Um dos buracos negros mais próximos da Terra voltou à vida com uma violência sem precedentes depois de mais de 25 anos de inatividade.
Esse monstro da Via Láctea está produzindo surtos poderosos de luz à medida que devora a estrela que o acompanha. O fenômeno é um dos mais violentos que já foram observados e está causando enorme alvoroço entre astrônomos profissionais e amadores.
É algo “que só se vê uma vez na vida”, explicou na quarta-feira ao Materia o cientista-chefe do telescópio espacial Integral, da Agência Espacial Europeia (ESA), Erik Kuulkers. Na tarde de 15 de junho, minutos depois de desembarcar em Madri, onde trabalha, Kuulkers viu o e-mail com o aviso enviado pelo telescópio espacial Swift, da NASA. Havia acontecido uma súbita explosão de raios gama e raios X na constelação Cygnus, ou do Cisne, onde se encontra o buraco negro.
Kuulkers dirigiu os olhos do Integral até esse ponto no céu, comprovou a existência da erupção exatamente naquele ponto e enviou novos alertas para a comunidade internacional. Poucos dias depois, “não há nenhum observatório no hemisfério norte, o único a partir do qual se pode observar esse buraco negro, que não esteja apontando para ele”, explica Teo Muñoz-Darias, um astrônomo do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC).
Kuulkers dirigiu os olhos do Integral até esse ponto no céu, comprovou a existência da erupção exatamente naquele ponto e enviou novos alertas para a comunidade internacional. Poucos dias depois, “não há nenhum observatório no hemisfério norte, o único a partir do qual se pode observar esse buraco negro, que não esteja apontando para ele”, explica Teo Muñoz-Darias, um astrônomo do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC).
“Esse buraco já se tornou a mais poderosa fonte de raios X que pode ser observada no céu e, se não fosse pela poluição provocada pela poeira que há entre nós, seria possível observá-lo da Terra a olho nu”, enfatiza. Sua luminosidade é cerca de 50 vezes superior à da Nebulosa do Caranguejo, que costuma ser um dos objetos mais brilhantes no céu noturno em altas energias, explicou a ESA. Um pequeno telescópio amador é suficiente para ver o forte clarão que durará “dois ou três meses”, segundo os dois especialistas.
O V404 Cygni é um sistema binário composto por um buraco negro que possui cerca de 12 vezes a massa do Sol e pela estrela que orbita em torno dele, ligeiramente menor que o nosso astro. Está a 8.000 anos-luz, o que faz dele um dos dois buracos negros mais próximos da Terra. Agora que voltou à atividade, também é o mais brilhante de forma esporádica, de acordo com Kuulkers. Essas duas características fazem dele um fenômeno “único, que certamente aparecerá nos livros didáticos”, ressalta Muñoz-Darias.
Ambos os especialistas estão em Tenerife para participar da Semana Europeia de Astronomia e Ciências Espaciais, que reúne 1.200 cientistas até sexta-feira. O súbito retorno à vida do V404 e seu estranho comportamento tornou-se um dos assuntos principais do encontro, o mais importante do gênero na Europa, como destacou nesta quinta-feira a Sociedade Espanhola de Astronomia. A página web do Astronomers Telegram, o diário de avisos mais popular entre os astrônomos, está agitada com dezenas de notificações nas quais o fenômeno é descrito no espectro óptico, de raios X, gama, rádio...
O Grande Telescópio das Canarias (GTC), o maior observatório óptico do mundo, é um dos instrumentos-chave para capturar o fenômeno em luz visível. “Na quarta-feira, 17 de junho, cinco horas depois de receber o alerta, já estávamos observando”, lembra Muñoz-Darias. Com seu espelho de mais de 10,4 metros, o GTC capta em detalhes as alterações da luminosidade do buraco. As observações indicam que os aumentos são bruscos, com altos e baixos que duram minutos ou horas, no máximo.
Trata-se de algo totalmente atípico, dizem os astrônomos, e o telescópio mostra ao vivo, com uma resolução sem precedentes, os dois comportamentos fundamentais desses corpos esquivos que engolem tudo ao seu redor, inclusive a luz. O primeiro é chamado de acreção. Durante décadas, a força gravitacional do buraco negro foi arrancando as camadas mais superficiais de sua estrela, que formaram um disco em torno dele. Agora esse material, acelerado até uma velocidade próxima à da luz, foi devorado depois de cruzar o horizonte do buraco negro. Esse processo está sincronizado com um segundo no qual, depois da comilança, o escoadouro literalmente cospe jatos de matéria pelos seus dois eixos de rotação.
Trata-se de algo totalmente atípico, dizem os astrônomos, e o telescópio mostra ao vivo, com uma resolução sem precedentes, os dois comportamentos fundamentais desses corpos esquivos que engolem tudo ao seu redor, inclusive a luz. O primeiro é chamado de acreção. Durante décadas, a força gravitacional do buraco negro foi arrancando as camadas mais superficiais de sua estrela, que formaram um disco em torno dele. Agora esse material, acelerado até uma velocidade próxima à da luz, foi devorado depois de cruzar o horizonte do buraco negro. Esse processo está sincronizado com um segundo no qual, depois da comilança, o escoadouro literalmente cospe jatos de matéria pelos seus dois eixos de rotação.
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