Translate

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Corremos risco de bolha no setor imobiliário? E bolha no crédito, mito ou fato?

Conceitualmente, uma bolha é um evento especulativo e se origina em um mercado em que a contínua entrada de participantes sustenta a cotação de seus ativos, na maior parte dos casos sem lastro.

Será que o Brasil vive risco de bolha no mercado imobiliário? E uma bolha de crédito poderia ameaçar o equilíbrio do nosso sistema financeiro? Vale a pena conferir o que se segue, e cada qual que tire suas própria conclusões... no momento não me encaixo em perfil de investidor, quem me dera, mas moro de aluguel e vejo o sonho da casa própria afetado pela febre especulativa que vivemos no setor imobiliário. Em 2002 concluí o curso de Técnico em Transações Imobiliárias, pelo Sindimóveis Rio, durante o curso fiz 500 horas de estágio supervisionado e realizei em torno de 1500 horas de prática profissional, junto ao departamento de internet de uma conceituada imobiliária carioca. Só quem trabalha ou já trabalhou no setor, aqui no Rio de Janeiro, sabe a dificuldade que é vender imóveis supervalorizados, com avaliação acima dos valores reais de mercado.

O jornal odiario.com, em matéria de 26/06/11, intitulada: 'O Brasil está vivendo uma bolha imobiliária?', conclui, em notícia de sua edição online, que: 'Sem dúvida a pujança do momento atual desperta a dúvida sobre uma bolha imobiliária no Brasil, mas os fundamentos da economia, bem como seus indicadores, não corroboram tal tese. Devido aos fatores listados acima, acrescido da Copa do Mundo, Olimpíadas e exploração do pré-sal, tornam o Brasil uma das “bolas da vez” no mundo. Não vejo espaço para uma súbita queda dos preços antes das Olimpíadas (2016), mas após tal período, algumas microrregiões de São Paulo e principalmente Rio de Janeiro podem sim experimentar uma recessão pontual. Em suma, creio sim em eventuais microbolhas, infladas pela ganância dos participantes do setor, mas, em termos de Brasil, essa bolha ainda está muito murcha.'

Contudo aumenta o número de venda de imóveis para estrangeiros no Rio de Janeiro. Segundo o jornal O Globo, ‘o volume de negociações nas imobiliárias disparou. Na Sotheby’s International Realty, braço imobiliário da casa de leilões inglesa, as vendas devem quadruplicar até o fim do ano, chegando a R$ 400 milhões no país. Já na Bamberg Imóveis o faturamento dos negócios com estrangeiros dobrou no ano passado, quando chegou a R$ 12 milhões, valor que deve novamente crescer 100% este ano. Especializada em imóveis de alto luxo, a Judice & Araujo (J&A) fechou R$ 25 milhões em vendas no estado do Rio para clientes internacionais de janeiro a maio, alta de 150% sobre igual período de 2010.’

Já de acordo com matéria do jornal O Estado de S. Paulo, em matéria de 27/06/2011, divulgada por Época Negócios, ‘o endividamento do brasileiro atingiu nível recorde. A dívida total das famílias no cartão de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, crédito para compra de veículos e imóveis, incluindo recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), corresponde a 40% da massa anual de rendimentos do trabalho e dos benefícios pagos pela Previdência Social no País, aponta um estudo da LCA Consultores’, ao qual o jornal paulista teve acesso.

Outro fato que deve ser levado em conta é que o mega-especulador internacional, Sam Zell, está deixando o mercado imobiliário brasileiro. Nas vésperas do estouro da bolha no mercado norte-americano, em 2007, Zell vendeu sua principal empresa, a Equity Office Properties, por US$ 38 bilhões, para o fundo Blackstone. Aqui em nosso país, acredito que pelo fato de a valorização ter chegado a um teto máximo de supervalorização, do qual agora só tende a acompanhar a inflação e altas de preço naturais, o mercado imobiliário brasileiro deixou de despertar o interesse do bilionário americano. Ele não é bobo, fez fortuna negociando imóveis e empresas do setor imobiliário, e por isso, agora ele está saindo dos investimentos que começou a fazer no Brasil em 2005. Confira na postagem do Blog do Imóvel, de 23/01/2011: 'Sam Zell vende brasileiras e infla boatos da bolha'.

Copa e Olimpíadas não garantem nada, até às vésperas destes mega-eventos o investimento é pesado, mas cessa com a conclusão das obras. Aí me pergunto, com os gastos estratosféricos, será que os lucros vão pagar a conta. Se der prejuízo será que ao menos o legado valerá a pena? O otimismo sobre estes eventos é grande, entretanto ter os pés no chão é importante. O fato é que hoje a 'África sofre com elefantes brancos', também é constatação que deve ser avaliada - não se trata de pessimismo e sim de realidade - é lembrar  a história e o legado dos jogos de Atenas, que custaram aproximadamente US$ 14 bilhões e deram tanto prejuízo que até hoje ainda há contas a pagar, 'num total equivalente a US$ 70.000 por família, de acordo com uma estimativa do jornal britânico The Independent. Só em 2006 os moradores de Montreal terminaram finalmente de pagar um total de US$ 1 bilhão de custos incorridos com os jogos de 1976.'

Qualquer investimento ganancioso, especulativo, é sempre arriscado. Neste 2011, até agora a bolsa de valores de São Paulo já acumula uma perda anual em torno de 13%. Enquanto isso a especulação imobiliária corre solta, desregulada e com fiscalização pífia nas principais capitais do Brasil. Estrangeiros compram imóveis aqui, aproveitando a onda, mas e quando eles resolverem vender, como faz o Sam Zell, pra onde vai o dinheiro do 'lucro'? Todos sabemos que imóvel não garante liquidez imediata, uma transação imobiliária não é simples e ágil, depois de dado o sinal existem vários trâmites legais a serem cumpridos. Tem gente que precisa comprar para morar, e não pra especular, tem gente que precisa vender por motivo urgente e não consegue liquidez... todos estes estão encontrando dificuldade. Quem vive de aluguel também sofre com a onda especulativa do mercado imobiliário, pois os contratos novos estão sendo calculados em cima de valores de imóveis supervalorizados, com preços muitas vezes acima dos de mercado.

Acho que o governo deveria intervir, enquanto é tempo, no mercado imobiliário e acabar com a farra do crédito fácil. Toda medida seria válida para evitar que estoure esta possível bolha, que assombra os mercados financeiro e imobiliário, tudo em nome do cidadão e da cidadã que vêem o sonho da casa própria se distanciar com a especulação desenfreada, ao passo que se atolam em dívidas. Para quem deseja investir, aplicar aquele dinheiro que está parado ou rendendo pouco, acho que o recomendável no momento não é entrar no mercado imobiliário ou aplicações de risco como a bolsa. Por via das dúvidas parece ser mais seguro investir em letras do Tesouro Nacional (Tesouro Direto), uma aplicação conservadora, mas de risco irrisório, e satisfatóriamente rentável a longo prazo.

Deixei o mercado imobiliário em 2004, ganhei algum dinheiro, aprendi mais uma profissão, não me arrependo de ter trabalhado em imobiliária, realmente aprendi muito, inclusive que especulação não é de fato um bom negócio. Parece que realmente vale o velho ditado popular 'o que vem fácil, vai fácil...', e tenha certeza que viver de comissão não é nada fácil... Quem vive de especulação também não tem vida sossegada, tranquila, pois constantemente investe grandes somas e na mesma velocidade que ganha dinheiro sabe que também pode perder, todo especulador nada mais é que um jogador. Devemos ter sempre os pés no chão, olhos e ouvidos ligados na informação, muita calma e cuidado para não trocar os pés pelas mãos... Quanto ao Brasil, é bom cuidar, ficar de olhos e ouvidos bem abertos, tomar atitudes, para que de "bola da vez", não se torne a "bolha da vez". Se jogo é vício, especulação é uma droga. Basta dizer não!

Nenhum comentário: