Direito à Educação :: Como exigir
Os direitos sociais e, especificamente, o direito à educação, são exigíveis nacional e internacionalmente. Se alguma pessoa ou grupo de
pessoas tem seu direito à educação desrespeitado, pode e deve recorrer a
autoridades locais, nacionais ou internacionais para reivindicar o que
leis brasileiras e normas internacionais garantem.
Existem diferentes maneiras de fazer essa exigência. É por isso que este manual adota uma concepção ampla de exigibilidade, com três dimensões (social, política e jurídica), detalhadas a seguir.
Mas existe um passo que vem antes. Ninguém exige algo que não
conhece. É por isso que cada pessoa precisa ter consciência de que a
educação é um direito. Só dizer “você tem direito à educação” pode não
funcionar, porque em geral as pessoas não têm conhecimento sobre a
amplitude desse direito e sobre sua relação com os demais direitos
humanos. Poderíamos pensar em atividades de sensibilização, como
debates, reuniões e peças de teatro, que comuniquem abertamente que o
direito à educação já existe e é responsabilidade do governo garanti-lo.
A exigibilidade social ou difusa diz
respeito à conscientização e à pressão social que um conjunto de
pessoas pode realizar. Se a sociedade não pressiona, por exemplo, por
uma escola de qualidade, dificilmente o governo se sente obrigado a
oferecê-la. Do mesmo modo, se pais e alunos não reclamam quando o
transporte ou a merenda escolar deixam de ser oferecidos, ou são
oferecidos com má qualidade, é possível que a situação assim permaneça e
que nada aconteça com as autoridades responsáveis, ainda que sejam
direitos garantidos por lei.
Essa pressão social pode ser feita das mais variadas formas:
protestos, passeatas, atos públicos, abaixo-assinados, debates,
panfletos, sites, blogs, e-mails e cartas dirigidas a políticos, órgãos
públicos e à sociedade em geral.
Outro recurso que dá resultado é levar uma denúncia ou uma reclamação
ao conhecimento público, através dos meios de comunicação, seja
escrevendo à seção de cartas, ligando diretamente na redação dos jornais
e revistas ou enviando diretamente a um repórter (pode ser um
profissional mais sensível ao tema da educação ou dos direitos humanos)
informações sobre o problema. Se a sociedade está atenta às ações dos
governos e expressa publicamente sua opinião, é mais difícil que um
político tome atitudes contrárias ao interesse público.
Além disso, para que um direito seja
reconhecido na lei e implementado na prática é necessário o envolvimento
dos beneficiários diretos e indiretos. É isso que chamamos de uma
“cultura de direitos” na sociedade, ou seja, uma população capaz de
reconhecer seus próprios direitos, os direitos dos demais e de lutar por
sua implementação. A escola tem um importante papel na difusão dessa
cultura, pois uma de suas funções principais é a educação para o
exercício da cidadania ativa.
Atuação Política
Já a exigibilidade política ou institucional
envolve as ações de incidência e as mobilizações sociais mais contínuas
em favor de legislações e políticas públicas capazes de efetivar, na
prática, o direito humano reconhecido pela Constituição, pelas leis e
pelos tratados internacionais. Envolve ainda o monitoramento permanente
de tais políticas e normas para que sejam evitados retrocessos e
descumprimentos. Quando falamos em exigibilidade política estamos
tratando da necessidade de estabelecer diálogo direto e independente com
os políticos, tanto do Poder Executivo (como prefeitos, governadores e
secretários) como do Poder Legislativo (deputados, senadores e
vereadores).
Essa atuação pode começar no seu bairro – por meio de uma associação
de moradores que exija mais creches, por exemplo – e chegar até a
pressão que se faz sobre deputados federais para a aprovação de mais
recursos para a educação nacional. Também há a possibilidade de ocupar
espaços que já existem e são garantidos por lei, como os conselhos de
políticas públicas.
Caminhos para promover a exigibilidade política:
- Direito à livre associação.
É o direito de se organizar política e coletivamente para exigir um
direito, por exemplo, a educação. Trata-se de uma garantia básica que
todo Estado democrático deve assegurar. Para exercê-la não é preciso
autorização prévia, basta que cada pessoa esteja de acordo com as ideias
do coletivo ao qual está se associando. Essa associação pode ser
formalizada em cartório, mas a ausência de registro não impede a atuação
coletiva das pessoas.
- Direito de participar em conselhos e comissões públicas.
Em várias áreas e níveis da vida pública existem instâncias abertas à
participação de cidadãs e cidadãos. Na educação acontece o mesmo.
Existem conselhos de regulamentação dos sistemas de ensino (conselhos de
educação), conselhos responsáveis pela gestão de cada unidade de ensino
(conselhos escolares) e conselhos de fiscalização de programas
governamentais específicos (como os conselhos do Fundeb e os conselhos
de alimentação escolar). Caso não existam esses espaços de participação,
os governos são obrigados a criá-los.
Cada conselho possui sua própria organização e diferentes
possibilidades de participação. Alguns são de composição mais aberta,
outros menos. Mas todos devem estar abertos a receber reclamações e
denúncias, e suas reuniões devem ser públicas e acontecer em local
prédefinido e de fácil acesso. Alguns são apenas consultivos, outros
podem decidir sobre a política educacional (no caso dos conselhos de
educação) ou a gestão da escola (no caso dos conselhos escolares).
Os conselhos escolares são os que possibilitam uma maior participação
e pluralidade. Em razão de sua capilaridade, uma vez que deve haver um
em cada escola pública brasileira, esses conselhos devem ser espaços
institucionais de participação popular na gestão das unidades de ensino e
de debate sobre sua proposta pedagógica. Também devem estar antenados e
discutir as políticas públicas educacionais em geral, encaminhando
opiniões e reclamações às autoridades. Geralmente participam
representantes do professorado, de estudantes, dos pais e mães de alunos
e demais trabalhadores(as) atuantes na escola. Também devem participar
membros da comunidade em geral, pois educação diz respeito a todos.
- Monitorar o orçamento e as ações dos poderes públicos.
Mesmo sem participar de conselhos e comissões, é possível acompanhar e
influenciar o que fazem os poderes públicos. Um modo de fazer isso é ver
como os governos planejam e gastam seus recursos.
A cada ano, os municípios, os estados e o governo federal devem
elaborar e aprovar seu orçamento. O Poder Executivo (representado pelo
Prefeito, Governador e Presidente da República) envia ao Poder
Legislativo (Câmara de Vereadores, Assembleia Legislativa e Congresso
Nacional, respectivamente) sua proposta orçamentária para ser analisada,
modificada, aprovada e transformada em lei. Sem esse processo, não se
pode planejar nem investir os recursos públicos no ano seguinte.
Vejamos novamente o caso da educação. É na Lei Orçamentária que está
definido quanto e como o governo vai investir em educação. Se uma
escola, por exemplo, precisa ser construída em determinada cidade ou
bairro, esse gasto deve constar no orçamento daquele ano.
Mas atenção! O orçamento público é uma autorização e não uma
obrigação de realizações. Se o orçamento prevê a construção de uma
escola, isso significa que o Executivo pode construir essa escola porque
possui dinheiro disponível para isso, mas isso não quer dizer que vá
construí-la de fato. Por isso, é importante acompanhar os chamados
relatórios de execução orçamentária, que informam como estão sendo
gastos os recursos públicos, e, principalmente, pressionar os poderes
executivo e legislativo para que os recursos previstos sejam realmente
aplicados.
Mecanismos de democracia participativa (plebiscito, referendo e iniciativa popular).
Os direitos políticos vão além do direito de votar e ser votado nas
eleições, envolvendo os já mencionados direitos à livre associação, à
liberdade de expressão e à participação. Além dessas, há outras formas
de participar diretamente nos rumos do município, do estado e do país.
Nossa Constituição, em seu art. 14, prevê outros três instrumentos:
plebiscito, referendo e iniciativa popular.
Tanto o plebiscito como o referendo são consultas diretas aos
cidadãos, antes ou após a aprovação de uma lei, nas quais estes decidem
questões importantes para o país. Já a Iniciativa Popular é a
possibilidade de apresentação direta de um projeto de lei pelos
cidadãos, desde que assinado por 1% dos eleitores nacionais.
Infelizmente, tais mecanismos democráticos ainda são pouco utilizados no
Brasil, mas há experiências muito positivas, como a aprovação da
chamada “Lei da Ficha Limpa” (Lei Complementar 135, de 2010), que é
fruto de um projeto de iniciativa popular com assinatura de mais de 2
milhões de eleitores. A lei procura impedir que políticos com condenação
na Justiça concorram a novas eleições.
Além desses instrumentos, a Câmara dos Deputados criou a Comissão
Permanente de Legislação Participativa, que acolhe sugestões
legislativas, independentemente do número de assinaturas. Basta que as
sugestões de alteração ou de criação de novas leis sejam encaminadas à
Comissão por meio de uma associação civil, entidade comunitária, ONG,
sindicato ou órgão de classe.
Enviar denúncias às Relatorias Nacionais de Direitos Humanos, como a Relatoria Nacional para o Direito à Educação.
O Projeto de Relatores Nacionais da Plataforma Dhesca Brasil tem o
objetivo de monitorar a aplicação e a efetivação dos direitos humanos no
Brasil. Para isso, recebe denúncias de graves violações, realizando
missões de verificação e encaminhando recomendações às autoridades
públicas.
Também podem ser remetidas informações e denúncias para a Secretaria
Executiva da Plataforma Dhesca Brasil: Rua Des. Ermelino de Leão, 15,
conj. 72 – Centro. Curitiba/PR. CEP 80410-230. Brasil.
E, por fim, existe a exigibilidade jurídica, também chamada de justiciabilidade.
Trata-se de usar as possibilidades oferecidas pelo sistema de justiça
para impedir ou evitar a violação de um direito, seja por uma omissão
(por exemplo, a falta de vagas na escola, recusa de matrículas, não
oferecimento de educação de jovens e adultos) ou por ação (como o número
excessivo de estudantes por sala de aula, usar o dinheiro da educação
em outra área ou descumprimento do princípio da qualidade do ensino).
Os caminhos também podem variar. A exigibilidade jurídica pode
acontecer em três âmbitos (administrativo, judicial e internacional),
cujos detalhes serão explicados em seguida.
Vale ressaltar ainda que uma demanda jurídica pode ser feita de
maneira direta ao sistema de justiça, sem intermediação de órgãos
públicos, ou indiretamente, com o apoio de órgãos públicos (Ministério
Público e Defensoria Pública) e entidades sociais de defesa. Em alguns
casos, é necessária a presença de um advogado(a).
A exigibilidade no nível administrativo
diz respeito à reivindicação de direitos nos órgãos da administração
pública que, no caso da educação, podem ser a escola, a diretoria ou
coordenadoria de ensino, a secretaria municipal ou estadual de educação
ou o Ministério da Educação. As formas diretas ou indiretas também são variadas. Todas são gratuitas e não é necessário ter advogado(a) para requerer direitos no âmbito administrativo. Vejamos cada uma delas.
Formas diretas (quando se exige diretamente das autoridades responsáveis):
Direito de petição aos órgãos públicos.
Diz a Constituição brasileira: “São a todos assegurados,
independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos
Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de
poder” (art. 5º, inciso XXXIV). Petição é um nome jurídico para um
pedido formal, por escrito, feito ao poder público, que tem o dever de
responder. Veremos adiante alguns modelos de petição para a defesa dos
direitos educativos. O direito de petição é o mais básico dos mecanismos
de exigibilidade jurídica.
Direito às informações públicas.
O mesmo artigo da Constituição que assegura o direito de petição
garante: Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado” (art. 5º, inciso XXXIII). São públicas as informações sobre
políticas educativas, matrículas de estudantes, investimentos em
educação e outros temas que possam interessar à sociedade no âmbito da
educação e do ensino. Tais informações podem ser requisitadas aos órgãos
públicos por meio de petição, que, pela legislação, deve responder no
prazo máximo de 15 dias.
Direito de contestar critérios avaliativos.
Está garantido no ECA (art. 53, inciso III): “O(a) adolescente pode
contestar os “critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores”. O objetivo é pôr fim à visão autoritária e
impositiva que durante muito tempo foi a regra no ensino. Assim, o
Estatuto abre a possibilidade de que cada estudante possa questionar
perante a diretoria, a coordenação do ensino, ou outra instância
superior estabelecida pela escola, os critérios avaliativos utilizados
pelo(a) professor(a). Caso a avaliação (nota) seja considerada justa,
deve ser mantida, justificando-se as razões da decisão.
Direito à ampla defesa e ao duplo-grau de jurisdição em procedimentos disciplinares.
A Constituição garante a todas as pessoas – art. 5º, inciso 55 – a
possibilidade de se defender e de recorrer a uma outra autoridade que
possa reavaliar e decidir o caso, em situações em que o Estado (por meio
de um de seus agentes, como professores ou servidores públicos) acusa e
tem o poder punitivo frente a um(a) cidadão(ã), judicial ou
administrativamente. Na escola não é diferente. Quando um estudante é
acusado de ter praticado alguma conduta, ele deve ter o direito de se
defender e, caso haja uma decisão que o desfavoreça ou lhe imponha uma
punição, deve ter o direito de recorrer, de pedir uma decisão de outra
autoridade que não aquela que o puniu em um primeiro momento. Também
nessas situações, todas as decisões devem ser justificadas.
Formas Indiretas
Formas Indiretas (quando se recorre a outros órgãos para exigir das autoridades responsáveis):
• Conselho Tutelar
O
Estatuto da Criança e do Adolescente determina que os conselhos
tutelares podem “requisitar serviços públicos” em educação e outras
áreas e encaminhar denúncias ao Ministério Público (art. 136). Assim, o
conselho tutelar da sua cidade ou região possui um papel fundamental na
apuração e resolução de denúncias de violações a direitos educativos de
crianças e adolescentes. Os Conselhos Tutelares têm autoridade legal
para atuar em nome das crianças e adolescentes e suas decisões devem ser
cumpridas pelos órgãos públicos, escolas, pais, mães e responsáveis.
Por isso são considerados órgãos “quase-judiciais”.
• Comissões Legislativas de Direitos Humanos, Educação e Criança e Adolescente
O poder legislativo organiza comissões temáticas para, entre outros
objetivos, discutir e analisar projetos de lei antes que sejam votados
por todos os parlamentares. Isso acontece na Câmara de Vereadores, na
Assembleia Legislativa, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Essas comissões também podem receber petições ou reclamações de
qualquer pessoa contra atos ou omissões das autoridades ou entidades
públicas. Para as denúncias de violações do direito à educação, é mais
indicado procurar as comissões de direitos humanos, de educação ou de
criança e do adolescente. A partir dessa queixa, as(os) parlamentares
podem, por exemplo, convocar as autoridades responsáveis para dar
explicações sobre o caso, realizar visitas ao local denunciado,
organizar audiências públicas, etc.
• Ouvidorias Públicas
Como o nome mesmo diz, são órgãos que “ouvem” queixas e reclamações da
população. Existem tanto na administração pública como em algumas
empresas. No caso da educação e de outros serviços públicos, a ouvidoria
pode ser procurada para comunicar falhas, reclamar sobre os serviços
prestados, sugerir ações de melhoria e para denunciar casos de
corrupção, entre outros motivos. Se a secretaria de educação da sua
cidade ou estado não possui uma ouvidoria, procure a ouvidoria da
prefeitura ou do governo estadual.
A
exigibilidade no âmbito judicial usa os instrumentos próprios do sistema
de justiça. Antes de recorrer a esses instrumentos é importante tentar
resolver a questão pela via administrativa, por dois motivos:
primeiramente, porque em muitos casos essa é suficiente para que a
questão seja resolvida; segundo, porque os documentos que são coletados
administrativamente (por exemplo, comunicado da escola ou da secretaria
de educação, resposta a uma petição, requisição do Conselho Tutelar,
registro de reclamação na Ouvidoria, etc.) servem de prova da situação
de violação do direito à educação.
No entanto, caso a questão não seja resolvida pelos instrumentos
administrativos ou ainda nos casos em que não seja possível buscar essas
vias, deve-se recorrer ao âmbito judicial, por vários motivos. Se uma
ação judicial é favorável, seu impacto e alcance podem trazer mudanças
mais amplas que aquelas inicialmente pensadas por quem levou a primeira
reclamação. Além disso, formam aquilo que os advogados chamam de
“jurisprudência”, ou seja, decisões que servem de referência a outros
casos similares.
E mesmo que a decisão não seja inicialmente positiva, o ato de
recorrer à justiça significa que as pessoas que optaram por esse caminho
estão conscientes de seus direitos. Saem fortalecidas para exigi-los em
outros espaços e momentos. Em alguns casos, usar os instrumentos
jurídicos pressiona os governos a agirem com mais rapidez e a solucionar
os problemas, antes mesmo que o juiz determine alguma medida.
Os instrumentos jurídicos mais úteis para a defesa dos direitos humanos e do direito à educação são:
• Mandado de Segurança ou Ação Mandamental
É uma ação constitucional (Constituição Federal, art. 5º, LXX) que visa
garantir os direitos líquidos e certos, individuais ou coletivos. O
mandado de segurança é previsto para que as pessoas se defendam de atos
ilegais, praticados com abuso de poder ou ainda omissões ilegais por
parte da administração pública ou de funcionário público. Direito
líquido e certo é aquele exigível no momento em que se entra com a ação
(não depende de nenhuma outra condição futura para ser exercido – como,
por exemplo, o cumprimento de um prazo ou a conclusão de uma etapa de
ensino) e que pode ser provado já na apresentação da ação (por exemplo,
quando se apresenta o comprovante de cadastro para a matrícula ou de
pedido de vaga, nos casos em que não é assegurada vaga na rede de
ensino).
• Ação popular
Trata-se de um instrumento jurídico que permite que cidadãos e cidadãs
defendam os direitos coletivos de forma gratuita. Serve para fiscalizar a
atuação das autoridades e integrantes das administrações públicas,
principalmente em casos de suspeita de atos ilegais, lesivos ao
patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural. No ensino, atos lesivos ao patrimônio
público podem ser, por exemplo, desvio de verba de merenda escolar,
comercialização de material didático-escolar ou de equipamentos
comprados com recursos públicos ou desvio de finalidade (quando as
autoridades usam bens públicos e espaços escolares – DVDs, TVs,
aparelhos de som, salas de aula, quadras, auditórios, por exemplo – em
benefício próprio, para fins particulares). A ação popular, ao contrário
do mandado de segurança, visa proteger os direitos coletivos, que não
são de uma só pessoa, mas que atingem todos os cidadãos. Pessoas
jurídicas (como sindicatos, associações e organizações não
governamentais) não podem usar esse instrumento e sim a Ação Civil
Pública.
• Ação Civil Pública
Por meio dessa ação coletiva é possível defender direitos sociais –
educação, saúde, transporte, meio ambiente, consumidor, etc. O objetivo é
que muitas pessoas que se encontram na mesma situação jurídica possam
ser protegidas no Poder Judiciário com apenas uma ação, que defenderá o
direito de todas. No entanto, as pessoas individualmente não podem
propor esse tipo de ação. A lei estabelece quem é legítimo para isso: o
Ministério Público, a Defensoria Pública ou entidades da sociedade
civil, que estejam constituídas há pelo menos um ano e que tenham entre
suas finalidades a defesa desses direitos. Por exemplo: um grupo de pais
e mães de crianças com deficiência pode se unir e solicitar ao
Ministério Público da sua cidade ou a uma associação de defesa dos
moradores que mova uma ação para garantir o acesso à escola pública.
• Ação inominada do art. 5° da LDB
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB, art. 5°) prevê uma ação
para a qual não foi definido um nome (e, por isso, a chamamos
“inominada”). Trata-se, na verdade, da possibilidade que qualquer
cidadã(o), grupo de cidadãos, associação comunitária, organização
sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída, além do
Ministério Público ou do próprio Poder Público, tem de defender o
direito subjetivo público ao ensino fundamental de qualquer outra pessoa
ou grupo. Um cidadão individualmente ou a associação de bairro pode,
por exemplo, defender o direito à educação das crianças e adolescentes
da comunidade, sem precisar apresentar autorização formal de seus pais,
mães ou responsáveis.
• Ação Ordinária
Nos
casos em que não cabe nenhuma das ações acima descritas, pode ser
proposta uma ação comum. Há casos de violação individual do direito à
educação que precisam de apresentação de provas durante o processo, por
exemplo, quando é necessário o testemunho de alguém, não cabendo, por
esse motivo, Mandado de Segurança e sim uma Ação Ordinária. A Defensoria
Pública pode ser consultada sobre qual instrumento judicial é cabível
em cada caso.
O Ministério Público
Uma forma de atuação judicial indireta é a representação ao
Ministério Público, o qual promoverá a medida judicial cabível através
dos seus membros, que são os promotores(as) de justiça. Nesse caso
também não é necessária a participação de advogado(a):
Representação ao Ministério Público.
Uma das possibilidades para quem quer denunciar alguma irregularidade,
ilegalidade dos atos da administração pública ou mesmo alguma violação
de direito coletivo (que atinja várias pessoas), é apresentar uma
representação ao Ministério Público para que ele verifique a questão e
tome alguma medida para impedi-la, puni-la ou repará-la. São exemplos de
atos da administração que podem ser objeto de representação: a
improbidade administrativa, a identificação da inconstitucionalidade de
um ato normativo ou a omissão na promoção de políticas públicas.
O Ministério Público é a instituição que defende a sociedade
coletivamente, e não o direito ou interesse individual de cada
cidadã(o). Assim, caso você verifique uma violação do direito à educação
que atinja várias pessoas, ou alguma ação ilegal da administração
pública, basta se dirigir ao Ministério Público mais próximo e registrar
sua reclamação. Esta reclamação – que deve ser feita por escrito –
recebe o nome de representação (ver adiante modelos de petição). Depois
de registrada a representação, o Ministério Público tem o dever de
informar o que fará com as informações: se promoverá uma ação, um termo
de ajustamento de conduta, uma recomendação ou mesmo se não fará nada.
Nesse último caso, porém, é preciso que o(a) promotor(a) justifique a
decisão e o motivo do arquivamento da representação. Caso discorde, o
autor da representação pode recorrer ao Conselho Superior do Ministério
Público.
Termo de Ajuste de Conduta – TAC
Trata-se de um compromisso extrajudicial, ou seja, de âmbito administrativo e não judicial, assinado entre o Ministério Público – MP e o poder público (prefeitura, governo estadual, governo federal, ou secretaria de educação, por exemplo). Nesses casos, o MP convida o poder público a firmar o TAC com o objetivo de superar situações de violação de direitos coletivos. Em geral, esses termos determinam prazos para a implementação de ações públicas (como construção de um determinado número de creches nos próximos dois anos, por exemplo). O TAC funciona como um título executivo extrajudicial, ou seja, se não for cumprido pode-se recorrer no Judiciário diretamente para cobrar seu cumprimento (pode-se compará-lo a um cheque que, se não for pago, pode ser exigido judicialmente). O TAC também pode ser assinado com a Defensoria Pública, que nesses casos fica responsável por exigir seu cumprimento.
Denúncia de crimes à polícia ou ao Ministério Público. A
conduta dos administradores públicos e das demais pessoas pode, por
vezes, além de ser um ato ilegal, ser também um crime. Isso ocorre, por
exemplo – de acordo com o art. 312 do Código Penal – quando um
funcionário público tem alguma vantagem econômica – recebe dinheiro ou
um objeto de valor – utilizando-se para isso do cargo que ocupa. Assim,
se uma autoridade promete alguma vantagem a alguém em troca de algum
presente, ou uma soma de dinheiro, está cometendo um crime, pois está
usando sua função para conseguir uma vantagem econômica para si. Também
comete crime que discrimina ou constrange alguém. Em casos de crimes ou
de contravenções penais, é possível fazer uma denúncia à polícia (nas
delegacias) ou ao Ministério Público. A polícia serve para proteger as
pessoas, garantir a segurança e proteger o patrimônio público, além de
prevenir e descobrir crimes. Assim, está entre suas atribuições também
receber denúncias contra crimes cometidos por servidores públicos contra
a administração pública e os usuários e, entre esses, aqueles que são
cometidos no âmbito dos sistemas de ensino.
Há ainda situações de discriminação (racial, de gênero, por
orientação sexual, econômica, etc.) ou de violência (física ou
simbólica) que devem ser levadas ao conhecimento da polícia e do
Ministério Público. Além de constituírem crimes são também graves
violações dos direitos humanos.
Quando a presença de um(a) advogado(a) é necessária?
Sempre que a opção for a exigibilidade no âmbito judicial, com a propositura de ações diretamente pela pessoa ou instituição, é necessário que elas sejam representadas por um(a) advogado(a). Para peticionar ao Ministério Público ou à Defensoria Pública, assim como a todos os demais órgãos públicos não judiciais, o(a) advogado(a) pode ser consultado, mas sua participação não é obrigatória.
Onde encontrar
Existem organizações públicas e da sociedade civil que prestam assistência jurídica gratuita a pessoas e entidades que não podem pagar por um advogado. A principal é a Defensoria Pública.
A força da pressão internacional
Há ainda a possibilidade da exigibilidade em âmbito internacional para
fazer valer o direito à educação. Esse caminho é indicado quando não
existem vias nacionais disponíveis ou estas já foram tentadas e não
resolveram o problema.
Denunciar uma violação ao direito à educação em âmbito internacional
dá mais destaque à questão dentro do país e pode pressionar os governos a
buscarem soluções. Nesse âmbito internacional existem Comitês ou
Comissões, que são órgãos que têm a função de avaliar a situação dos
direitos humanos nos países e recomendar ações aos governos, e as Cortes
ou Tribunais, que são órgãos jurisdicionais, ou seja, têm a função de
julgar as denúncias apresentadas e determinar medidas a serem cumpridas.
O sistema internacional de proteção dos direitos humanos é formado pelo
sistema global, ou Sistema ONU, e pelos sistemas regionais, como o
Sistema da Organização dos Estados Americanos, na qual o Brasil está
inserido.
Organização das Nações Unidas – ONU
Os organismos que integram o Sistema ONU são responsáveis pelo
monitoramento global dos direitos humanos. O Sistema Global de Proteção
foi inaugurado pela Carta Internacional dos Direitos Humanos (International Bill of Rights),
integrada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, pelo
Pacto Internacional de Proteção dos Direitos Civis e Políticos e pelo
Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – o
PIDESC – ambos de 1966. O direito à educação está previsto no art. 26
da Declaração Universal dos Direitos Humanos e nos arts. 13 e 14 do
PIDESC.
Como funciona?
Para monitorar o cumprimento dessas obrigações pelos Estados, o
Sistema das Nações Unidas prevê a criação de comitês de especialistas
independentes. O PIDESC, por exemplo, estabelece que os Estados
entreguem Informes Periódicos ao Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
demonstrando as medidas adotadas para garantir e realizar os direitos
previstos naquele Pacto. A cada cinco anos, tal Comitê debate a situação
dos direitos humanos em um determinado país, formulando recomendações a
serem cumpridas pelos governos. Nessa ocasião, é possível a
participação de organizações da sociedade civil. Por isso, a Plataforma
Dhesca compõe uma ampla articulação de redes brasileiras de direitos
humanos que tem como objetivo justamente levar a visão da sociedade
civil ao conhecimento do Comitê, influenciando em suas recomendações
sobre o Brasil.
O Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais analisou a situação do Brasil em 2009.
No caso do direito à educação, seus membros expressaram muita
preocupação com a manutenção de altas taxas de analfabetismo, bem como a
persistência das desigualdades no nível de alfabetismo entre populações
negras e brancas. Também apontaram a necessidade do Estado brasileiro
promover medidas efetivas para aumentar a taxa de conclusão da educação
básica e tornar mais justo o acesso aos ensinos técnico e superior.
Para fortalecer esse Comitê, após anos de debates a ONU aprovou, em
10 de dezembro de 2008 – dia do 60° aniversário da Declaração Universal
dos Direitos Humanos – o Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que estabelece a possibilidade de apresentação de Petições Individuais
por pessoas ou grupos, nos casos de violação a qualquer dos direitos
previstos no PIDESC, desde que esgotados todos os meios de solução
interna (nacional) do problema.
As petições serão analisadas pelo
próprio Comitê, que poderá determinar medidas a serem adotadas pelos
Estados, assim como medidas de reparação às vítimas. O requisito de
haver tentado todos os meios de solução interna não se aplica nos casos
de demora injustificada do processo.
Saiba mais:
Uma análise sobre a participação das organizações da sociedade civil
junto ao Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (ONU) pode
ser encontrada na publicação:
- Monitoramento da Realização dos Direitos Humanos: sistematização
da atuação das organizações da sociedade civil brasileira no
monitoramento da situação dos direitos humanos no Brasil e dos
compromissos do Estado brasileiro com a realização do PIDESC, 2011,
disponível em www.direitoaeducacao.org.br/publicacoes.
Outros tratados
Além do PIDESC, outros tratados e convenções internacionais abordam o
direito à educação. O monitoramento de suas ações acontece da mesma
forma, por meio de Informes Periódicos e, em alguns casos, Petições
Individuais, analisados pelos respectivos comitês de acompanhamento.
Vale citar os comitês vinculados à Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), à Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965), à Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as
Mulheres (1979) e à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência (2006). Também nesses comitês é possível a participação da sociedade civil organizada.
Procedimentos especiais e Relatores da ONU
Existem também mecanismos estabelecidos fora do marco dos tratados,
como é o caso dos(as) Relatores(as) especiais ou especialistas
independentes, que têm o papel de manter a comunidade internacional
informada a respeito da real situação dos direitos humanos no mundo.
Para isso, podem realizar missões in loco para verificar as
violações, examinar situações, incidentes e casos concretos, como também
receber denúncias sobre as violações ao direito e pedir informações
oficiais aos Estados. Também aceitam informações das mais variadas
fontes: vítimas, parentes, ONGs, etc.
Desde 1998 a ONU tem um Relator Especial para o Direito Humano à Educação, posição atualmente ocupada pelo indiano Kishore Singh. Seu contato é: urgent-action@ohchr.org.
Por correio é possível enviar informações sobre violações para: OHCHR – UNOG
8-14 Avenue de la Paix, 1211 Genebra 10, Suíça.
Organização dos Estados Americanos – OEA
Em 1969, os países membros da Organização dos Estados Americanos – OEA adotaram a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que basicamente reproduzia o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966).
Em 1988, os direitos econômicos, sociais e culturais foram contemplados no Protocolo
Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador),
ratificado pelo Brasil em 21 de agosto de 1996. No caso do direito à
educação, em seu art. 13 o Protocolo de San Salvador reafirma e
aprofunda o que estava previsto no PIDESC.
O Protocolo reafirma o dever do Estado de investir o máximo de
recursos disponíveis, até alcançar, progressivamente – isto é, sem
retrocessos –, a plena efetividade dos direitos econômicos, sociais e
culturais. Também prevê um Sistema de Petições Individuais que podem ser apresentadas diretamente pelas vítimas de violações, resultando na condenação jurídica do Estado.
Tais documentos são a base do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos, formado por dois órgãos: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que recebe e analisa as Petições Individuais, apontando ações a serem adotadas pelos Estados, e a Corte Interamericana de Direitos Humanos,
que deve julgar as violações constatadas pela Comissão e não
solucionadas de forma amigável pelo Estado. Além de analisar as
petições, a Comissão pode realizar audiências públicas ou nomear
especialistas independentes sobre determinados temas, a pedido da
sociedade civil ou dos Estados.
Assessoria nos processos internacionais
Cada tipo de demanda feita aos órgãos internacionais exige um
processo de elaboração diferente. É preciso examinar com cuidado as leis
e tratados pertinentes ao caso, bem como se foram preenchidas as
condições para a apresentação de uma petição. No Brasil existem
organizações que podem ajudar na avaliação e preparação dos casos, pois
já têm experiência em levar a órgãos internacionais denúncias de
violação aos direitos humanos. Abaixo, alguns contatos importantes.
Como fazer uma petição
A Constituição brasileira garante a todas as pessoas o direito de
pedir informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo;
pedir a implementação de seus direitos ou de direitos de outros; de
denunciar ilegalidades ou abusos de poder, entre outros, por meio de
petição (art. 5º, XXXIV, a, CF). Para isso, deve-se apresentar à
autoridade ou a um órgão do poder público um documento escrito,
gratuito, contendo os pedidos e razões.
Qualquer pessoa pode redigir uma petição, não precisa ser advogado.
Pela legislação brasileira, a autoridade é obrigada a atestar o
recebimento (normalmente através de um carimbo ou uma certidão com data e
assinatura) e responder ao pedido em até 15 dias.
Passo a passo de como elaborar uma petição
Passo 1 – Identifique e descreva a situação de violação aos direitos que você pretende que seja resolvida
Identifique o direito que está sendo violado; o direito que deve ser
implementado; quem são as pessoas prejudicadas; as informações que
precisam ser obtidas do poder público ou outros pedidos que precisam ser
feitos às autoridades responsáveis.
Passo 2 – Identifique quais são os órgãos ou autoridades que devem resolver o problema
Veja a quem você deve encaminhar a petição. Pode ser à direção da
escola, ao conselho escolar, à secretaria de educação ou a outro órgão
público (excluído o Poder Judiciário). Você pode tanto direcionar ao
órgão público (por exemplo, à secretaria de educação) como ao
responsável por aquele órgão ou setor (por exemplo, ao secretário de
educação). O importante é que o pedido seja feito a todos os órgãos que
tenham poderes para decidir sobre o problema, por isso não há problema
em encaminhar a petição para mais de um órgão ou autoridade.
Passo 3 – Redija o documento
A estrutura é sempre parecida e é formada por três partes: na
primeira parte, deve ser feita a identificação da pessoa, grupo de
pessoas ou associação que assinam a petição; na segunda parte, vem a
descrição detalhada da violação/problema (ou das informações
necessárias); caso saiba qual lei está sendo descumprida, você pode
citá-la, mas a descrição dos fatos é suficiente; finalmente, na parte
final da petição, deve ser formulado o pedido de providência ou de
informação. Coloque a data e assine o documento.
Passo 4 – A entrega do documento
Faça uma cópia do documento. Ao entregar a petição no órgão público,
peça para a autoridade ou o funcionário público assinar e colocar a data
de recebimento nessa cópia, o que comprova a entrega do original. Em
alguns locais, como nas secretarias de educação, prefeituras ou câmaras
legislativas, há um setor de protocolo, normalmente logo na entrada do
prédio, onde os funcionários recebem o documento, registram o
recebimento na cópia e encaminham para o setor responsável. É importante
que você identifique o número do telefone do setor responsável, assim,
se for necessário, poderá acompanhar o andamento do pedido.
A mesma estrutura pode ser usada em casos de denúncias ou pedidos a
serem encaminhados ao Ministério Público ou à Defensoria Pública.
Exemplos de petição
a. Modelo de petição por falta de vaga em unidade escolar
Ilmo(a). Sr(a). Secretário(a) Municipal de Educação
[Nome, nacionalidade, estado civil, profissão, documento de identidade, endereço], vem com base no direito de petição garantido na Constituição Federal de 1988, relatar e pedir o seguinte:
[Relate a situação: tentativa de matricular a criança na unidade
de educação infantil, matrícula negada por falta de vagas, inclusão em
lista de espera]
Por exemplo:
Eu, mãe/pai/responsável por [nome da criança que se quer matricular], tentei realizar matrícula na creche/pré-escola [nome da unidade de educação infantil], e, por falta de vagas, ainda não fui atendido(a).
No entanto, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que crianças
têm direito ao acesso a uma educação pública e gratuita próxima de sua
residência, podendo a autoridade ser responsabilizada administrativa e
criminalmente pelo não cumprimento da lei. Daí se conclui que [nome da criança] tem direito à educação e, portanto, à vaga na creche/pré-escola [nome da unidade de educação infantil].
[Faça o pedido]
Por isso, peço que seja efetuada imediatamente a sua matrícula nesta
unidade de educação infantil ou em outra próxima à residência.
Aguardo, assim, resposta à solicitação no prazo legal de 15 dias [indique um endereço, telefone ou email para contato].
[local, data]
[nome e assinatura]
Nota: Caso o pedido não seja atendido, deve-se
procurar o Ministério Público, a Defensoria Pública ou uma associação
que ofereça assessoria jurídica, ou mesmo um advogado particular, para
exigir a garantia do direito à educação, no caso, ao acesso à educação
infantil.
b. Modelo de Representação ao Ministério Público – Recusa de matrícula a criança com deficiência
Exmo. Sr(a). Dr(a). Promotor(a) de Justiça
[Nome, nacionalidade, estado civil, profissão, endereço], vem com base no direito de petição garantido na Constituição Federal de 1988, relatar e pedir o seguinte:
[Relatar a situação: tentativa de matricular a criança com
deficiência em qualquer etapa de ensino, e a matrícula foi negada sem
motivação ou por alegada falta de condições da escola]
Por exemplo:
Tentei realizar a matrícula de [nome da criança], na Escola [nome da escola], para cursar a [série pretendida] no ano letivo [data]. No entanto, ao tomarem conhecimento que [nome da criança]
é uma criança com deficiência, negaram-se a realizar a matrícula,
argumentando que a Escola não estaria preparada para recebê-lo(a).
A Constituição e os tratados internacionais de direitos humanos,
principalmente a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, proíbem todas as formas de exclusão das pessoas com
deficiência, e garantem o direito à educação para todos, sem
discriminação. No caso dos estudantes com deficiência, a Constituição
determina que, além do ensino regular, devem ser asseguradas as condições
necessárias à sua inclusão educacional, através de atendimento
especializado a ser oferecido preferencialmente na própria escola em que
o estudante está matriculado. Assim, educação especial não significa
escola ou sala especial, e sim, como diz a própria Constituição,
“atendimento especializado” complementar à escolarização regular. Ou
seja, as escolas não podem recusar a matrícula argumentando que não
estão preparadas, pois isso significa discriminação.
Por todo o relato, venho pedir a intervenção do Ministério Público no
sentido de corrigir essa ilegalidade e garantir o acesso à educação,
por meio da matrícula na escola [nome da escola], bem como do oferecimento das condições de inclusão educacional à [nome da criança].
[Faça o pedido]
Aguardamos, assim, informações sobre os encaminhamentos que o
Ministério Público dará à ilegalidade relatada, no prazo legal de 15
dias. [indique um endereço, telefone ou email para contato]
[local, data]
[nome e assinatura]
Como no Brasil é crime “recusar, suspender, procrastinar [adiar],
cancelar ou fazer cessar matrícula de pessoa com deficiência”. (Lei
7.853/1989, art. 8º, inciso I), é possível, além de apresentar
representação ao Ministério Público, realizar um boletim de ocorrência
na delegacia mais próxima.
Caso o Ministério Público não dê encaminhamento
satisfatório ao problema, outros meios podem ser utilizados para exigir
diretamente o direito violado, como a Defensoria Pública e organizações
da sociedade civil. Pode-se inclusive recorrer ao sistema internacional
de proteção dos direitos humanos, pois os mecanismos internos de
proteção, como o Ministério Público, foram ineficazes para resolver o
problema.
Quem é quem na defesa do direito à educação
Os seguintes órgãos públicos, cuja principal missão é promover e
defender os direitos humanos em geral e, especificamente, o direito à
educação, podem ser encontrados em muitos municípios do Brasil. Alguns
deles estão concentrados nas grandes cidades e nas capitais, mas devem
receber petições e esclarecer dúvidas por cartas, e-mails ou contatos
telefônicos.
Para quem não tem condições de pagar um advogado e as despesas de um
processo judicial, a Constituição prevê o acesso à Defensoria Pública,
um serviço público que promove a orientação e a defesa jurídica
gratuitamente. Além das pessoas físicas, podem procurar esse serviço
organizações sem fins lucrativos e associações comunitárias que declarem
insuficiência de recursos.
Entre outras atividades, a Defensoria Pública pode propor ações civis
públicas na defesa coletiva de cidadãos e promover acordos
extrajudiciais (Termos de Ajuste de Conduta) para garantir que as
demandas dessa natureza sejam resolvidas rapidamente e sem necessidade
de um processo judicial. A maioria dos estados brasileiros possui
Defensoria Pública e, em geral, possuem núcleos de atendimento em várias
cidades e bairros. Em geral, há núcleos especializados em temas como
criança e adolescente, situação carcerária, pessoas com deficiência,
minorias, etc.
O Ministério Público tem o dever de trabalhar pela defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
mais importantes. Ele pode ser procurado por qualquer pessoa para
denúncias que envolvam violações aos direitos humanos. Atuando por
iniciativa própria, ou estimulado pela sociedade civil, decidirá sobre a
necessidade de entrar com ação judicial, ou pela tentativa de resolução
administrativa (chamada via extrajudicial) por meio de acordos com o
Estado.
O MP é formado pelo Ministério Público da União – que compreende o
Ministério Público Federal, o Ministério Público do Trabalho, o
Ministério Público Militar e do Distrito Federal – e o Ministério
Público dos Estados. O Ministério Público Federal cuida dos casos de
direito à educação em que a responsabilidade é da União (ou do governo
federal), enquanto o Ministério Público dos Estados cuida dos casos em
que estes ou os municípios são os responsáveis. Também podem ser levados
ao MP os casos de corrupção e de desvio de recursos destinados à
educação, bem como os casos de discriminação.
Também no Ministério Público há núcleos especializados em temas como
criança e adolescente, meio ambiente, corrupção, pessoas com
deficiência, minorias, etc. Recentemente, em vários estados, o MP criou
promotorias especializadas em direito à educação.
O Conselho Tutelar é um órgão colegiado, permanente, de âmbito
municipal, instituído pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para
atuar em favor de crianças e adolescentes que necessitem de proteção em
razão de violação ou ameaça a seus direitos. Entre as suas atribuições
está a de zelar pela implantação das políticas públicas destinadas à
efetivação dos direitos fundamentais.
Para isso, possui total autonomia, suas decisões não estão sujeitas a
qualquer interferência externa (controle político ou hierárquico). Os
membros do Conselho são escolhidos pela comunidade local, em eleições
periódicas, sendo que cada município deverá manter, no mínimo, um
Conselho Tutelar.
Merecem atenção especial do Conselho Tutelar os casos de crianças ou
adolescentes sem matrícula ou fora da escola, sem frequência regular,
sem aproveitamento adequado, em situação de abandono ou com indícios de
maus-tratos. Em todos os casos, o Conselho pode requisitar às
autoridades a prestação de serviços públicos específicos, ouvir os
responsáveis e as autoridades envolvidas.
Secretarias de Educação e Ministério da Educação
São os órgãos da administração pública (municipal, estadual ou
federal) diretamente responsáveis pelo planejamento e aplicação das
políticas educacionais nos municípios, nos estados e no nível federal.
No caso de um município, a secretaria municipal de educação cuida das
escolas municipais. No caso de um estado, a secretaria estadual de
educação é responsável pelas escolas estaduais. Em ambos os casos,
também respondem pela garantia da merenda e transporte escolar dos
estudantes de suas respectivas escolas. Além disso, são responsáveis por
fiscalizar o funcionamento das escolas privadas.
Como são os órgãos diretamente responsáveis pelas políticas públicas
educacionais, devem oferecer canais de diálogo direto com a população,
para o recebimento de pedidos, queixas e denúncias.
II – Organizações da sociedade civil
A legislação nacional e os documentos internacionais também convocam a
sociedade a se organizar em entidades civis autônomas, desvinculadas do
Estado, para a promoção e defesa dos direitos humanos, inclusive do
direito à educação. Tais entidades não atuam somente em defesa de seus
filiados e sim do chamado “interesse público”, que é o interesse de toda
a sociedade previsto nas normas de direitos humanos. A legislação
também autoriza as entidades civis de defesa de direitos a promover
ações judiciais coletivas.
Abaixo uma lista de organizações da sociedade civil que atuam na defesa do direito à educação:
Associação Juízes pela Democracia
www.ajd.org.br – (11) 3242-8018
Anced – Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente
www.anced.org.br – (11) 3159-4118
Anadep – Associação Nacional dos Defensores Públicos
www.anadep.org.br – (61) 3963-1747 / 3039-1763
Cedeca – Ceará – Centro de Defesa da Criança e do Adolescente
www.cedecaceara.org.br – (85) 3252-4202
Mieib – Movimento Interfóruns de Educação Infantil no Brasil
www.mieib.org.br – (81) 3429 2020
Movimento Ministério Público Democrático
www.mpd.org.br – (11) 3241-4313
Existem, ainda, escritórios de advocacia que atendem voluntariamente
instituições da sociedade civil. Essa atuação é conhecida como advocacia
pro bono, e destina-se apenas a organizações, e não ao atendimento direto da população. (Informações: www.probono.org.br).
Resumindo, não se preocupe, OCUPE!
O que diz a Lei?
Apesar de cada estado e município ser responsável por sua política educacional, é a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que define e regulariza o sistema de educação brasileiro com base nos princípios da Constituição.
Sua última versão data de 1996 e diz que "o dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia do ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria, de vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental na escola mais próxima da casa do aluno para toda criança a partir dos quatro anos de idade".
A Lei também diz que em todas as esferas administrativas, o Poder Público assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório. Se autoridade (escola ou o próprio Ministério Público, responsável pela defesa dos direitos constitucionais do cidadão) não garantir o oferecimento do ensino obrigatório, ela responderá por crime de responsabilidade.
Como matricular meu filho no ensino infantil?
O ensino infantil é o que mais sofre com a falta de vagas. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2009, 80% das crianças de 0 a 3 anos está fora das creches.
Este infeliz dado, mostra que é preciso se antecipar para garantir a vaga de seu filho. Visite creches próximas à sua casa ou ao seu trabalho e cadastre a criança em listas de espera. Para não correr o risco de esperar em filas muito longas para fazer a matrícula, procure as instituições com o máximo de antecedência - ainda quando estiver grávida.
Os pais que não conseguirem vaga podem procurar a Defensoria Pública, o Ministério Público, as Diretorias Regionais de Ensino, ou o Conselho Tutelar de sua região. Caso o Conselho Tutelar não garanta a vaga da criança, procure um Promotor de Justiça da Infância e da Juventude. Esse profissional pode entrar na Justiça contra o Estado e obrigá-lo a fornecer a matrícula solicitada. Leia mais nesta reportagem sobre o direito à Educação Infantil.
Como matricular meu filho nas trocas de níveis de ensino?
Existe um procedimento automático nas redes públicas de ensino para a troca da EMEI para o Fundamental I, desse para o Fundamental II e desse para o Ensino Médio.
Antes de seu filho terminar cada nível de ensino (EMEI, Fundamental I, Fundamental II e Ensino Médio), você deve indicar de uma a três escolas - isso varia conforme o estado ou região- onde gostaria que ele continuasse a educação. A Secretaria Municipal é responsável por acomodar os alunos em uma das instituições indicadas a partir da proximidade entre a residência e a escola. Depois disso, é só efetivar a matrícula na escola para onde o aluno foi encaminhado.
Quando meu filho já está na escola, preciso fazer a rematrícula?
Esse processo é ainda mais simples, já que, com o início do ano letivo, o aluno que faz a rematrícula tem sua vaga automaticamente garantida. Para a rematrícula não é necessária a apresentação de nenhuma documentação, apenas a assinatura do pai confirmando a permanência do filho na escola.
"Mas se o pai não fizer a rematrícula, subentende-se que o aluno vai continuar na escola. A criança só é retirada da instituição em que estuda mediante um termo de transferência assinado pelo responsável", diz a diretora Ana Eliza Siqueira, Escola Municipal Desembargador Amorim Lima, Butantã, SP.
Quero mudar meu filho de escola, e agora?
Na maioria dos estados brasileiros, há dois períodos de matrícula indicados para alunos que são novos no sistema público de ensino. Um no fim e outro no começo do ano letivo.
O primeiro prazo é imprescindível para os alunos que são novos (transferidos ou recém-ingressos) na rede. "O período de matrícula antecipada - nome dado ao primeiro prazo de matrículas em alguns estados - é importante, pois permite que a criança garanta o início dos estudos desde o primeiro dia do ano letivo.
Facilita conseguir uma vaga na escola de preferência", indica a Secretaria Municipal da Educação de São Paulo. Apesar da garantia de vagas prevista pela Constituição, fique atento, pois antes da virada do ano as escolas ainda não têm os índices de reprovações e de transferências dos alunos fechados. Isso possibilita que entre um e outro período de matrícula a disponibilidade de vagas seja alterada.
Algumas escolas prevêem uma margem de vagas levando em conta um número estimado de repetentes e de transferidos, outras não. Vale perguntar e conferir no momento da matrícula.
Como garanto a vaga do meu filho numa escola com o Ideb alto?
A atenção ao primeiro período de matrícula pode evitar transtornos, como grandes filas e a não garantia de vaga na escola desejada, aquela com um Ideb alto, por exemplo.
Para a diretora de Educação Básica da Secretaria Estadual de Educação de Santa Catariana, Gilda Mara Penha, mudanças de atitude por parte dos pais e dos alunos contribuem para a garantia de vaga na instituição desejada, e também possibilitam Idebs melhores nas mais diversas escolas.
"Para que todos os alunos tenham acesso a boas escolas e não tenham que migrar, é importante que os pais sejam mais parceiros e ativos na educação dos filhos, que se insiram nas escolas, garantindo a frequência do aluno e o interesse pela instituição de ensino. Do contrário, não daremos conta da migração", indica Gilda. Sua fala evidencia que o mais importante é garantir e cobrar pela melhoria do Ideb na atual escola do estudante, e não apenas optar para transferência para as instituições mais conceituadas.
Existe um período ideal para fazer a matrícula na escola? E se eu perder esse prazo?
Fique tranqüilo. Nas escolas públicas nacionais, os pais podem realizar a matrícula de seus filhos durante todo ano, já que as vagas nessas instituições são garantidas pela lei. Apesar disso, é importante que o pai esteja atento para que o filho não perca grande parte do ano letivo por conta da demora na matrícula relacionada à transferência.
E se eu perder a dita matrícula antecipada?
"A matrícula antecipada visa facilitar o processo. Ela é aberta para que a Diretoria de Ensino possa atender melhor as famílias, e para que as escolas se organizem com relação às vagas em função das transferências, repetências e da demanda de novos alunos. Essa matrícula não deve ser vista como um prazo limite", informa a assessoria de imprensa da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
Caso o pai perca o período dessa matrícula, o indicado é fazer sua versão convencional na escola de preferência, em qualquer período do ano. Se escola escolhida não tiver vagas, deverá remanejar o aluno para a escola mais próxima da casa do estudante. Esse remanejamento é responsabilidade da instituição. A Secretaria responsável (estadual ou municipal) também poderá cumprir esse papel.
Alguém tem preferência na matrícula?
Além da proximidade entre a moradia do estudante e a escola, vale saber que ter irmãos na instituição em que se pleiteia vaga também é um fator de preferência no momento da matrícula.
A intenção é facilitar o deslocamento da família. "O incorreto é faltar vaga. Se as mães foram na escola e ouviram que falta vaga, algo está errado", diz a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.
Dificuldades de locomoção e a idade - a prioridade é para estudantes mais novos - também são requisitos para a preferência de vaga. A maioria desses fatores de preferência é nacional e segue resoluções previstas na Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Qual a documentação necessária para matricular meu filho na escola?
Foto 3x4 do aluno, carteira de vacina, comprovante de residência, certidão de nascimento e a cópia do RG do aluno e do pai.
Caso o aluno não tenha sua matrícula proveniente dos períodos de transição do ensino (da EMEI para o Fundamental I; do Fundamental II para o Ensino Médio), também é necessário apresentar a declaração de escolaridade.
Atenção, a exigência de alguns dos documentos citados anteriormente pode variar conforme a instituição de ensino, sua região ou seu estado. Considerado isso, a falta de algum documento pode retardar o processo de matrícula ou até mesmo a procura de uma nova escola, caso a primeira opção não tenha vaga.
E se eu não conseguir vaga para meu filho numa escola estadual ou municipal, o que faço?
Não se desespere, pois seu filho terá uma vaga em alguma outra escola próxima de sua residência. Como já foi dito aqui, isso está previsto na Constituição.
Entretanto, algumas escolas alegam falta de vagas no momento da matrícula. Nesse caso, entre em contato com a Secretaria Municipal ou Estadual da Educação de sua região. Também é indicado consultar o Ministério Público ou a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão de seu estado.
Fonte:
Acessadas em 20 de fevereiro de 2014