Admirável mundo novo: até quando uma ficção?
"Admirável mundo novo: a proximidade cada vez maior das ficções com o mundo real. Nosso destino se assemelhará à distopia de Aldous Huxley? Um dos critérios de caracterizar um livro como “clássico” baseia-se no fato de suas ideias nunca envelhecerem. Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley em 1932, é um deles. Suas mensagens mantém-se atuais, assim como outros clássicos de autores contemporâneos, como 1984, A Revolta de Atlas e A Revolução dos Bichos.
O livro narra uma sociedade planejada e construída para o bem coletivo. Uma sociedade que molda as pessoas desde antes de seu nascimento e por toda sua infância, com o objetivo de definir antecipadamente seus papéis internos determinados pelas suas castas sociais.
Essa moldagem resulta em uma conformação mental generalizada de seus direitos e deveres, garantindo ao controle estatal a manutenção da ordem social, sem quaisquer ameaças de protestos. É um resultado clássico onde a personalidade não é própria, individual, mas uma personalidade representante de um coletivo.
Não há liberdade de pensamento. Não há estímulos para se pensar diferente. A ojeriza à literatura, disponibilizada apenas para determinadas castas, é construída através de condicionamento das crianças através de choques elétricos cada vez que tocam nos livros (lembra muito o proselitismo recente contra o hábito de leitura por um ex-presidente, uma de suas grandes contribuições para a atual idiocracia que vivemos).
Um leve pensamento crítico, manifestado por um dos protagonistas, é motivo de chacota e ameaças concretas, assim como ocorre hoje nos casos de tentativa de censura e desqualificações sem argumentos promovidos pelo JEG*. A falta deste pensamento crítico na distopia de Huxley é uma das perdas da condição de humanidade dos cidadãos. O admirável mundo novo não seria tão admirável assim.
Uma das defesas dos ideólogos dessa sociedade é a proclamação da felicidade geral. Mas como uma ideia da felicidade pode ser construída sob os pilares da mentira? A droga “soma”, distribuída pelo governo, mantém a população despreocupada e feliz, reprimindo o pensamento independente e compelindo as pessoas a aceitarem e acreditarem na realidade existente.
Pensamentos independentes seriam ameaças extremas à manutenção da sociedade. Quanto tempo falta para criarmos um índice de felicidade em nosso país? Qual seria a nota dada para este índice pelo Cypher, do filme Matrix, que dizia que a ignorância pode ser uma benção?
A inexistência de responsabilidade pelas suas escolhas também pode ser uma benção. No admirável mundo novo de Huxley não havia necessidade de preocupações, pois as ações eram dirigidas para a eliminação do imprevisível da vida social e para o hedonismo. Liberdades sexuais e a inexistência da instituição familiar propiciavam o alardeamento da ideia de que o mundo onde se vive é perfeito, uma utopia.
Você não é você. Você é uma classe, um coletivo, uma raça, uma minoria. O Brasil pontuações extremas nesse tema, na medida que negros, LGBTs, índios e companhia já não podem pensar por si próprios como ser humano, mas sim como pertencente a uma casta. Joaquim Barbosa que o diga, após ser difamado pela mídia chapa branca porque seu julgamento pessoal “deu as costas” para sua “raça”, como se nisso houvesse algum sentido**. E quando não houver mais excluídos, o processo de criação ocorre novamente.
O livro, entretanto, deixa um viés de que o desenvolvimento tecnológico pode ser usado para calar a liberdade. Entendo porém, que é justamente a tecnologia que está, aos poucos, nos libertando das ideologias nocivas incorporadas na nossa mente através da Revolução Gramsciana, em função desse grande canal de comunicação mundial denominado internet.
Sem ele, governos e grupos econômicos vivendo em simbiose - dependendo do local tendendo ao comensalismo ou parasitismo, já teriam dado passos mais largos para a construção dessa sociedade coletivizada. O que não impediu, entretanto, que nosso país tenha regredido várias casas nos últimos anos. Precisamos acordar logo! E tornar o mundo novo, futuro, realmente admirável."
“A ditadura perfeita terá as aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão.” – Aldous Huxley
*JEG: Jornalismo da Esgotosfera Governista
** Decidiu aposentar-se precocemente da presidência do STF em funções de ameaças que vinha recebendo
Huxley, Aldous
Uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios científicos, na qual a mera menção das antiquadas palavras “pai” e “mãe” produzem repugnância. Um mundo de pessoas programadas em laboratório, e adestradas para cumprir seu papel numa sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento.
Um mundo no qual a literatura, a música e o cinema só têm a função de solidificar o espírito de conformismo.
Um universo que louva o avanço da técnica, a linha de montagem, a produção em série, a uniformidade, e que idolatra Henry Ford.
Essa é a visão desenvolvida no clarividente romance distópico de Aldous Huxley, que ao lado de 1984, de George Orwell, constituem os exemplos mais marcantes, na esfera literária, da tematização de estados autoritários.
Essa é a visão desenvolvida no clarividente romance distópico de Aldous Huxley, que ao lado de 1984, de George Orwell, constituem os exemplos mais marcantes, na esfera literária, da tematização de estados autoritários.
Se o livro de Orwell criticava acidamente os governos totalitários de esquerda e de direita, o terror do stalinismo e a barbárie do nazifascismo, em Huxley o objeto é a sociedade capitalista, industrial e tecnológica, em que a racionalidade se tornou a nova religião, em que a ciência é o novo ídolo, um mundo no qual a experiência do sujeito não parece mais fazer nenhum sentido, e no qual a obra de Shakespeare adquire tons revolucionários.
Entretanto, o moderno clássico de Huxley não é um mero exercício de futurismo ou de ficção científica. Trata-se, o que é mais grave, de um olhar agudo acerca das potencialidades autoritárias do próprio mundo em que vivemos.
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