulação dos índices tem sido um dos métodos correntes para acelerar os lucros. Há alguns meses foi revelado o escândalo da manipulação da taxa Líbor pelos principais bancos imperialistas, que é usada para indexar US$ 500 trilhões anuais em transações especulativas, principalmente, em cima de CDS (credit default swap), que são usados como uma espécie de seguro para as transações relacionadas com os títulos principais.

Recentemente, o maior broker (negociante) de IRSs (interest-rate swaps), o ICAP, com sede na Citi de Londres, passou a ser investigado pelo governo norte-americano por ter manipulado o ISDAfix (o índice usado mundialmente para calcular os IRS) junto com os 15 maiores bancos em escala mundial. O ISDAfix indexa US$ 379 trilhões em transações com apostas em transações com intercâmbio de moedas. Simplesmente atrasando a publicação do índice, mas revelando-o antecipadamente a um grupo de especuladores, possibilitou lucros gigantescos.

Falar de mercado livre (free Market), conforme é propagandeado pela imprensa imperialista está a um milhão de anos luz da realidade. O que existe é um controle obscenos dos principais recursos da sociedade por um pouco mais de uma centena de famílias de especuladores que domina o mundo. Toda a política mundial está orientada para manter o fluxo de recursos para esses parasitas. Nos EUA, os seis maiores bancos são proprietários de 60% do PIB.

Qual é o significado da "nova" política de "estímulo" econômica de Japão?

A implementação da nova onda neoliberal tem sido acompanhada por um reforço da máquina de propaganda imperialista.

Na Europa, a recente redução das taxas de juros foi acompanhada pela manipulação descarada dos índices de inflação que, supostamente, teriam caído. Não será nada estranho se nos próximos meses ou semanas esses índices mostrarem que a inflação começou a crescer novamente.

No Japão, começou a ser aplicada uma política kamikaze, que revela o desespero da burguesia perante o estado patético da economia. O problema seria supostamente o risco da deflação e a política econômica pretenderia fazer com que a inflação atinja 2% anuais. O mecanismo: aumentar os repasses de recursos públicos para os monopólios imperialistas.

Analisando um pouco mais de perto os efeitos dessa política revela-se a farsa. Os efeitos têm um objetivo imediato: garantir os lucros a qualquer custo e repassar o peso da crise sobre os trabalhadores. Mais nada. A economia ao invés de melhorar só pode pior. Por que?

Em relação às exportações, a desvalorização do iene não deve ajudar em nada devido à realocação da maior parte das plantas industriais para países onde a mão de obra e mais barata, como a Tailândia, as Filipinas e a Indonésia. Os monopólios localizados no Japão que ainda exportam, como a Sony e a Sharp, se encontram à beira da bancarrota sob o efeito da concorrência da produção dos outros países da região, como as empresas que atuam na Coreia do Sul.

O iene desvalorizado deverá aumentar os custos com as importações de energia, principalmente de petróleo. A balança comercial e a balança de contas correntes estão no negativo há vários meses e piorando. A desvalorização do dólar tem levado ao aumento dos preços das commodities que são precificadas em dólar.

O maior comprador de títulos públicos tem sido o próprio BdJ, da mesma maneira que acontece nos Estados Unidos e na Grã Bretanha. O aumento da inflação provocará o aumento dos preços dos títulos públicos, cujos juros hoje consomem 24% do orçamento público. Se a inflação (oficial) chegar a 3% (a meta do governo é de 2%), três quartas partes da arrecadação será consumida pelo pagamento dos juros. 

A situação é tão dramática que nem mesmo a redução da dívida pública pelo aumento da inflação não é possível: há excesso de moeda, não há velocidade de circulação pois o dinheiro fracional (fractional money) está quebrado devido à paralisia econômica, a demanda está em forte contração.

A economia real no sistema capitalista mundial avança a passos largos em direção à bancarrota: produção industrial e poder de compra em queda livre; desemprego, inflação e endividamento em disparada.

A única "saída" para conter o aprofundamento da crise capitalista é "mais do mesmo" devido à falta de alternativas inviabilizadas pelo parasitismo extremo. 

Uma nova onda neoliberal em larga escala somente pode ser aplicada por meio de uma política de força. Isso explica o ressurgimento do militarismo fascista no Japão e o aumento das atividades extraparlamentares pelos setores de extrema direita no mundo inteiro. 

Essa política somente pode ser enfrentada pela organização das massas trabalhadoras independentemente de todos os setores da burguesia. Por esse motivo, a tarefa histórica colocada hoje é a luta pela organização independente do proletariado no próprio partido.