Cresci num meio onde fui deseducado e aprendi com essa deseducação a nãogostar de política e achar quem gosta um chato. Mas aos poucos fui percebendo que havia alguma coisa errada, comecei a perceber a política em cada evento da minha vida, cada ação, cada frase, cada momento por mais único que fosse tinha certa dose de política embutida.
Pensei então, como pode ser assim? Porque vivo num mundo onde as pessoas, em sua grande maioria, pensam como eu e não gostam de política? Mas ao mesmo tempo nos deixamos ser representados por pessoas que NÃO NOS REPRESENTAM?
Comecei a me interessar mais sobre o assunto, passei a ler e a discutir política mais intensamente para que ao menos conseguisse ter uma visão um pouco melhor da realidade em que vivo e não me deixasse ser levado tão facilmente por opiniões dos outros... Passei a julgar muito importante ter uma visão própria das coisas, com fundamentos e base para minhas ideologias. Mas por outro lado, quanto mais eu lia e aprendia sobre política mais me envergonhava de fazer parte desse sistema de poder e dessa forma de se fazer política.
Como diz meu recente amigo Bruno Cava, "a política hoje em dia é feita quase que com vergonha." Passei a perceber também que isso não é um problema da minha cidade, estado ou país e sim um problema global. Numa sociedade de consumo, aonde modas, tendências, ideologias e informação vêm todas de uma mesma caixinha com antenas passei a entender o quanto somos levados a propagar o ócio mental... o quanto somos levados a não pensar, não opinar, não questionar e aceitar.
Hoje tenho opiniões diferentes das que tinha antigamente, vejo como um problema gravíssimo que pessoas se mantenham nesse estado de torpor acéfalo e mantenham da sua rotina essa vida de prostração. Pior ainda é ver que muitas pessoas que conheço têm consciência desse problema, mas continuam apenas seguindo o fluxo, indo com a maré, garantindo o seu e vendo no que dá.
Se colocar no lugar dos outros realmente é muito difícil, mais fácil é olhar para o umbigo, para o prato cheio na mesa e para a televisão ligada na sala e pensar: "comigo tá tudo bem graças a deus... não faço parte dos que se fodem". (sic)
Se colocar no lugar dos outros realmente é muito difícil, mais fácil é olhar para o umbigo, para o prato cheio na mesa e para a televisão ligada na sala e pensar: "comigo tá tudo bem graças a deus... não faço parte dos que se fodem". (sic)
Olhar para o umbigo é fácil e cômodo, quase uma osmose... talvez porque ao nos colocar na pele dos outros, seja muito mais fácil enxergar nossos próprios monstros e o medo de lidar com eles nos faz recuar. Nada melhor do que uma televisão depois do trabalho para tirar todo o stress do dia e esvaziar a cabeça dos problemas. O que muitos não percebem é que esvaziar a cabeça é fugir e que os problemas continuarão existindo enquanto nossa atitude for essa.
É difícil sair da rotina, é cansativo lutar pelos seus ideais, é exaustivo correr atrás das coisas, mas é vergonhoso olhar para os problemas, virar a cara e tentar esquecê-los. É vergonhoso continuar sentado na frente do computador ou da televisão enquanto lá fora está tudo errado. Fazer e discutir política não é necessariamente tomar um partido, nem mesmo criar um partido ou se afiliar a um. Fazer política é se relacionar é trocar idéias, pensar e agir.
Praticamente todos vêem aonde o nosso modo de fazer política atual está nos levando, mas por que tão poucos se levantam pra falar e agir? Por que tantas pessoas se conformam com a posição de espectador e deixam os outros escreverem a sua história? Essa é uma pergunta que eu não acredito que haja uma resposta, acredito que sejam muitas, uma para cada um de nossos monstros. Por isso escolhi lidar com os meus.
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