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segunda-feira, 13 de junho de 2011

Manifesto Hacker: de Anonymous para OTAN

Foi publicado no jornal Estadão, edição de 13 de junho de 2011, a íntegra da carta que o grupo hacker Anonymous escreveu em resposta ao texto da Organização do Tratado do Atlântico Norte, em que a OTAN fala sobre como “A revolução de informação atualmente em curso apresenta uma série de desafios políticos, culturais, econômicos e de até de segurança nacional”.

No texto, a Organização declara abertamente os hackerativistas do Anonymous como uma ameaça – pois o grupo “está cada vez mais sofisticado e poderia invadir arquivos delicados do governo, de militares e de empresas” – e cita casos em que o coletivo hacker provou sua força: a derrubada dos sistemas de empresas como Visa, Mastercard, PayPal e Amazon, que de alguma forma prejudicaram o site WikiLeaks quando pressionados, e a invasão dos servidores da empresa de tecnologia de segurança HBGary, que vende produtos para o governo norte-americano

Na sexta-feira, 10, mesmo dia em que a polícia espanhola afirmou que ter desarticulado a cúpula do grupo após uma série de prisões, o Anonymous respondeu à OTAN com uma carta aberta:

'Saudações membros da OTAN. Nós somos Anonymous'

Em uma recente publicação, vocês destacaram o Anonymous como ameaça ao ‘governo e ao povo’. Vocês também alegaram que sigilo é ‘um mal necessário’ e que transparência nem sempre é o caminho certo a seguir.

O Anonymous gostaria de lembrá-los que o governo e o povo são, ao contrário do que dizem os supostos fundamentos da ‘democracia’, entidades distintas com objetivos e desejos conflitantes, às vezes. A posição do Anonymous é a de que, quando há um conflito de interesses entre o governo e as pessoas, é a vontade do povo que deve prevalecer. A única ameaça que a transparência oferece aos governos é a ameaça da capacidade de os governos agirem de uma forma que as pessoas discordariam, sem ter que arcar com as consequências democráticas e a responsabilização por tal comportamento.

Seu próprio relatório cita um perfeito exemplo disso, o ataque do Anonymous à HBGary (empresa de tecnologia ligada ao governo norte-americano). Se a HBGary estava agindo em nome da segurança ou do ganho militar é irrelevante – suas ações foram ilegais e moralmente repreensíveis. O Anonymous não aceita que o governo e/ou os militares tenham o direito de estar acima da lei e de usar o falso clichê da ‘segurança nacional’ para justificar atividades ilegais e enganosas.

Se o governo deve quebrar as leis, ele deve também estar disposto a aceitar as consequências democráticas disso nas urnas. Nós não aceitamos o atual status quo em que um governo pode contar uma história para o povo e outra em particular. Desonestidade e sigilo comprometem completamente o conceito de auto governo. Como as pessoas podem julgar em quem votar se elas não estiverem completamente conscientes de quais políticas os políticos estão realmente seguindo?

Quando um governo é eleito, ele se diz ‘representante’ da nação que governa. Isso significa, essencialmente, que as ações de um governo não são as ações das pessoas do governo, mas que são ações tomadas em nome de cada cidadão daquele país. É inaceitável uma situação em que as pessoas estão, em muitos casos, totalmente não cientes do que está sendo dito e feito em seu nome – por trás de portas fechadas

Anonymous e Wikileaks são entidades distintas. As ações do Anonymous não tiveram ajuda nem foram requisitadas pelo WikiLeaks. No entanto, Anonymous e WikiLeaks compartilham um atributo comum: eles não são uma ameaça a organização alguma – a menos que tal organização esteja fazendo alguma coisa errada e tentando fugir dela.

Nós não desejamos ameaçar o jeito de viver de ninguém. Nós não desejamos ditar nada a ninguém. Nós não desejamos aterrorizar qualquer nação.

Nós apenas queremos tirar o poder investido e dá-lo de volta ao povo – que, em uma democracia, nunca deveria ter perdido isso, em primeiro lugar.

O governo faz a lei. Isso não dá a eles o direito de violá-las. Se o governo não estava fazendo nada clandestinamente ou ilegal, não haveria nada ‘embaraçoso’ sobre as revelações do WikiLeaks, nem deveria haver um escândalo vindo da HBGary. Os escândalos resultantes não foram um resultado das revelações do Anonymous ou do WikiLeaks, eles foram um resultado do conteúdo dessas revelações. E a responsabilidade pelo conteúdo deve recair somente na porta dos políticos que, como qualquer entidade corrupta, ingenuinamente acreditam que estão acima da lei e que não seriam pegos.

Muitos comentários do governo e das empresas estão sendo dedicados a “como eles podem evitar tais vazamentos no futuro”. Tais recomendações vão desde melhorar a segurança, até baixar os níveis de autorização de acesso a informações; desde de penas mais duras para os denunciantes, até a censura à imprensa.

Nossa mensagem é simples: não mintam para o povo e vocês não terão que se preocupar sobre suas mentiras serem expostas. Não façam acordos corruptos que vocês não terão que se preocupar sobre sua corrupção sendo desnudada. Não violem as regras e vocês não terão que se preocupar com os apuros que enfrentarão por causa disso.

Não tentem consertar suas duas caras escondendo uma delas. Em vez disso, tentem ter só um rosto – um honesto, aberto e democrático.

Vocês sabem que vocês não nos temem porque somos uma ameaça para a sociedade. Vocês nos temem porque nós somos uma ameaça à hierarquia estabelecida. O Anonymous vem provando nos últimos que uma hierarquia não é necessária para se atingir o progresso – talvez o que vocês realmente temam em nós seja a percepção de sua própria irrelevância em uma era em que a dependência em vocês foi superada. Seu verdadeiro terror não está em um coletivo de ativistas, mas no fato de que vocês e tudo aquilo que vocês defendem, pelas mudanças e pelo avanço da tecnologia, são, agora, necessidades excedentes.

Finalmente, não cometam o erro de desafiar o Anonymous. Não cometam o erro de acreditar que vocês podem cortar a cabeça de uma cobra decapitada. Se você corta uma cabeça da Hidra, dez outras cabeças irão crescer em seu lugar. Se você cortar um Anon, dez outros irão se juntar a nós por pura raiva de vocês atropelarem que se coloca contra vocês.

Sua única chance de enfrentar o movimento que une todos nós é aceitá-lo. Esse não é mais o seu mundo. É nosso mundo – o mundo do povo.

Somos o Anonymous.
Somos uma legião.
Não perdoamos.
Não esquecemos.
Esperem por nós…

Meu comentário:

Agora entendo porque até o Vaticano está na defesa dos hackers, eles são a voz do povo e a voz do povo é a voz de Deus. As pessoas se assustam porque fazem na cabeça delas uma confusão, proposital penso, entre hackers, crackers, estelionatários digitais, redes de pedófilos, etc. Na verdade os hackers são apenas populares, com conhecimentos avançados de tecnologia, que usam a rede para fazer o que dizem em seu manifesto.

A sociedade conectada está invertendo a pirâmide e hoje quem manda somos nós, cidadãos e cidadãs da aldeia global, todos conectados em rede. O povo manda! Vivemos uma revolução (social) dentro da revolução (tecnológica) e se a Revolução Industrial escravizou, a Revolução Tecnológica está libertando.

Vivemos na Era da Informação e do Conhecimento, as mudanças estão acontecendo e não há como adiar, o momento é agora. Está na hora de esquecermos estruturas de poder falidas, sistemas financeiros injustos e qualquer forma de poder obscura que não traga em sí o verdadeiro espírito da democracia e da liberdade. Vamos esquecer preconceitos, romper com velhos paradigmas e promover a mudança, de dentro para fora, partindo de cada um para todos e de todos para um.

Particularmente acho que o ciberativismo é mais eficiente que o hackerativismo, pois o primeiro é uma forma legítima de manifestação democrática da liberdade de expressão, enquanto o segundo usa métodos pouco ortodóxos, parecidos até com os mesmos usados pelo alvo de suas ações. Acredito na política e no poder de reforma e renovação através do voto. Apenas precisamos dedicar, regularmente, um pouco de nosso tempo para compartilhar informação, idéias, propostas, fazer debates em rede para promover mudanças.

Devemos aprender juntos como usar a tecnologia para promover as mudanças que queremos e precisamos, sem agressão, usando o conhecimento, a informação, a resistência não violenta, a transparência e a verdade como ferramentas. A Internet é apenas o nosso meio.

É tempo de evoluir! Junte-se aos bons!

"Quem não pode fazer grande coisa, faça ao menos o que estiver na medida de suas forças; certamente não ficará sem recompensa." ~Santo Antonio de Pádua

"Satyagraha - a força do espírito - não depende do número; depende do grau de firmeza." ~Mahatma Gandhi

"Se você quiser ser um buscador da verdade real, é necessário que pelo menos uma vez na sua vida você duvide, na medida do possível, de todas as coisas." ~René Descartes

"O fracasso quebra as almas pequenas e engrandece as grandes, assim como o vento apaga a vela e atiça o fogo da floresta." ~Benjamim Franklin

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