Gaslighting: abuso psicológico que transcende, perigosamente, todos os gêneros
Gas Light 1944 |
O termo "gaslighting" tem ganhado destaque nas discussões sobre abuso psicológico, revelando uma dinâmica que transforma a percepção da realidade em um campo de batalha emocional. Originado do filme "Gas Light" (À Meia Luz, 1944), o conceito refere-se a uma manipulação tão intensa que a vítima é levada a duvidar de suas próprias experiências e sanidade.
No filme, um homem manipula sua esposa, tentando convencê-la de que suas percepções estão erradas. Ele faz isso, por exemplo, ao diminuir a intensidade das luzes a gás em sua casa, negando que isso realmente aconteça. O comportamento do protagonista exemplifica como um parceiro pode distorcer a realidade a tal ponto que a outra pessoa se torna uma sombra de si mesma, perdida em suas próprias inseguranças.
Prática perniciosa
A prática de gaslighting se traduz na manipulação de informações, frequentemente manifestando-se em frases como "você está louca!", "você está inventando isso" ou "não aconteceu isso". Esses enunciados têm o poder de corroer a autoconfiança da vítima, levando não apenas as mulheres, mas também muitos homens a se sentirem impotentes diante de um relacionamento que deveria ser de apoio e compreensão.
Embora a conversa em torno do gaslighting frequentemente gire em torno do abuso de homens contra mulheres, é crucial reconhecer que os homens também podem ser vítimas desse comportamento manipulativo. As consequências psicológicas são devastadoras, levando à perda de autoestima e à dúvida sobre a própria sanidade.
No dicionário
O dramaturgo britânico Patrick Hamilton, ao escrever a peça "Gas Light" em 1938, talvez não pudesse prever a relevância do termo no século XXI, onde a manipulação da verdade se torna cada vez mais comum, especialmente nas redes sociais e na mídia. Em um mundo repleto de desinformação e manipulações digitais, o gaslighting surge como uma prática alarmante que deve ser combatida.
Segundo Peter Sokolowski, editor do Merriam-Webster - dicionário online de termos populares - a busca por "gaslighting", detectada no final de 2022, não foi impulsionada por eventos específicos, mas reflete uma preocupação contínua com a manipulação psicológica nas relações humanas.
Abuso hitec
A "terceira faixa" sonora, uma evolução do sussurro ou do cochicho, representa uma forma insidiosa de manipulação psicológica, muitas vezes utilizada por abusadores que praticam gaslighting. Nessa dinâmica, o agressor insinua ou sussurra palavras que minam a confiança da vítima e, em seguida, nega que tenha falado algo, criando confusão e desorientação.
Essa técnica é uma forma de bullying psicológico que não apenas brinca com a sanidade das pessoas, mas também as empurra para a dúvida constante sobre a própria percepção da realidade. Para quem enfrenta essa situação, uma dica prática é tapar os ouvidos; isso pode ajudar a discernir se as "vozes de comando" ou "zoações" são fruto da própria mente ou de uma manipulação externa, uma orientação que recebi de uma fonte na polícia técnica.
Hoje, essa forma de abuso é potencializada pela tecnologia. Equipamentos como caixas de som Bluetooth e aparelhos celulares podem ser conectados a outros dispositivos, permitindo que agressores dispersem sons e mensagens de maneira discreta e invasiva. Isso torna a manipulação ainda mais eficaz e difícil de identificar, uma vez que os sons podem parecer oriundos do ambiente, confundindo ainda mais a vítima.
A facilidade de uso dessas tecnologias transforma o sussurro em um ataque psicológico contínuo, desafiando a saúde mental e a percepção da realidade de quem sofre essa forma de abuso.Pesquisas sobre o termo têm aumentado constantemente, indicando um crescente reconhecimento dos efeitos perniciosos dessa forma de abuso.
Desprodução do cenário
A peça de Hamilton, ambientada na Londres vitoriana, retrata um casal cuja relação é marcada por mentiras e manipulações. O personagem masculino, Jack Manningham, busca desestabilizar a esposa, Bella, ao afirmar que suas percepções são meras invenções. Esse enredo revela não apenas a crueldade do gaslighting, mas também a fragilidade das relações humanas quando a confiança é corroída.
Desde 1944 muita coisa mudou e hoje esses abusos não vitimizam apenas as mulheres, embora infelizmente elas ainda sejam a maioria a ser vítima de abuso psicológico nojento. Os relacionamentos tóxicos hoje se estendem a todos os gêneros e com a revolução tecnológica, infortunadamente também transcendem as paredes e muros do lar, chegando às ruas e até ao trabalho das pessoas.
A manipulação psicológica, embora frequentemente associada a uma dinâmica de gênero específica, transcende essas fronteiras. Reconhecer os homens como vítimas é um passo fundamental para uma compreensão mais ampla do fenômeno do gaslighting e suas consequências, bem como à real igualdade de gêneros.
Diante desse cenário, a sociedade deve se unir para desmantelar as estruturas que permitem a perpetuação do gaslighting, promovendo um ambiente de apoio e entendimento que possibilite a cura e a restauração da confiança nas relações interpessoais. Somos todos um em ressonância com o Universo.
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